“Não fizemos progresso. E o que eu posso fazer? Apontar uma arma para a cabeça deles?” Foi assim que Lakhdar Brahimi, mediador da ONU no processo de paz na Síria, resumiu nesta terça-feira (11/02) o segundo dia da nova rodada de negociação entre governo e oposição do país, em Genebra, na Suíça.
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Agência Efe
“O que eu posso fazer?”, disse, diante do impasse, Lakhdar Brahimi, mediador do conflito designado pela ONU e Liga Árabe
Em breve entrevista coletiva no fim do dia “trabalhoso”, Brahimi disse que as partes não conseguem se acertar nem sobre o quê vão discutir. Para os representantes do presidente Bashar al Assad, a prioridade é deter a violência. A oposição, por sua vez, quer começar a discutir a formação de um governo provisório de transição. Diante do impasse, a sugestão de Brahimi foi discutir os dois assuntos separadamente.
“Os dois temas são importantes e podemos abordá-los em paralelo. Mas não tenho certeza se posso impor às pessoas uma agenda que elas não querem discutir”, disse o mediador, designado também pela Liga Árabe. Ainda assim, pressionou as partes: “Estou encorajando a todos para que agilizem [as negociações]. Menos aqueles que matam pessoas, esses não devem acelerar. É o país deles, eles carregam uma enorme responsabilidade”.
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Ambas as partes negociadoras culparam umas as outras pela estagnação das conversas — conhecidas como “Genebra II” — e a dificuldade de resolver o conflito que já dura três anos.
“Uma hora vai ficar claro que o regime não quer solução alguma e nós vamos fazer pressão moral para a ONU tomar uma posição”, disse Louay Safi, porta-voz da Coalizão Nacional Síria, que une representantes de grupos de oposição.
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“Hoje eles [oposição] desperdiçaram o nosso dia inteiro discutindo nada e dizendo que não existe terrorismo na Síria”, afirmou o vice-chanceler sírio, Faisal Mekdad.
Interferência: Rússia e EUA
Oficiais da ONU confirmaram que diplomatas russos e norte-americanos estão a caminho de Genebra para uma reunião sobre a situação do país na próxima sexta (14/02). Segundo informações da agência AP, o encontro uniria: o mediador Brahimi; o vice-chanceler russo, Gennady Gatilov; e a subsecretária de Estado norte-americano para assuntos políticos, Wendy Sherman. Negociadores sírios também poderiam participar de reuniões bilaterais com russos e norte-americanos.
Agência Efe/Sana
Em meio às conversas de Genebra II, simpatizantes de Bashar al Assad saem às ruas em Homs para mostrar apoio ao governo
O vice-chanceler sírio não aprovou a eventual ingerência de terceiros. “Nós não concordamos com essa reunião. Esse assunto não foi discutido seriamente conosco”, afirmou Monzer Akbik. O diplomata disse ainda que ONU, Rússia e EUA são livres para se reunir, mas que “qualquer diálogo, discussão ou negociação deve ser feita apenas pelas partes sírias”.
O governo russo já deu a entender que vetaria no Conselho de Segurança da ONU uma resolução “ocidental” para o conflito sírio. A ideia sugerida pela França consistia na abertura de um “corredor humanitário” para assegurar o livre trânsito de remédios e alimentos na Síria. Quaisquer tentativas de impor sanções ao governo de Bashar al Assad também seriam barradas pela Rússia no órgão de segurança das Nações Unidas.
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Trégua em Homs
Na sessão de ontem, os representantes sírios trocaram acusações sobre a situação delicada da cidade Homs, de onde milhares de cidadãos sírios estão sendo evacuados por veículos da ONU.
A operação faz parte de um acordo trilateral firmado entre ONU, Assad e a oposição síria. Após meses de negociação, foi estabelecida uma trégua na cidade que, embora controlada pelo Exército sírio, possui distritos dominados por opositores — os bairros permaneciam sitiados pelas forças do governo sírio.
Agência Efe/Sana (4.fev.2013)
Membros da ONU ajudam na força-tarefa de ajuda humanitária criada para evacuar regiões da Síria
O cessar-fogo, entretanto, não durou muito: no último sábado, um comboio humanitário foi atacado por morteiros, aumentando a tensão entre os lados. Ativistas culpam as facções pró-Assad, enquanto a TV estatal síria, por sua vez, afirmou que “grupos terroristas armados” são os autores do bombardeio à força-tarefa da ONU.
O acordo firmado para evacuar a cidade valia apenas para mulheres, crianças e idosos. Todo homem entre 15 e 55 anos estava excluído das garantias oferecidas pelas autoridades locais.
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A porta-voz da Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), Melissa Fleming, disse que as forças governamentais estão interrogando 338 homens que tentavam sair da parte antiga de Homs, controlada pela oposição. Dezenas já foram libertados de uma escola abandonada que servia de refúgio temporário e centro de tomada de depoimentos.
Armas químicas
Paralelamente às reuniões de Genebra II, organismos internacionais confirmaram ontem a retirada do terceiro carregamento de armas químicas do território sírio. Conforme anunciou a missão conjunta entre ONU e Opaq (Organização para a Proibição de Armas Químicas), o material, despachado em um cargueiro norueguês, será destruído, como estabelece o acordo firmado com o governo sírio.
O comunicado elogia o “progresso concluído”, mas “encoraja a Síria a acelerar o transporte de produtos químicos em grandes quantidades de forma regular e sistemática” até que seja concretizada a destruição de todo o arsenal.
Recentemente, o governo sírio havia sido criticado por deixar de cumprir o prazo para a remoção dos estoques. O Conselho de Segurança da ONU, inclusive, enviou uma advertência a Damasco há cinco dias.