“Sionismo não é judaísmo”. Essa é a opinião do rabino ortodoxo Yisroel Dovid Weiss. Ativista e porta-voz do Neturei Karta, que é um agrupamento antissionista de judeus haredim, falou ao programa 20 MINUTOS com Breno Altman sobre a posição contra o Estado de Israel, apontando que o sionismo é um “movimento político falho e egoísta”.
Segundo o rabino Weiss, o sionismo “rouba” o nome do judaísmo, afirmando que o movimento “não é uma religião”. “Nós somos brutalmente espancados: homens, crianças. Nós não somos um grupo militante, não portamos armas, nós permanecemos nas ruas de Jerusalém desde a criação do Estado de Israel e até mesmo antes. E nós dizemos que o sionismo não é judaísmo, eles estão roubando o nosso nome, ele não é uma religião, é um movimento político falho e egoísta”.
Ao jornalista e fundador de Opera Mundi, o rabino Weiss disse que os sionistas “não têm o direito de existir”, apontando que aqueles que defendem o movimento estão “insultando a inteligência do mundo”. “Eles estão se rebelando contra Deus em nome do judaísmo e eles fazem algo criminoso”, declarou.
Veja principais trechos da entrevista do rabino Weiss a Breno Altman:
Rabino, quem são os Neturei Karta, os “Guardiões da Cidade”?
Com a ajuda do Todo-poderoso, Neturei Karta é um termo aramaico, que significa Neturei (“Protetores”) Karta (“da cidade”), é basicamente o nome dado aos judeus que seguem a Torá, são fiéis à Torá e que são francos ao explicar e educar o mundo e mostrar que o conceito de sionismo presente no Estado de Israel não faz parte da nossa religião judaica. Ele é contrário à nossa Torá, e uma falsificação e deturpação da vontade do Todo-poderoso e da vontade dos judeus que são fiéis à Torá ao redor do mundo.
Deixe-me perguntar-lhe algo, rabino: muitos grupos judaicos apoiaram a criação do Estado de Israel e são aliados do sionismo. Por que o Neturei Karta se opõe a tal posição?
Pois bem, novamente: o Neturei Karta foi criado para a proteção da cidade. É apenas isso, não é uma parte distinta do judaísmo, é apenas o básico, pessoas eloquentes, provenientes da comunidade religiosa, que estão tentando esclarecer ao mundo o que o judaísmo é, e que não aceitamos o sionismo. O grupo se chama “Protetores da Cidade” porque o sionismo surgiu como um movimento do Leste Europeu, da Áustria, ele foi composto por um grupo de pessoas que eram basicamente hereges e que queriam transformar o judaísmo em outra coisa que não essa subserviência de 3.000 anos a Deus. Ele tem no máximo 130, 150 anos de idade. Os sionistas transformam o judaísmo em nacionalismo, na ideia de ter um pedaço de terra, um exército e um time olímpico, e todos estes atavios próprios de um país. Mas isto é desprovido de qualquer religiosidade! Os sionistas anunciam com orgulho que é uma democracia. Eis o que sionismo proclama: que é uma democracia. Não precisa guardar o sábado, você pode fazer o que você quiser. É a antítese e o contrário do que o judaísmo é.
Além disso, a Torá nos avisou 3.000 anos atrás. A Torá nos foi dada e nos foi ordenado que fôssemos à Terra Santa para que servíssemos a Deus com santidade. No entanto, 2.000 anos atrás nós fomos enviados ao exílio, uma vez que nós, judeus, não gozávamos do grau adequado de santidade. Nós fomos espalhados por entre as nações do mundo. E expressamente advertidos por Deus, através dos profetas Jeremias, Ezequiel e Isaías. O Rei Salomão escreveu muito claramente: uma vez no exílio, nós estamos proibidos de tentar retornar em grande número ou de tentar se rebelar contra qualquer nação. Nós devemos ser cidadãos leais de todos os países nos quais residirmos. Não devemos fazer qualquer tentativa de escapar do exílio. Então os sionistas, esse grupo de pessoas, esses heréticos, vieram e quiseram criar um judaísmo sucedâneo, um judaísmo novo. Em primeiro lugar, isto não é judaísmo! Assim como o judaísmo reformado não é judaísmo. É contraditório, uma rebelião contra Deus. Mesmo que fosse religioso, seria inaceitável, pois Deus nos alertou, Deus declarou que por nossos pecados fomos enviados ao exílio, não porque nós éramos fracos. Tentar voltar e criar um Estado soberano é um ato de rebelião contra Deus. Autoridades rabínicas do mundo inteiro, você vai para Londres, em Stanford Hills. Você estava mostrando fotos de lá antes, eu creio; você vai a Mea Shearim, em Jerusalém, você vai a Nova Iorque, a segunda maior comunidade judaica do mundo, há uma concentração de judeus religiosos em Williamsburg, no Brooklyn.
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Rabino ortodoxo Weiss é contra o movimento sionista, que, segundo ele, ‘rouba’ o nome do judaísmo
Não há uma única bandeira de Israel [nestes lugares], porque sabemos que quanto mais religioso se é, mais claro fica que é impossível combinar o judaísmo e sionismo. O sionismo é um nacionalismo, um ato de rebelião contra Deus e proibido segundo a Torá. O judaísmo significa subserviência a Deus.
Mas Rabino, o senhor não pensa que Israel tem o direito à autodefesa, como é defendido pelo governo Netanyahu e por seus aliados?
Eles não têm o direito de existir. Eu te pergunto: se alguém aparecesse na sua casa – Deus me livre! – com uma arma e atirasse em um membro – Deus me livre, não em você! –, atirasse em um instante e permanecesse lá. E, então, alguém se levantasse com um pedaço de pau e começasse a bater no atirador, e ele dissesse: “oh, você me fez sangrar”. E ele, então, dissesse “eu vou te matar”. E, então, ficássemos calmos por um instante, a polícia aparecesse e você perguntasse à polícia: “o quê, quem está certo, o que devemos fazer?”. [e o policial te dissesse] “Bem, esse cara tem direito de resistir, você bateu no braço dele, ele tem o direito de resistir”. Você compreende quão ridículo é esse argumento? O que está ocorrendo aqui? Eles têm o direito de resistir? Eles estão ocupando, eles foram advertidos, foram advertidos pelos judeus que moravam lá, que nasceram lá, pelo nosso rabino que vivia lá. Por centenas de anos, nossos rabinos argumentaram com eles, nossos rabinos apoiaram a comunidade que vivia lá por centenas de anos, eles disseram: “vocês são persona non grata, vocês não são parte do tecido social da Terra Santa, vocês não são judeus, vocês não representam o judaísmo, vocês estão disfarçados de judeus.” Nós nos levantamos, nós demonstramos constantemente que eles vieram e causaram mortes. Houve homens-bomba, houve a Intifada, tudo aconteceu por causa deles [sionistas]. E então eles se levantam e dizem: “nós somos vítimas, nós somos vítimas inocentes, nós teremos que criar a IDF (Forças de Defesa de Israel)” não um exército, eles têm as “Forças de Defesa de Israel”!
Eu digo outra vez: eles estão insultando a inteligência do mundo, eles estão se rebelando contra Deus em nome do judaísmo e eles fazem algo criminoso. Houve a “Nakba”, como os árabes chamam, e esta é a palavra, e nós devemos realmente insistir que nós imploramos e suplicamos aos líderes do mundo: usem sua inteligência, prostem-se e suspendam a ocupação, e, neste momento, salvem o povo de Gaza.
Antissionismo não é a mesma coisa que antissemitismo?
Antissionismo é ser pró-semitismo, porque o sionismo é o mais profundo exacerbador do antissemitismo ao redor do mundo. Todos os países árabes e muçulmanos se consideram como a Ummah, uma única nação. Então, pessoas na Malásia apoiam [os palestinos], e você tem 2,5 bilhões de muçulmanos ao redor do mundo. Acho que são dois bilhões e meio, sim, de muçulmanos, eles todos se solidarizando com os palestinos.
Então, de um golpe, o sionismo criou o ódio, e as pessoas infelizmente estão confusas, elas acreditam que quanto mais religioso for um judeu, mais ele deve apoiar o Estado de Israel. Então, deste modo, quando um judeu está vivendo na França, um judeu está vivendo em qualquer país, ele pensa: “eles vão atacar e Deus me livre”, e novamente, eu não estou apoiando os ataques, obviamente, mas eles estão tão frustrados com o que está acontecendo com os irmãos na Palestina, que eles podem atacar um judeu. É criminoso, mas eles podem fazer isso por causa do Estado egoísta que existe lá [em Israel], então acontece que os maiores antissemitas são os que acentuam o antissemitismo, e eles [sionistas] são antissemitas, eles nos arrastam pelos sapatos como nas fotografias que você estava mostrando, eles batem brutalmente, eles prendem, eles assassinam os nossos.
O rabino Joel Teitelbaum sofreu um atentado, eles [os sionistas] tentaram assassiná-lo. Ele seguiu firme de qualquer maneira, até o fim de seus dias ele se manteve de pé e ele falou aquilo que ele tinha o direito de dizer, de pedir aos judeus que falassem, mesmo pondo em risco suas vidas, porque ele mesmo se colocou em perigo de ser morto, e ele falou constantemente. E é isso que o judaísmo significa: santificar o nome de Deus e pregar contra o sionismo até que, finalmente, você verá, um dia não haverá mais o Estado de Israel, porque ele é uma rebelião contra Deus, e Deus detém o poder no mundo. Nós não sabemos porque Ele gerou um tsunami, não sabemos por que ele deixou Satã criar o Estado de Israel, mas isso vai acabar. Nós apenas rezamos a Ele que isso aconteça rápida e pacificamente, sem mais derramamento de sangue.
Acompanhe na íntegra a entrevista: