A Conferência Internacional de Doadores, organizada pela União Europeia, pretende mobilizar fundos e apoio para as vítimas do recente terremoto na Turquia e na Síria, a partir desta segunda-feira, 20, em Bruxelas. A catástrofe que matou cerca de 54 mil pessoas no início de fevereiro foi considerada o pior desastre natural que a região sofreu no último século.
Durante dois dias – 20 e 21 de março – doadores internacionais vão estar reunidos em Bruxelas para debater a ajuda às vítimas do terremoto de magnitude 7,8 que provocou destruição massiva na fronteira entre a Turquia e a Síria no início de fevereiro. Na agenda da conferência, a reconstrução de habitações e da infraestrutura danificada, avaliada em US$ 85 bilhões pela Confederação de Negócios e Empreendimentos da Turquia, terá destaque nas discussões entre representantes dos 27 países da União Europeia, da Comissão Europeia, dos países vizinhos do bloco europeu, além de delegações das Nações Unidas e dos Estados-membros do G20 – com exceção da Rússia.
A presidência rotativa da UE, que está sob o comando da Suécia, também convidou organizações internacionais, agências humanitárias e instituições financeiras da Europa para participarem da reunião. A meta é mobilizar alguns bilhões de euros para que as pessoas possam começar a reconstruir suas vidas e ter meios de subsistência. Em visita recente à área atingida, o Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, afirmou que “o nível de destruição e devastação na região afetada é chocante e, em muitos lugares, apocalíptico”.
Rastro de destruição
O cenário é absolutamente devastador: cerca de 54 mil pessoas morreram e milhares estão desaparecidas; pelo menos 2,7 milhões de pessoas que perderam suas casas tiveram que se deslocar pela região e milhares estão desabrigadas. Ainda não é possível fazer um balanço preciso dos estragos, mas o Banco Mundial calculou os danos materiais em até US$ 34,2 bilhões. Apenas nas 10 províncias turcas atingidas pelo terremoto, mais de 200 mil prédios foram destruídos ou severamente danificados. Os sobreviventes estão tendo que morar em acampamentos dentro de tendas, containers e abrigos temporários.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) tem alertado sobre a necessidade de assistência humanitária urgente para mais de 2,5 milhões de crianças no sul da Turquia. Já na Síria, devastada pela guerra civil nos últimos 12 anos, o número de crianças afetadas pelo terremoto chega a 3,7 milhões. A região atingida na Síria é controlada por grupos que se opõem ao governo de Bashar al-Assad e o envio de ajuda humanitária tem sido um desafio. O presidente sírio tem exigido que doações da comunidade internacional sejam canalizadas por Damasco, ou seja, que parte da ajuda fique mas mãos do regime sírio.
Ann Dismorr/Twitter
Catástrofe que matou cerca de 54 mil pessoas no início de fevereiro foi considerada pior desastre natural que região sofreu no último século
Autorizações ilegais para construir
A Turquia adotou novas leis para regulamentar as construções depois que a cidade de Izmit, no noroeste do país, foi devastada por um terremoto, em 1999. A partir de então, para evitar outras tragédias, os edifícios construídos sob as novas regras são obrigados a ter uma estrutura de concreto de alta qualidade, reforçada com aço para resistir aos sismos, além de colunas e vigas bem distribuídas para amortecer o impacto dos tremores.
Porém, há décadas o governo turco vem concedendo anistias periódicas – mediante o pagamento de uma taxa – aos construtores para que os certificados de segurança não sejam exigidos. Arquitetos e urbanistas turcos já haviam alertado que o licenciamento retroativo desses edifícios – alguns com mais andares do que na planta original – poderia ter consequências fatais.
O terremoto também abalou a candidatura do presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que concorre nas próximas eleições de maio. Acusado de negligência e resposta inadequada à catástrofe, Erdogan deve enfrentar o maior teste político desde que assumiu o poder há 20 anos. A violação dos códigos de construção com areia de mais e cimento de menos em uma região propensa a terremotos pode colocar em risco o projeto político do líder turco.