Banco de sementes selecionado: fazendeiros independentes e espécies não-patenteadas sem alteração genética
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Sementes. Geralmente baratas, fáceis de adquirir e quase sempre ignoradas. Mas para muitos, elas podem ser também o pilar de uma economia pós-apocalíptica.
“Sementes são mais valiosas que armas e munição. Uma bala talvez não sirva para a sua arma, mas as minhas sementes vão alimentar a sua família”, preconiza Lucinda Bailey, que também atende pelo epíteto de Senhora das Sementes. Sua missão: armar com baldes de sementes os norte-americanos que querem estar preparados para a chegada do caos. Seus “kits de sobrevivência” vêm carregados com até dez quilos de mais de 80 variedades de sementes.
A maior parte de seus clientes se enquadra no grupo dos chamados preppers, uma “subcultura de cidadãos que se prepara para o colapso da civilização”, seja ele uma pane completa na economia, um desastre ambiental, ou algo pior. Diante da iminência do “fim do mundo como conhecemos” (em inglês, the end of the world as we know it), os precavidos creem que possuir um punhado de sementes é essencial já que, além de servir como moeda de troca, os grãos podem dar origem a um rico jardim que continue abastecendo a mesa de jantar da família.
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Jim Rawles, o “papa dos preppers”, autor de inúmeros manuais de sobrevivência e fundador do site SurvivalBlog.com, um dos mais acessados sobre o tema, acredita na importância das sementes. Mas ressalva: elas, sozinhas, não farão a diferença. “O erro que a maioria comete é comprar uma lata de sementes, guardá-la na prateleira e pressupor que se transformou no mestre dos jardineiros”, diz Rawles ao site Modern Farmer. “Os mais espertos”, continua ele, “guardam algumas para o futuro, mas já começam a cultivar; essas plantas vão gerar mais sementes”.
Para passar a fazer parte do “banco de sementes” de Bailey e da sua empresa Texas Ready, os grãos passam por uma seleção. Ela só compra de fazendeiros individuais e independentes do “sistema Monsanto de produção”, que cobra royalties dos produtores num esquema que os obriga a recomprar sementes híbridas ano após ano. Na contramão, suas sementes são de espécies não-patenteadas, de domínio público e sem quaisquer alterações genéticas.
Fora a paranoia dos preppers e o temor de que o governo ou as grandes empresas controlem os rumos da agropecuária, o marketing das sementes está em oferecer meios descentralizados de produção de alimentos. “A maioria dos meus clientes quer maneiras mais independentes e livres de fazer a própria comida”, diz John Barlow, dono da empresa Survival Seed Bank. “Armas, moeda e comida são sinônimo de poder, sua produção deveria estar dispersa na sociedade, e não concentrada”.
Mas enquanto o estado hobbesiano de anarquia ainda não exige “hortas de emergência” como item de primeira necessidade, os preppers olham algumas décadas para trás e lamentam que as habilidades de jardinagem tenham sido enterradas com seus avós. Durante a 2ª Guerra Mundial, as pessoas cultivavam os Jardins da Vitória para alimentar a família e demonstrar o apoio aos Estados Unidos. Hoje, os Jardins da Sobrevivência são vistos como paranoicos e representam a falta de confiança no governo.