O sociólogo e professor da Universidade de Coimbra, Boaventura de Sousa Santos, publicou um artigo-resposta nesta terça-feira (11/04) afirmando ser ele um dos acadêmicos acusados de assédio sexual por três estudantes de doutorado em um livro publicado no mês de março. No mesmo texto, o catedrático refuta as acusações e se diz “alvo de cancelamento”.
O caso surgiu a partir de uma denúncia realizada em março por três alunas de doutorado do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, no livro “Sexual Misconduct in Academia – Informing an Ethics of Care in the University” (ou “Má Conduta Sexual na Academia – Construindo sobre um Ética de Cuidado na Universidade”, em tradução livre). A obra foi escrita pelas estudantes Lieselotte Viaene (belga), Catarina Laranjeiro (portuguesa) e Miye Nadya Tom (norte-americana) e publicada pela editora Routdlege.
Na obra, as três afirmam que não só elas como outras estudantes de Coimbra foram assediadas por diferentes professores e que a prática é comum na universidade, assim como a impunidade em casos que vêm sendo denunciados à direção desde 2018.
Boaventura de Sousa Santos seria um dos assediadores, mencionado no livro como “professor-estrela”, mas seu nome não é citado, razão pela qual o tema só ganhou maior dimensão em Portugal quando o próprio confessou ser ele o aludido.
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Boaventura de Sousa Santos assumiu ser ele o personagem anônimo de livro que denuncia casos de assédio sexual na Universidade de Coimbra
Os relatos do livro afirmam que Boaventura costumava tratas as alunas mulheres com “abraços longos e excessos de familiaridade”, que chegou a tocar uma delas nos joelhos e que pedir para “aprofundar o relacionamento” em troca de maior apoio acadêmico da sua parte.
Resposta de Boaventura
Em um longo artigo intitulado “Diário de uma difamação – 1”, o catedrático nega todas as acusações e afirma que estas estão assentadas em “referências anônimas, boatos e incidentes não identificados e não provados de maneira a poderem ser contestados”.
Além disso, o sociólogo português diz que “nunca tive reuniões com duas das autoras (Miye Nadya Tom e Catarina Laranjeiro) e com a terceira, a principal autora (Lieselotte Viaene), tive duas reuniões (…) para tentar resolver os problemas do comportamento incorreto e indisciplinado do ponto de vista institucional desta investigadora”.
“Em face disto, a primeira questão que se me põe é a perplexidade sobre como é que uma editora respeitável (que tem publicado alguns dos meus livros) deu a lume um texto tão ardiloso, tão mentiroso no que me diz directamente respeito, tão mistificador como este de que vos falo”, afirmou Boaventura, criticando também a editora Routdlege pela publicação do livro.
Segundo o periódico português Diário de Notícias, CES da Universidade de Coimbra criará uma comissão para apurar possíveis falhas institucionais relacionadas com o caso. O jornal também revela o nome de outro professor acusado de assédio no livro: Bruno Sena Martins, de 45 anos, auxiliar de Boaventura – e que, assim como o primeiro, nega as acusações.