O policial, que anteriormente chegou a negar qualquer participação e pediu sua libertação, admitiu em audiência pública nesta quinta-feira (03/08), ter disparado pelo menos um projétil na noite em que o jovem Hedi, de 22 anos, foi gravemente ferido na cabeça durante protestos em Marselha, no sul da França. A confissão abriu precedentes para que o Procurador-geral da região de Aix-en-Provence solicitasse a manutenção da prisão preventiva do oficial.
“Tomei a decisão de usar a bala uma vez”, disse esse policial identificado como Christophe, que já se encontra em prisão preventiva há quinze dias. O procurador-geral considera que as declarações do policial dão “uma perspectiva” ao processo e suspeita que se ele fosse solto, poderia estabelecer contatos prejudiciais às investigações. Segundo ele, a prisão preventiva continua necessária a fim de “preservar as informações até o interrogatório” previsto em 30 de agosto.
Além do policial, outros três oficias são suspeitos de terem ferido gravemente Hedi durante o motim em Marselha, em 1° de julho, também estão presos preventivamente. Fato que gerou uma onda de protestos entre a classe policial em Marselha e em várias cidades da França.
O advogado do policial, Pierre Gassend, afirmou que “nada prova” que foi o tiro disparado por Christophe que feriu o jovem, que teve uma parte do crânio amputada por conta dos ferimentos. Durante a mesma audiência nesta quinta-feira, os quatro polícias indiciados neste caso foram acusados de minimizar o que aconteceu com o rapaz na ocasião, de o terem espancado após o tiro na cabeça e de não prestarem socorro imediato.
Public Domain Pictures
Além do policial, outros três oficias são suspeitos de terem ferido gravemente Hedi durante o motim em Marselha
Hedi teria desmaiado após a violência policial e sido levado ao hospital pelo dono de uma mercearia. O procurador-geral se refere ao episódio como “de partir o coração”. Já a defesa dos acusados implorou pela libertação do agente, garantindo que seu cliente tinha a possibilidade de ser transferido para um posto policial longe de Marselha.
Violência policial
Já o advogado da vítima, Jacques-Antoine Preziosi, celebrou a prisão preventiva do policial e explicou que seu cliente ainda se recupera dos ferimentos na cabeça e não pode comparecer à audiência. “O arquivo mostra que ele está mentindo, que está trapaceando, que não é um bom policial, o controle judicial deve ser mantido”, disse o advogado de Hedi.
A acusação alega que a “violência resultou em incapacidade total para o trabalho superior a oito dias, agravada por três circunstâncias que foram praticadas em conjunto, com o uso ou ameaça de arma e por pessoa investida de autoridade pública no exercício de suas funções”. Por essa razão foi pedida também a manutenção do controle judicial contra um segundo policial envolvido, disse o Ministério Público à AFP. Os outros três agentes estavam sob controle judicial com “proibição de contato com os coautores, a vítima e proibição de exercer a atividade profissional de policial”.
Protestos por Nahel
Os protestos que ocasionaram a violência e prisão do policial de Marselha há duas semanas se deram na sequência de outro caso polêmico, o da morte do adolescente Nahel M., 17 anos, em Nanterre, no final de junho. Nahel não tinha carteira de motorista e foi atingido quando tentou se esquivar de uma blitz.