Dois comentários breves sobre Alvim e sua queda:
(1) Não tem cabimento a suposição de que o teatrinho nacional-socialista do então secretário de Cultura tenha sido uma manobra para desviar as atenções da corrupção na Secom.
Não há nada, na biografia de Alvim, que sugira que ele seria capaz de se sacrificar por alguém – no caso, para salvar Wajngarten. Ele brigou o quanto pôde para conseguir o cargo, estava louco para fazer negócios, não ia largar assim.
Era óbvio que teria consequências. Nazismo é uma linha que não dá para ultrapassar em público.
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Tudo indica que ele deu uma viajada – parece que tem um histórico de uso de substâncias – e decidiu soltar seu Goebbels interior num vídeo oficial da secretaria.
O mais impressionante é que não houve ninguém para sustar a divulgação da peça. Em suma, o caso serve para mostrar que, ao contrário do que algumas pessoas pensam, o governo Bolsonaro não faz tudo depois de cálculos milimétricos. Tem piração, tem amadorismo, tem incompetência.
Ai de nós que, ainda assim, não conseguimos dar o troco.
Secretaria Especial da Cultura / Flickr
Ex-secretário de Cultura Roberto Alvim
(2) Bolsonaro, que não é lá aquelas inteligências, pelo menos é sensato o suficiente para não sair por aí fantasiado de oficial da SS. O governo vacilou na primeira hora, mas acabou demitindo Alvim em prazo curto.
Mas a política cultural de Alvim é exatamente a política cultural que o bolsonarismo julga adequada.
A política cujo fundamento o agora ex-secretário de Cultura escancarou: nazista.
O secretário caiu. Talvez o tal prêmio que Alvim anunciava seja suspenso. Talvez venha algo recheado com mais eufemismos. Mas a filosofia continua e não existe o menor indício de que venha a ser mudada.
A ejeção de Alvim revela que o governo Bolsonaro, em casos extremos, ainda zela pelas aparências. Mas a política cultural que ele enunciou com tanta nitidez, até ontem sob o aplauso entusiasta do seu chefe, revela muito mais. Revela o matiz ideológico do atual governo do Brasil.