A AI (Anistia Internacional) denunciou, em relatório divulgado nesta sexta-feira (06/11), que escolas em Serra Leoa estão forçando as alunas a realizarem exames degradantes de gravidez, em público. A ação tem o intuito de reforçar uma lei — formalizada em abril, mas existente há quase uma década — que proíbe meninas grávidas de frequentarem a escola.
One Laptop per Child/Flickr CC
Meninas grávidas são impedidas de frequentar a escola em Serra Leoa
Os testes incluem enfermeiras e professoras apalpando os seios e a barriga das meninas, além de exames de urina, que são feitos em frente dos outros colegas. Assim, a quantidade de garotas frequentando as aulas, mesmo as que não estão grávidas, diminuiu — visto que elas não querem passar pela humilhação de realizar o exame na frente de todos os outros alunos.
“Nós tivemos que nos registar e entrar numa fila com os nossos colegas para poder fazer as provas na esola. As professoras disseram que todas as meninas seriam inspecionadas, porque meninas grávidas não podem fazer provas. Então fomos checadas: elas tocaram nossos seios e nosso estômago. Algumas meninas foram chamadas para realizar testes de urina. A professora estava usando luvas quando nos tocou, mas usou o mesmo par em todas nós, o que é perigoso em tempos de ebola. Me senti muito envergonhada. Algumas meninas não quiseram fazer o exame e foram embora”, relatou uma aluna ,que pediu para não ser identificada, à AI.
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Serra Leoa já possui uma das taxas de gravidez adolescente mais altas do mundo: uma em cada quatro garotas com idades entre 15 e 19 anos já ficaram grávidas, apontou uma pesquisa do governo de 2013.
Segundo a Anistia Internacional, porém, o problema se agravou com a crise gerada pelo ebola. A epidemia que assolou o país em 2014, deixando mais de 3 mil mortos, também aumentou os casos de violência sexual e exploração comercial infantil, além de restringir o acesso a serviços de contracepção emergencial.
De acordo com o Fundo de População das Nações Unidas, durante o surto da doença, mais de 14.300 meninas adolescentes (com idade entre 15 e 19 anos) engravidaram no país. Como resultado, apenas seis em cada dez meninas, com idades entre 15 e 24 anos, são alfabetizadas, enquanto três quartos dos meninos com a mesma idade são letrados.