A ButanVac, candidata a vacina contra a covid-19 desenvolvida pelo Instituto Butantan, apresentou bons resultados em termos de segurança e resposta imunológica na primeira fase de estudos realizados em humanos. Os dados preliminares foram divulgados em artigo publicado na plataforma de pré-prints (versão preliminar, ainda não revisada por outros cientistas) MedRxiv na semana passada e noticiados pela imprensa brasileira nesta segunda-feira (27/09).
A vacina, chamada internacionalmente de NDV-HXP-S, está em desenvolvimento no Brasil, no Vietnã e na Tailândia, de onde provêm os resultados iniciais agora divulgados.
Nesta fase 1 dos ensaios clínicos, 210 adultos saudáveis, com idades entre 18 e 59 anos, receberam duas doses do imunizante com intervalo de 28 dias entre elas.
Segundo o estudo tailandês, randomizado e controlado por placebo, a ButanVac apresentou um “perfil de segurança aceitável” e “imunogenicidade potente”, ou seja, forte capacidade de gerar resposta imune.
Os efeitos colaterais mais comuns relatados pelos voluntários foram dor no local da injeção, fadiga, dor de cabeça e dor muscular. Não houve nenhum efeito adverso grave.
Os ensaios foram financiados pelo Instituto Nacional de Vacinas da Tailândia, o Conselho Nacional de Pesquisa da Tailândia, a Fundação Bill & Melinda Gates e os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA. Participaram pesquisadores da Universidade Mahidol, na Bangkok, da Icahn Escola de Medicina Monte Sinai, de Nova York, e da Universidade do Texas, em Austin.
GovSP/ Fotos Públicas
ButanVac é feita a partir da técnica de vírus inativado, descrita pelo Butantan como uma das mais seguras do mundo
A ButanVac é resultado de um consórcio internacional que tem, como produtores públicos, o Butantan, o Instituto de Vacinas e Biologia Médica do Vietnã e a Organização Farmacêutica Governamental da Tailândia.
Imunizante barato e fabricado inteiramente no Brasil
No Brasil, o início da produção da nova vacina pelo Instituto Butantan foi anunciada pelo governador de São Paulo, João Doria, no fim de abril.
O Instituto Butantan pretende que a ButanVac seja fabricada totalmente no Brasil com custos baixos, sem dependência de insumo importado – o que seria uma grande vantagem em relação à vacina da AstraZeneca e à Coronavac. O Butantan é responsável pelo envasamento local da Coronavac, de origem chinesa. O envasamento, que é a última etapa de produção, é feito a partir de matéria-prima importada da China.
A ButanVac é feita a partir da técnica de vírus inativado, descrita pelo Butantan como uma das mais seguras do mundo, e usa a tecnologia de inoculação do vírus em ovos embrionados de galinhas, a mesma da vacina da gripe.
De acordo com o instituto, além de ser barata e muito disseminada, especialmente em países emergentes, a técnica é uma especialidade do Butantan: o Instituto produz anualmente 80 milhões de vacinas da gripe usando ovos.
A tecnologia da ButanVac, desenvolvida nos Estados Unidos, utiliza um vetor viral que contém a proteína spike do coronavírus de forma íntegra. O vírus utilizado como vetor nesta vacina é o da Doença de Newcastle, uma infecção que afeta aves. Por esta razão, o vírus se desenvolve bem em ovos embrionados, permitindo eficiência produtiva num processo similar ao utilizado na vacina da gripe.
Em contraste com o vírus da influenza, o vírus da Doença de Newcastle não causa sintomas em seres humanos, sendo uma alternativa muito segura na produção. Além disso, o vírus é inativado para a formulação, facilitando sua estabilidade e deixando a vacina ainda mais segura.
Após aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ensaios clínicos da ButanVac também já estão ocorrendo no Brasil – em Ribeirão Preto (SP), Guaxupé (MG), São Sebastião do Paraíso (MG) e Itamogi (MG). Testes também estão em andamento no Vietnã.