A administração da Penitenciária Especial de Punta Peuco, complexo prisional localizado nos arredores de Santiago do Chile, publicou uma nota nas primeiras horas desta segunda-feira (06/09) para confirmar o falecimento de um dos seus internos: Luis Enrique Campos Poblete, de 82 anos, vítima de uma infecção por covid-19.
A morte de Campos Poblete aconteceu no domingo (05/09), mas só foi oficializada nesta segunda. Ela foi a terceira registrada nesse recinto em um período de 24 horas, o que causou muitas reações no país andino, já que o complexo de Punta Peuco não é uma prisão qualquer: está dedicada especialmente a pessoas condenadas por violações aos direitos humanos cometidas durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
Luis Enrique Campos Poblete é ex-comandante da Força Aérea Chilena e foi condenado pela prisão, tortura e assassinato de José Francisco Bordas Paz, dirigente do grupo opositor MIR (Movimento de Esquerda Revolucionária), crimes que teriam ocorrido no ano de 1974.
No sábado (04/09), outros dois internos de Punta Peuco faleceram, também por covid-19. O primeiro óbito foi o de Jaime García Zamorano, ex-coronel do Exército chileno, condenado pelo sepultamento e exumação ilegal de opositores do regime pinochetista ocorridos entre 1974 e 1977. Zamorano tinha 85 anos.
O segundo caso, o mais conhecido entre os ocorridos, foi o de Miguel Estay Reyno, que respondia pelo apelido de “El Fanta”, um ex-agente da CNI (Central Nacional de Informações) de 68 anos de idade que cumpria duas sentenças perpétuas por sua participação no “Caso dos Degolados”. O caso se refere ao sequestro e assassinato de três militantes do Partido Comunista: o professor e historiador Manuel Guerrero, o sociólogo José Manuel Parada e o artista e publicitário Santiago Nattino. Os crimes ocorreram em março de 1985.
Wikicommons
Falecidos eram militares condenados por violação aos direitos humanos em atos ocorridos entre 1973 e 1990
Além dos três falecidos, a Penitenciária de Punta Peuco – que conta com cerca de 83 internos, todos ex-militares e agentes repressores condenados por violações aos direitos humanos – vem registrando casos de covid-19 desde meados do mês de agosto.
O diretor do complexo, Luis Valenzuela Cruzat, afirmou no dia 24 de agosto, em entrevista ao diário digital chileno El Desconcierto, que havia ao menos 27 casos confirmados de covid-19 entre os presidiários e que a situação era preocupante, já que a maioria dos interno são pessoas maiores de 60 anos e possuem fatores de risco, como diabetes e hipertensão.
“Dentro do complexo transitam os trabalhadores do recinto e os familiares dos reclusos e acreditamos que foi uma dessas visitas que trouxe o primeiro contágio”, explicou Cruzat.
Advogados e familiares de alguns dos contagiados – incluindo os de Campos Poblete e García Zamorano, dois dos falecidos – publicaram apelos nos meios de comunicação pedindo um indulto para que eles pudessem passar os seus últimos dias em casa. O pedido foi negado pelo presidente Sebastián Piñera, única autoridade no país com poder para tomar tal medida.
Movimentos de defesa dos direitos humanos criticaram fortemente o pedido de indulto, com o argumento de que a Penitenciária Especial de Punta Peuco seria “um presídio de luxo”, por se tratar de um complexo que possui quadras de tênis, churrasqueiras, campo poliesportivo e áreas de lazer, além de permitir um regime de visitas que não existe em nenhuma outra prisão chilena.