No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta sexta-feira (19/11), o jornalista Breno Altman entrevistou o ex-vereador do Rio de Janeiro Leonel Brizola Neto, político que é neto de Leonel Brizola.
Desde jovem no Partido Democrático Trabalhista (PDT), Brizola Neto se filiou ao Partido dos Trabalhadores (PT) recentemente, uma decisão baseada no cenário atual de guerra híbrida, como ele mesmo definiu, de ataques imperialistas dos quais foi vítima a própria legenda.
“O Lula, com golpe, com prisão, se tornou uma das figuras mais importantes do mundo. Ele não é só uma ideia, é uma história, reconhecido no mundo inteiro. Nenhum líder quer receber [Jair] Bolsonaro, mas, em um mês na Europa, ele foi recebido por uma série de líderes mundiais”, afirmou.
Brizola Neto também pautou sua decisão na “bússola política” criada pelo avô, que entendia a importância de unir forças para derrotar a direita. Segundo o ex-vereador, o PT é o único partido que pode unir a esquerda para derrotar o bolsonarismo, e Lula é o líder popular que um dia foi Brizola: “Eles se parecem muito, de trajetória de vida e de sensibilidade e prática política. Lula é como Brizola: sabe ler gente, e isso está em falta na classe política”.
Ele ponderou que já teve suas críticas ao PT, sobretudo quando formava parte da oposição de esquerda, mas afirmou que o momento é de olhar para o futuro e focar nas convergências entre o trabalhismo e o modelo petista: a defesa das leis trabalhistas, das empresas estatais, a criação de resoluções em acordo com todo o partido que sempre vota unido na Câmara, a visão internacional de criação de alianças regionais, entre outras.
E sua intenção é dialogar o trabalhismo ainda mais dentro do partido, principalmente no interior do Rio de Janeiro, reconstruindo o modelo na região. É por isso que nas eleições de 2022 ele pretende se candidatar a deputado estadual, “para fortalecer os laços no Rio, fazendo essa convergência”.
“PDT virou balcão de negócios”
Apesar de ter se filiado ao PT em novembro deste ano, o ex-vereador carioca já havia deixado o PDT há algum tempo, chegando a estar filiado ao PSOL durante sete anos, partido pelo qual se elegeu.
Ele explicou que depois da morte de Leonel Brizola, o partido sofreu uma guinada fisiológica: “Virou um balcão de negócios. Fechou CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública), contratou caveirões no Rio…o Brizola não apoiaria o que o PDT começou a fazer”.
Eduardo Barreto / CMRJ
Desde jovem no PDT, Brizola Neto se filiou ao Partido dos Trabalhadores (PT) recentemente
O ex-vereador também criticou o atual presidente da legenda, Carlos Lupi, que ocupa o cargo há 17 anos com o mesmo diretório, afirmando que não há a renovação dos quadros: “Eu fui agredido pelo presidente do partido e chamado de traidor por defender a oxigenação das lideranças. Além de ter sido processado por denunciar a venda do partido ao PMDB. Não poderia formar parte de um partido que utiliza o poder que tem para fazer alianças espúrias e que se enriquece em cima do nome do meu avô. Ficou impossível defender o legado dele”.
Além disso, ele lamentou a atual aliança entre Ciro Gomes e o PDT. Disse que o político não tem “nada a ver” com o trabalhismo, “quer juntar Getúlio Vargas com Juscelino Kubitschek e são coisas antagônicas”.
Para Brizola Neto, Gomes representa o interesse das grandes multinacionais e chamou de “picaretagem” alguém que “trabalhou em duas multinacionais privadas, que promoviam o saqueio das riquezas do país e a exploração do povo, falar de nacional desenvolvimentismo”.
Mas as ressalvas a Gomes não vêm de agora. De acordo com o ex-vereador, o ex-governador do Ceará nunca soube recuar, algo que Leonel Brizola sabia fazer, por exemplo quando transferiu seus votos a Lula durante as eleições de 1989.
“Brizola entendia que, separados, somos degraus para a direita chegar ao poder e massacrar o povo brasileiro. Então você vê a vaidade pessoal de Ciro, que até xingou meu avô, fez alianças com pessoas como Roberto Jefferson. Ele perdeu a memória? Olha o quadro atual, com mais de 600 mil mortos, pessoas comendo carcaças de animais, senhores de 70 anos pedindo comida no farol, crianças perambulando…ele prefere ficar numa disputa acadêmica sectária? Há um interesse por trás. Ciro é um grande representante das multinacionais para confundir a esquerda. Ele critica a Lava-Jato, mas tem um discurso lavajatista”, discorreu.
Golpe em curso
Brizola Neto usou do exemplo de Gomes para reforçar que não é o momento da esquerda “atirar para dentro da trincheira” pois, apesar de estar otimista com relação à eleição de Lula em 2022, o pleito será difícil, “o bolsonarismo não está morto”.
E mesmo uma vez eleito, um novo governo de esquerda seguirá tendo que lidar com uma burguesia com pouco compromisso democrático e com um golpe que segue em curso.
“Quem dá golpe, não quer ficar quatro anos, quer ficar 20. A tentativa é criminalizar e acabar com o PT porque é um dos maiores partidos do mundo, e criminalizar a política, para justificar colocar na Presidência um gestor de multinacional”, destacou.
Para ele, o segredo para resistir ao golpismo é vencer a “batalha da comunicação”. Ele avaliou que foi um erro não ter promovido a democratização da mídia e que foi por isso que não houve resistência ao golpe de 2016.
“Essa campanha de 24 horas por dia plantar uma mentira na cabeça da população, repetindo a mesma fake news todos os dias, é difícil de combater. A campanha da legalidade soube vencer a batalha das comunicações e nisso devemos nos inspirar. Brizola começou anunciando o que estava acontecendo em uma rádio e isso foi se multiplicando. Se a população entende que há uma liderança disposta a tudo em nome da democracia e do bem-estar do povo, ela vai às últimas consequências. É possível derrotar golpes, e Brizola conseguiu fazê-lo sozinho. Mas defender o povo é para quem tem garra, não é para qualquer um”, reforçou.