A Batalha das Termópilas, travada em agosto de 480 a. C., opôs uma aliança das cidades gregas ao Império Aquemênida. Foi um dos mais célebres feitos d’armas da Antiguidade. O exército grego – cerca de 7 mil soldados – tentou conter o exército persa do rei Xerxes I, que contava entre 70 mil e 300 mil homens, à entrada do desfiladeiro de Termópilas que dominava o acesso à Grécia central, ao longo do mar Egeu.
Em seguida a uma manobra de envolvimento a partir da retaguarda, a maioria dos gregos abandonaram a batalha e somente o contingente espartano, comandado pelo rei Leônidas I, bem como 700 soldados de Téspies, decidiram combater até o sacrifício, malgrado uma inferioridade numérica pronunciada, a fim de garantir aos gregos tempo de organizar sua defesa.
A coragem dos espartanos tornou-se legendária, passando a ser cultuada pela cultura popular. Esta batalha viria a ser um dos emblemas da resistência grega ao invasor, pois graças a ela – e apesar da tomada de Atenas pelos persas – os gregos puderam conservar sua independência, após seus triunfos em Salamina, em setembro de 480 a. C. e em Plateias em 479 a. C..
O “grande rei” persa, Xerxes, filho de Dario I, não queria sofrer uma nova derrota contra os gregos, como seu pai em Marathon, dez anos antes. Após quatro anos de preparação minuciosa, conseguiu reunir um exército considerável. A Grécia do Norte, aterrorizada, dobrou-se e se rendeu.
Segundo o célebre historiador Heródoto, as forças persas engajadas nas Guerras Médicas ultrapassavam os cinco milhões de homens. Um oficial britânico, Sir John Frederick Maurice, estimou que Heródoto confundiu-se com os termos persas “chiliarquia” (10.000) e “miriarquia” (1.000), avaliando as forças como sendo 10 vezes mais importante do que realmente eram. Em consequência, Maurice avaliou em cerca de 210 mil homens e 75 mil animais as forças persas presentes na Batalha das Termópilas.
Os preparativos persas não passaram despercebidos e um conjunto de distintas cidades gregas se reuniu no istmo de Corinto no fim do outono de 481 a. C.. Pelo menos uma vez os interesses imediatos de Esparta e Atenas se confundiram. Atenas temia a vingança dos persas pelas derrotas anteriores e Esparta constatava que sua grande rival no Peloponeso, Argos, fora contatada pelos enviados de Xerxes.
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“Leônidas nas Termópilas” (1814), obra do pintor francês Jacques-Louis David
Esparta, como a cidade mais poderosa, preside a reunião. Trinta e uma cidades prestam juramento e formam uma aliança defensiva contra os persas. O comando das tropas é confiado a dois espartanos, o rei Leônidas I para os soldados e Euribíade para a frota grega.
Contudo, durante o inverno 481-480 a. C., os gregos tergiversam sobre o plano de campanha e o atraso os impede de resistir à conquista da Tessália pelos persas na primavera.
Os persas invadem então a Pieria, uma posição defensiva muito forte nas Termópilas que dominava o acesso à Beócia e à Grécia Central. Quanto à frota, ela se instala em Artemision a fim de impedir que a esquadra persa contornasse a posição. Com efeito, os persas, para manter contato com sua frota, tinham de tomar a única rota importante que passa pelas Termópilas. Lá, entre o golfo de Mália e a montanha, o estreito dique passa por um desfiladeiro onde certas passagens não excedem de 20 metros de largura e é, ademais, interceptado pelos vestígios de um muro construído em zigue-zague.
As tropas de Xerxes movimentaram-se para o sul. Os soldados deixam a cidade de Terma, atravessam a Tessália, e chegam, 13 dias depois, na planície traquiniana. A frota persa zarpa 10 dias depois, a fim de que a chegada das forças terrestres e navais ocorra ao mesmo tempo. Euribíade, diante da amplitude da frota persa, deixa Artemision e beira o canal de Eubeia para ocupar o estreito de Chalcis, deixando Leônidas à mercê de um desembarque às suas costas.
Embora essa manobra não parecesse muito audaciosa, encoraja os persas a avançar mais ao sul que o previsto e a fundear no cabo Sepias, perto de uma costa rochosa e escarpada onde não poderiam rebocar seus navios para terra firme e onde a profundidade da água impedia numerosos navios de ancorar solidamente. Uma violenta tempestade de três dias iria destruir cerca de 400 barcos. Milhares de homens pereceram afogados. A principal consequência foi que Xerxes, ainda que mantendo a superioridade numérica, não mais estava em condições de dividir suas forças navais de maneira a escoltar o exército ao mesmo tempo combatendo a frota grega. Apesar da tempestade, a superioridade numérica persa era tão considerável que Euribíade e seu adjunto, o coríntio Adimantos, fazem meia-volta.
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Epitáfio comemorativo aos 300 espartanos mortos na Batalha das Termópilas: “Viajante, vá e diga aos espartanos que, obedientes a suas leis, aqui jazemos”
Foi então que Aquemenes, almirante da frota persa, destaca uma esquadra de 200 navios e cerca de 40 mil homens a fim de contornar a Eubeia por alto mar, enquanto o restante da frota se instalava no ancoradouro de Afetas, mais seguro que o do cabo Sepias. Prevenidos dessa diversão que impedia a fuga pelo canal de Eubeia ao sul, os gregos tentam um golpe de força e lançam um ataque surpresa sobre os jonianos, aliados dos persas, e afundam 30 navios antes de retomar seu ponto de reunião de Artemision. Uma nova tempestade irrompe e causa sérios danos à frota persa ancorada. Em Artemision, os gregos, como de hábito, arrastam os navios para terra firme e os colocam ao abrigo. A nova tempestade, com efeito, levou à destruição total da esquadra enviada para contornar a Eubeia.
Xerxes esperou quatro dias, pensando que os gregos tinham fugido de medo. Entretanto, no quinto dia, se deu conta, com estupor, que eles ainda lhe faziam frente.
Irritado, lança sobre eles uma parte de seu exército constituído de medas e cissianos que atacam os gregos frontalmente “com ordens expressas de levá-los vivos diante dele”. A batalha duraria, ao que parece, todo o dia. As tropas de Leônidas mantiveram sua posição em linha no desfiladeiro e rechaçaram os persas, infligindo-lhes pesadas perdas.
Xerxes decide enviar suas tropas de elite, os 10 mil melófores – ou “imortais”: quando um desses 10 mil é morto, outro o substitui, de modo que sejam sempre 10 mil – comandados por Hidarnes. Logo conheceriam da mesma sorte que seus aliados, deixando de se valer de sua superioridade numérica e menos bem armados que os gregos. Os espartanos fingem recuar a fim de atrair os “imortais” em sua perseguição, para em seguida retornar bruscamente e esmagá-los.
No dia seguinte, Xerxes lança um assalto maciço de infantaria, na suposição que os gregos estivessem esgotados e que, debilitados pelos ferimentos, não pudessem combater. Entretanto, as tropas imperiais não conseguiram melhor êxito que de véspera e se viram cortadas em pedaços, em parte porque os persas estavam desmoralizados pelos fracassos precedentes. Após essa derrota, Xerxes retira-se para a sua tenda de campanha para refletir e começar tudo de novo.
À noite, porém, Leônidas é traído por Efialtes, filho de Euridemo, um cidadão de Malídia que abre aos persas o jeito de contornar o exército grego, pela senda de Anopeia. Este caminho era defendido por apenas mil soldados de Fócide que recuam quando os persas chegam. Leônidas decide então se sacrificar com seus 300 hoplitas espartanos, assim como 700 soldados de Tespis, 700 lacedemônios não-espartanos e 400 tebanos, a fim de dar tempo aos gregos de organizar sua defesa e de se retirar em ordem.
De manhã, os espartanos e seus aliados tebanos e tespianos surgem sozinhos diante dos persas. Os demais aliados conseguiram fugir do desfiladeiro antes que as tropas persas aparecessem.
Segundo Heródoto, os gregos mudaram de estratégia e avançaram para a área mais larga das Termópilas. Resistiram em torno do rei espartano Leônidas, que é morto. Os espartanos combatem sem descanso e conseguem, ao repelir os assaltos persas, recuperá-las. Sua inferioridade numérica é acrescida com a chegada de tropas persas conduzidas por Efialtes e Hidarnes. Recuam com as poucas armas restantes para o monte Kolonos, mas a intervenção persa lhes é fatal e são todos massacrados, sob ordens de Xerxes. Os tebanos desertam e se juntam aos persas, que os perdoam. Ao final da batalha, Xerxes ordena que se decapite Leônidas e coloque sua cabeça na ponta de uma estaca.
De acordo com Diodoro da Sicília, os espartanos atacaram o campo persa durante a noite. Atemorizam os persas e semeiam o pânico. Contudo, as tropas imperiais se recompõem e logo todos os gregos são mortos.
Esta batalha tornou-se o símbolo da resistência grega ao invasor e do espírito de sacrifício dos espartanos. No topo do Kolonos, teatro da última resistência espartana, sobre o qual foi erigido um mausoléu, uma inscrição do poeta Simonide de Ceos comemora a saga espartana.