O papa Francisco criticou o nacionalismo por conduzir a guerras e disse que o populismo não reflete a cultura popular, em uma entrevista publicada no jornal La Stampa, nesta sexta-feira (09/08). As declarações acontecem em meio à crise política deflagrada na Itália pela extrema direita do ministro do Interior Matteo Salvini, que pediu a realização de eleições antecipadas no país.
“O nacionalismo é uma atitude de isolamento. Estou preocupado, porque ouvimos discursos que lembram os de Hitler em 1934. ‘Primeiro nós. Nós, nós’: estes são pensamentos aterrorizantes”, afirmou o pontífice.
Concedida dias antes da crise do governo protagonizada por Salvini, a entrevista do papa argentino acontece em um momento delicado da política italiana. “Um país deve ser soberano, mas não fechado. A soberania deve ser defendida, mas as relações com outros países e com a Comunidade Europeia também devem ser protegidas e promovidas. O nacionalismo é um exagero que sempre acaba mal: leva a guerras”, acrescentou.
‘Ismos’ nunca fazem bem, afirma
Questionado sobre o populismo, o papa, que vivenciou os anos de Domingo Perón em seu país, explicou que essa corrente também “fecha as nações”, como o nacionalismo. “No começo, não conseguia entender, porque, estudando Teologia, eu aprofundava o popularismo, isto é, a cultura do povo. Uma coisa é que o povo se expresse, e outra é impor ao povo a atitude populista. O povo é soberano – tem seu jeito de pensar, de se expressar e de sentir, de avaliar. Mas os populismos nos levam ao nacionalismo: esse sufixo, ‘ismos’, nunca faz bem”, insistiu.
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‘Nacionalismo é uma atitude de isolamento. Estou preocupado, porque ouvimos discursos que lembram os de Hitler em 1934’, afirmou Francsico
Na entrevista, o pontífice falou também sobre Europa, Amazônia e meio ambiente. “A Europa não deve ser desfeita, devemos salvá-la. Ela tem raízes humanas e cristãs. Uma mulher como Ursula von der Leyen pode reviver a força dos Pais Fundadores”, disse ele, em referência à nova presidente da Comissão Europeia, eleita em 2 de julho passado.
Proteção da Amazônia
Francisco mencionou várias catástrofes ambientais, falou sobre a perda dos recursos do planeta e relembrou uma reunião recente com pescadores que lhe disseram que coletaram seis toneladas de plástico nos últimos meses.
“A ameaça da vida das populações e do território deriva dos interesses econômicos e políticos dos setores dominantes da sociedade”, disse, ao comentar sobre os riscos para a floresta amazônica. Para Francisco, os políticos devem “assumir uma responsabilidade concreta, por exemplo, no caso das minas a céu aberto, que envenenam a água que causa tantas doenças”.