Rodeada de renúncias, acusações e tensões com o Vaticano, a Igreja Católica chilena vive, em 2018, sua pior crise institucional. O caso teve início em janeiro, quando o papa Francisco, em visita ao Chile, negou que o bispo de Osorno, Juan Barros, teria acobertado abusos sexuais cometidos pelo sacerdote Fernando Karadima.
Na ocasião, o pontífice negou a existência de provas contra Barros, chamando a acusação de “calúnia”.
Em abril, após enfrentar críticas de vítimas de Karadima, o papa voltou atrás, reconhecendo o erro e falando da “dor e vergonha” pela situação envolvendo representantes católicos. Até aquele momento, a Justiça já contava com o depoimento de 64 pessoas que alegavam terem sido abusadas por clérigos chilenos.
No mês seguinte, veio a primeira onda de renúncias. Após convocação do Vaticano, os 34 bispos acusados de acobertamento apresentaram oficialmente seus pedidos de exclusão ao papa.
Desde então, Francisco aceitou mais sete renúncias, além de pedir pessoalmente a exclusão do padre Cristián Precht e de Fernando Karadima, declarado culpado em 2011 por cometer abuso sexual de menores de idade nas décadas de 1980 e 1990. Com a prescrição do crime, o sacerdote nunca foi condenado.
Opera Mundi preparou 5 perguntas e respostas para mostrar os principais pontos dos escândalos da igreja chilena em 2018.
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1. Quantos membros da igreja renunciaram até agora?
Até o momento, o Vaticano aceitou a renúncia de sete dos 34 bispos que pediram a saída em abril. Fernando Karadima, que foi pessoalmente excluído pelo papa, não foi preso até o momento, porque os crimes prescreveram. O chanceler da arquidiocese de Santiago, Óscar Muñoz, foi indiciado por estupro de menores e foi preso em julho.
2. Como está a situação na Justiça e qual a quantidade de processos?
De acordo com o Ministério Público, até outubro ao menos 126 casos de abuso sexual de menores, envolvendo 139 membros do clero chileno, permanecem sob análise. O principal relatório que sustenta as investigações tem documentos desde 1960 até os dias de hoje. No total, 158 pessoas ligadas à Igreja do Chile, sendo 139 religiosos, são alvos de um total de 144 ações penais em Santiago, Valparaíso e Biobío.
3. Qual a posição do papa Francisco?
Após ter feito declarações polêmicas em janeiro, quando negou as acusações de acobertamento contra o bispo Juan Barros, o pontífice se retratou, alegando, em maio, “graves erros de avaliação” por estar “mal informado”. No mesmo mês, Francisco prometeu ser firme nas decisões e enviou ao Chile investigadores encarregados de contribuir com as apurações sobre o caso.
“Acabar com isto não significa simplesmente seguir em frente, mas procurar uma cura, reparação, tudo o que for necessário para curar feridas e restaurar a vida de tantas pessoas”, disse o Vaticano, em nota.
4. O que dizem as vítimas?
As principais vítimas dos abusos que vieram a público são José Andrés Murillo, James Hamilton e Juan Carlos Cruz. Os três foram ao Vaticano em abril, para uma reunião com o papa, em que discutiram o compromisso da Igreja em investigar os casos de abuso. Na oportunidade, os chilenos chamaram os escândalos de “abuso de poder”.
Em janeiro, quando Francisco negou as acusações contra Juan Barros e pediu provas, Juan Cruz respondeu à solicitação com ironia, em sua conta pessoal do Twitter. “Como se alguém pudesse ter feito uma selfie enquanto Karadima abusava de mim com Juan Barros parado ao lado vendo tudo”, falou.
5. Qual a polêmica mais recente?
O abalo mais recente e que
agravou o quadro de tensão na cúpula ocorreu nesta segunda-feira (01/10), quando
o Arcebispo de Santiago, Ricardo Ezzati, publicou um manual de conduta para sacerdotes,
em que sugeria a padres “não tocar nas genitálias”, “não dormir com crianças e
adolescentes” e “não beijar na boca” dos jovens.
Horas depois da publicação online,
a igreja retirou o material do ar, sobretudo após o texto chegar à Defensoria Pública
da Infância do Chile. Por meio da representante Patricia Muñoz, que disse ter
permanecido “em estado de choque”, o órgão classificou o caso como “falta de
compreensão brutal”.
No mesmo dia, a Igreja pediu desculpas pelo documento e disse que uma nova versão será divulgada.
“Apresentamos desculpas pelo caso e publicaremos uma nova versão no menor prazo possível”, disse a instituição, em nota.