Durante estes últimos quatro anos e, de modo particular, entre 2020 e 2021, quando coordenei um projeto sobre a bibliodiversidade e a Lei do Preço Único, ou Lei Cortez no Brasil, tenho insistido sobre a fragilidade do nosso mercado editorial, o que resulta em um cenário muito pouco diversificado.
O governo Bolsonaro tem um papel importante na construção desse quadro deficitário. A dissolução do Ministério da Cultura e a instabilidade, ou mesmo omissão dos ministros da educação no que toca às políticas públicas para o livro e a leitura, têm um peso forte nessa fatura.
A destruição de livros, como ocorreu na Biblioteca Central da Universidade de Brasília (UnB), ou mesmo o expurgo praticado na Fundação Palmares, tudo isso joga contra o livro.
E a proposta de taxação do livro pelo ministro da economia diz muito a que veio este governo.
A Bienal aqueceu os corações das pessoas e nos fez acreditar que os tempos nebulosos haviam passado. A Bienal de São Paulo é sempre uma festa linda, com a participação em massa de famílias, do público escolar e universitário – então, fica fácil acreditar em um milagre.
Mas quando a gente compara o evento em números, por exemplo, a de 2012 e de 2022, para construir este quadro dentro de uma década, a relação da Bienal com o cenário econômico, político e cultural do país fica muito clara.
E aqui os números mostram algumas surpresas. Ou seja, depois de toda a euforia propalada pela imprensa e pelos organizadores da última Bienal do Livro, o que vemos é o encolhimento do mercado nestes 10 anos.
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Em 2012, a 22ª Bienal de São Paulo recebeu 750 mil visitantes; em 2022, o público caiu para 660 mil
Em 2012, a 22ª Bienal de São Paulo recebeu 750 mil visitantes, 480 expositores, 1.180 autores nacionais e 18 internacionais. Teve 1.350 horas de programação e ocupou a área de 60 mil m2 do Pavilhão de Exposições do Anhembi.
Dez anos mais tarde, o público da 26ª edição caiu para 660 mil, foram 182 expositores (o que demonstra uma participação mais importante de livrarias e distribuidores do que propriamente de editoras), 300 autores nacionais, 30 internacionais e 1.500 horas de programação, tudo isso concentrado no Expo Center Norte, com uma área de 65 mil m2.
Ora, exatamente em 2012 a imprensa assinalava uma queda na produção de livros no Brasil. Naquela época foram contabilizados 57.473 títulos. No ano seguinte, em 2013, a produção sobe 8,29%, chegando aos 62.235 títulos. Em 2021 o Brasil produziu 47.869 títulos, dentre eles, 76% são reedições.
Sim, é preciso celebrar e festejar a Bienal, mas não nos enganemos. O Brasil produzia e vendia muito mais livros naquela época do que nestes últimos anos. A população escolarizada aumentou. O mercado encolheu.
Acordem editores! Acordem livreiros! O Brasil, do jeito que anda, produzirá e venderá muito menos! Definitivamente, nós não vamos sair desta melhor do que entramos.