O diretor executivo do SEAE (Serviço Europeu de Ação Exterior) para as Américas, Christian Leffer, declarou na última reunião na Comissão de Assuntos Exteriores do Parlamento Europeu que acredita que as negociações entre Cuba e a União Europeia serão longas e difíceis. Segundo ele, “será difícil marcar um calendário claro dentro das negociações” com o país caribenho. Apesar disso, ele prevê que, uma vez marcada a primeira reunião, os encontros oficiais entre os negociadores das duas partes devem ocorrer a cada dois meses.
Entretanto, Leffer declarou que até agora nenhuma reunião entre as partes foi realizada. Ele explicou que as equipes negociadoras de Cuba e UE encontram dificuldade de agenda para dar início ao diálogo. No mesmo pronunciamento, o chefe da diplomacia europeia para todo o continente americano definiu quais são os objetivos da UE em sua relação com Cuba.
“Os objetivos principais da política europeia em relação a Cuba são conhecidos há muito tempo. Eles são o apoio à mudança e à modernização na ilha e a defesa e promoção dos direitos humanos […]. Isto continua imutável e está bastante claro nas diretivas que recebemos do Conselho, que estes [objetivos] devem ser fundamentais para qualquer acordo futuro”, explicou Leffer.
Apesar de afirmar que os objetivos são os mesmos, o diplomata esclareceu que a atitude do bloco mudou em relação ao passado por dois motivos principais: as mudanças que ocorrem no sistema político e econômico no país latino-americano e a busca por parte da UE em manter apenas um canal de comunicação com Cuba. Este último ponto visa eliminar a contradição entre a restritiva política comum europeia, adotada em 1996, e os acordos bilaterais que diferentes Estados-membros da UE assinaram com Cuba.
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Para Anna Ayuso, pesquisadora de América Latina do CIDOB (Centro de Informação e Documentação Internacional de Barcelona), as negociações devem ser bastante longas, uma vez que as expectativas de reformas da UE não são as mesmas de Cuba. “[…] É muito pouco provável que se chegue a um acordo que contenha o preceito da cláusula democrática. Por isso, é muito possível que se alonguem as negociações e, enquanto isso, se mantenham relações sem um marco legal vinculante. Já foram iniciadas negociações várias vezes e todas fracassaram”, explica Anna, que tem um doutorado em direito internacional pela Universidade Autônoma de Barcelona.
Embora seja pouco otimista em relação ao sucesso das negociações, a pesquisadora aponta pontos positivos do processo, como o papel dos países latino-americanos em não isolar a ilha caribenha no cenário internacional. “A Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) permitiu integrar Cuba ao diálogo político com a UE e a secretaria temporária [da Celac] deu a Cuba um respaldo regional apesar de que na região existem países que não se sentiram muito cômodos. Foi um triunfo do bloco da ALBA (Aliança Bolivariana para as Américas), apoiado pelo Brasil e pela Argentina”, concluiu a especialista.