Apesar de as delegações ainda estarem chegando a Buenos Aires, realizou-se nessa terça-feira (17/08) a primeira seção de trabalho do 16º Encontro do Foro de São Paulo. Uma reunião ampliada do Grupo de Trabalho – corpo dirigente da entidade entre suas reuniões gerais – ocupou o salão principal do Hotel Panamericano, no centro da capital argentina.
Opera Mundi
Zelaya, ex-presidente de Honduras, na reunião do Foro de São Paulo
As representações presentes, distribuídas em mesas que formavam um quadrado, tinham sido chamadas para começar a discutir o documento final do encontro, que será aprovado até sexta-feira. Mas interromperam seus trabalhos para receber o ex-presidente de Honduras, Manuel Zelaya, derrubado por um golpe de Estado em junho do ano passado.
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De terno e gravata, mas sem seu famoso chapelão, o ex-mandatário foi aplaudido de pé por cerca de cem dirigentes da esquerda latino-americana. Não há mais registro de ideias conservadoras no discurso desse antigo fazendeiro que migrou para a esquerda durante seu tempo de palácio. “O terrível poder de conspiração do capitalismo financeiro se aplica de forma irrestrita e autoritária, abalando a participação democrática”, declarou Zelaya a seus ouvintes.
Mas seu principal foco foi o processo político em Honduras. Mel, como é popularmente conhecido, está proibido de voltar a seu país e vive na República Dominicana. “Continua a operação de repressão contra as forças de resistência”, denunciou ao Foro de São Paulo. “Os militantes progressistas continuam sendo presos e torturados, para impedir que a organização popular volte a ser protagonista.”
O ex-presidente hondurenho foi eleito em 2005, pelo Partido Liberal, depois de derrotar o atual chefe de Estado, Porfirio Pepe Lobo, do Partido Nacional. Considerado um homem de direita, Zelaya surpreendeu a todos quando começou a implementar medidas econômicas e sociais tradicionalmente consideradas de esquerda. Setores empresariais e agrários passaram rapidamente à oposição.
A gota d’água foi o ingresso de Honduras na Alba (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América), liderada pelo venezuelano Hugo Chávez. O pequeno país centro-americano se dividiu ao meio. Zelaya tentou aprovar plebiscito que lhe permitisse convocar uma Assembleia Constituinte, destinada a reformar o sistema político. Juízes, deputados e militares se uniram para derrubá-lo e expulsá-lo do país.
Três meses depois de desterrado a Costa Rica, voltou clandestinamente a Tegucigalpa e obteve refúgio na embaixada brasileira, de onde tentou liderar a resistência aos golpistas. Não obteve sucesso. Eleições organizadas pelo governo ilegal, mas previstas na Constituição, deram vitória a seu velho adversário Porfirio Lobo. Zelaya teve que sair novamente do país.
“Foi uma votação fraudada, menos de 30% dos eleitores participaram”, declarou o hondurenho aos dirigentes do Foro. “Não passou de uma operação para dar fachada de legalidade à usurpação e permitir reconhecimento internacional aos golpistas”. Seu ar é um pouco abatido: a suposta manobra, afinal, parece ter funcionado. Vários países reconheceram prontamente o novo governo. Incluindo o presidente Mauricio Funes, de El Salvador, filiado a um dos principais partidos do Foro, a Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional.
Zelaya agora trata de acumular novas forças. Organizações da esquerda hondurenha estão presentes em Buenos Aires para obter apoios de seus pares continentais. De fato, não faltaram palavras de simpatia ao ex-presidente. Mas é imprevisível se essa solidariedade terá peso para ajudá-lo a voltar à sua terra natal e a se reerguer como liderança política viável.
O que não lhe falta é determinação. “Estamos prontos para lutar contra a barbárie e as represálias com as quais tentam deter movimentos por mudanças”, afirmou em Buenos Aires. “Mais cedo ou mais tarde, porém, os golpistas e seus aliados serão derrotados.”
(texto atualizado às 19h21)
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