Em 27 de dezembro de 1942, o exército alemão começou a recrutar os prisioneiros de guerra soviéticos para lutarem contra a sua própria pátria. O general Andrey Vlasov, considerado um herói de guerra, capturado pelos nazistas, tornou-se um feroz anticomunista, passando a comandar as tropas soviéticas renegadas.
O absurdo da história é que no final do verão de 1941, durante dois meses, Vlasov tinha defendido corajosamente a cidade de Kiev; depois, como comandante do XX Exército Soviético, tinha rechaçado as forças alemãs que avançavam sobre Moscou. Tinha sido recompensado com condecorações, felicitações e o comando do Grupo de Exércitos do Volkhov.
Vlasov era um militar desde 1919, quando, aos 19 anos, foi recrutado para servir no Exército Vermelho para combater na Guerra Civil Russa. Após filiar-se ao Partido Comunista em 1930, tornou-se adido militar na China de Chiang Kai-shek.
Retornando à União Soviética em 1939, Vlasov foi designado para comandar o 4º Corpo Blindado. Distinguiu-se na defesa de Kiev e Moscou contra os invasores alemães, recebendo pelas suas ações a Ordem de Lenin em 1941 e mais tarde a Ordem da Bandeira Vermelha como comandante geral do 20º Exército.
Mudança de lado
Depois veio a defesa de Leningrado em 1942. Os alemães suplantavam as forças soviéticas no front e Stalin não permitiu que Vlasov se retirasse para uma posição mais favorável. Seu exército foi batido e ele tomado prisioneiro junto com a maioria dos seus homens, durante mais de dois anos. No campo de concentração de Vinnitga, pôs-se do lado dos germânicos.
Mas só no outono de 1944, quando Himmler autoriza o uso de tropas orientais, é que ele pôde colaborar. Já se tinha fundado então o KONR – Comitê de Libertação dos Povos da Rússia – e é criada uma força militar formada por duas divisões sob comando de Vlasov.
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General Andrey Vlasov foi capturado pelos nazistas, tornando-se anticomunista
Vlasov alegava ter-se indisposto com Stalin e com a ideologia comunista, afirmando que era uma ameaça mais sinistra para o mundo que o nazismo. Começou a difundir a propaganda anti-soviética, tendo formado então – com a permissão da hierarquia nazista – o Comitê pela Libertação dos Povos da Rússia. Seu objetivo: derrubar Stalin e o comunismo.
O “Comitê Smolensk” germânico tratou de persuadir mais e mais soldados russos, ucranianos, cossacos e outras nacionalidades a se juntar no esforço de guerra alemão. Chegou finalmente a formar um contingente de soldados soviéticos agora pró-alemães de cerca de 50 mil homens, a Divisão Russa de Libertação, que lutou até o fim da guerra.
Problemas
Vlasov assumiu oficialmente o comando de seu “exército”. Em fevereiro de 1945, o Alto Comando da Wehrmacht mobiliza várias companhias anticarro da 1ª Divisão de Vlasov para a frente ocidental do Oder, o que provoca os primeiros problemas. Buniachenko, segundo-comandante de Vlasov, resiste: “Os soldados não querem lutar contra os seus antigos camaradas, mas sim contra os norte-americanos”.
Milhares desses soldados acabaram se virando contra os alemães, rendendo-se finalmente aos norte-americanos, em vez dos soviéticos que avançavam rapidamente pelo leste. Washington, cumprindo os termos secretos do Acordo de Yalta firmado em fevereiro, repatriou todos os soldados soviéticos capturados, contra a vontade. Vlasov estava entre aqueles que retornaram à União Soviética. Foi enforcado por alta traição, bem como os oficiais que com ele estiveram.
Outros fatos marcantes da data:
27/12/1932 – Radio City Music Hall é inaugurado em Nova York
27/12/1945 – EUA, URSS e Reino Unido concordam em dividir a Coreia em duas zonas separadas
27/12/1831 – Darwin zarpa a bordo do HMS Beagle para expedição no sul dos oceanos Atlântico e Pacífico
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.