Domingo, 20 de julho de 2025
APOIE
Menu

A Conferência Internacional de Doadores, organizada pela União Europeia, pretende mobilizar fundos e apoio para as vítimas do recente terremoto na Turquia e na Síria, a partir desta segunda-feira, 20, em Bruxelas. A catástrofe que matou cerca de 54 mil pessoas no início de fevereiro foi considerada o pior desastre natural que a região sofreu no último século.

Durante dois dias – 20 e 21 de março – doadores internacionais vão estar reunidos em Bruxelas para debater a ajuda às vítimas do terremoto de magnitude 7,8 que provocou destruição massiva na fronteira entre a Turquia e a Síria no início de fevereiro. Na agenda da conferência, a reconstrução de habitações e da infraestrutura danificada, avaliada em US$ 85 bilhões pela Confederação de Negócios e Empreendimentos da Turquia, terá destaque nas discussões entre representantes dos 27 países da União Europeia, da Comissão Europeia, dos países vizinhos do bloco europeu, além de delegações das Nações Unidas e dos Estados-membros do G20 – com exceção da Rússia. 

A presidência rotativa da UE, que está sob o comando da Suécia, também convidou organizações internacionais, agências humanitárias e instituições financeiras da Europa para participarem da reunião. A meta é mobilizar alguns bilhões de euros para que as pessoas possam começar a reconstruir suas vidas e ter meios de subsistência. Em visita recente à área atingida, o Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, afirmou que “o nível de destruição e devastação na região afetada é chocante e, em muitos lugares, apocalíptico”.

Receba em primeira mão as notícias e análises de Opera Mundi no seu WhatsApp!
Inscreva-se

Rastro de destruição

O cenário é absolutamente devastador: cerca de 54 mil pessoas morreram e milhares estão desaparecidas; pelo menos 2,7 milhões de pessoas que perderam suas casas tiveram que se deslocar pela região e milhares estão desabrigadas. Ainda não é possível fazer um balanço preciso dos estragos, mas o Banco Mundial calculou os danos materiais em até US$ 34,2 bilhões. Apenas nas 10 províncias turcas atingidas pelo terremoto, mais de 200 mil prédios foram destruídos ou severamente danificados. Os sobreviventes estão tendo que morar em acampamentos dentro de tendas, containers e abrigos temporários. 

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) tem alertado sobre a necessidade de assistência humanitária urgente para mais de 2,5 milhões de crianças no sul da Turquia. Já na Síria, devastada pela guerra civil nos últimos 12 anos, o número de crianças afetadas pelo terremoto chega a 3,7 milhões. A região atingida na Síria é controlada por grupos que se opõem ao governo de Bashar al-Assad e o envio de ajuda humanitária tem sido um desafio. O presidente sírio tem exigido que doações da comunidade internacional sejam canalizadas por Damasco, ou seja, que parte da ajuda fique mas mãos do regime sírio.

Conferência Internacional de Doadores, em Bruxelas, pretende mobilizar fundos e apoio para vítimas do desastre natural

Ann Dismorr/Twitter

Catástrofe que matou cerca de 54 mil pessoas no início de fevereiro foi considerada pior desastre natural que região sofreu no último século

Autorizações ilegais para construir

A Turquia adotou novas leis para regulamentar as construções depois que a cidade de Izmit, no noroeste do país, foi devastada por um terremoto, em 1999. A partir de então, para evitar outras tragédias, os edifícios construídos sob as novas regras são obrigados a ter uma estrutura de concreto de alta qualidade, reforçada com aço para resistir aos sismos, além de colunas e vigas bem distribuídas para amortecer o impacto dos tremores. 

Porém, há décadas o governo turco vem concedendo anistias periódicas – mediante o pagamento de uma taxa – aos construtores para que  os certificados de segurança não sejam exigidos. Arquitetos e urbanistas turcos já haviam alertado que o licenciamento retroativo desses edifícios – alguns com mais andares do que na planta original – poderia ter consequências fatais. 

O terremoto também abalou a candidatura do presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que concorre nas próximas eleições de maio. Acusado de negligência e resposta inadequada à catástrofe, Erdogan deve enfrentar o maior teste político desde que assumiu o poder há 20 anos. A violação dos códigos de construção com areia de mais e cimento de menos em uma região propensa a terremotos pode colocar em risco o projeto político do líder turco.