O presidente Jair Bolsonaro enviará o ministro da Cidadania, Osmar Terra, para representá-lo na posse do novo mandatário da Argentina, Alberto Fernández, que vai ocorrer em 10 de dezembro.
Antes mesmo da vitória de Fernández, no final de outubro, Bolsonaro já havia lançando ataques contra o argentino, cuja chapa foi classificada pelo brasileiro como sendo formada por “bandidos de esquerda” – a ex-presidente Chistina Kirchner é vice de Fernández. Bolsonaro ainda fez campanha aberta pela reeleição do atual presidente, Mauricio Macri, que acabou sendo derrotado.
Um dia após a eleição de Fernández, Bolsonaro evitou parabenizá-lo e ainda disse que “os argentinos escolheram mal”. O brasileiro também chegou a levantar a possibilidade de suspender a Argentina do Mercosul.
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Na última sexta-feira, Bolsonaro já havia avisado que não pretendia ir à posse do novo presidente. Especulou-se que o vice-presidente, Hamilton Mourão, seria enviado em seu lugar, sinalizando um possível relaxamento mínimo da tensão.
No entanto, nesta quarta-feira, o próprio Mourão disse ao jornal Folha de S. Paulo que não era esse o caso, afirmando que Terra havia sido escalado como representante. Ao jornal, o ministro confirmou que foi designado para participar da posse.
Segundo a Folha, a decisão de Bolsonaro rompe com uma tradição estabelecida nas relações entre Argentina e Brasil. Essa será a primeira vez em quase 25 anos que um presidente brasileiro não participará da cerimônia de posse de um presidente eleito pelo voto direto no país vizinho.
Nesse período, a única situação próxima ocorreu em 2002, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso não compareceu à posse de Eduardo Duhalde. No entanto, Duhalde havia sido nomeado pelo Congresso argentino, após a renúncia de Adolfo Rodríguez Saá, em meio ao maior desastre econômico da história do país.
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Um dia após a eleição de Fernández, Bolsonaro evitou parabenizá-lo e ainda disse que "os argentinos escolheram mal"
Ainda nesta quarta-feira, Bolsonaro voltou a lançar provocações contra o argentino ao publicar uma mentira no Twitter. Na mensagem, o presidente brasileiro disse que três grandes empresas estrangeiras, a “MWM, fábrica de motores americanos; Honda, gigante dos automóveis; e L'Oréal anunciaram fechamento de suas fábricas na Argentina e sua instalação no Brasil”.
A mensagem dava a entender que a razão da suposta mudança seria a vitória de Fernández. Jornais argentinos chegaram a noticiar a mensagem de Bolsonaro. No entanto, todas as empresas negaram a informação. Bolsonaro apagou a publicação cerca de uma hora depois.
Moção de repúdio
Também nesta quarta-feira, a Comissão de Relações Exteriores da Câmara, presidida pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, aprovou uma moção de repúdio a Alberto Fernández.
A moção, apresentada pelo deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP), acusa o argentino de “desrespeito às decisões das instituições judiciais do Estado brasileiro, quebra de decoro internacional que preza pelas boas relações diplomáticas, ativismo político em questões internas do Brasil e desagravo a uma parcela expressiva da população brasileira”. Foi uma referência ao apoio de Fernández ao ex-presidente Lula, que cumpre pena em Curitiba.
Para o autor da moção, o presidente eleito “sinaliza que não pretende restabelecer canais de diálogo entre os dois países que mantêm relações tão estreitas e importantes”.
Eduardo usou seu Twitter para divulgar a aprovação do requerimento, sem fazer qualquer comentário.
Na semana passada, na mesma rede social, Eduardo já havia publicado uma mensagem provocativa contra o argentino, mirando seu filho, Estanislao Fernández, que é gay e se veste de drag queen.
Na publicação, o deputado compartilhou uma postagem de outro usuário que comparava os filhos dos presidentes brasileiro e argentino: ela trazia uma foto de Eduardo cercado de armas e outra de Estanislao fantasiado de Pikachu, do desenho Pokémon.
Estanislao respondeu à provocação, em português: “Irmãos brasileiros, estamos juntos nessa luta. Os amo”.