O premiê do Iraque, Muhammad al-Sudani, pediu nesta quarta-feira (10/01) a retirada dos cerca de 2,5 mil militares dos Estados Unidos ainda presentes no país. Em comunicado, ele afirmou que Bagdá deseja uma “saída rápida e ordenada” das forças da coalizão internacional liderada por Washington e formada com o objetivo de combater o grupo terrorista Estado Islâmico (ISIS).
A presença de tropas norte-americanas, segundo Sudani, é “desestabilizadora”. Os Estados Unidos operam no Iraque e na Síria desde 2014, mas o ISIS foi declarado derrotado militarmente nesses dois países em 2017 e 2019, respectivamente, embora siga atuante com tropas remanescentes. No entanto, o premiê iraquiano afirmou que o país ainda não definiu uma data para a negociação de uma rápida e ordenada retirada das forças do seu território.
Nos últimos meses, se intensificaram os embates entre forças iraquianas pró-Irã e tropas norte-americanas devido à guerra entre o grupo palestino Hamas e Israel, principal aliado de Washington no Oriente Médio. Na quinta-feira passada (04/01), os Estados Unidos bombardearam Bagdá pela primeira vez em quatro anos, matando o líder de um grupo armado ligado ao governo e apoiado pelo Irã.
As exigências para a retirada da coligação norte-americana do Iraque, feitas principalmente por grupos muçulmanos xiitas, estão ligados ao Irã e ganharam força após uma série de ataques dos EUA a grupos armados ligados ao país persa e que também estão no Iraque, segundo a Reuters.
Os receios de que o Iraque possa voltar a ser um local de conflito no Oriente Médio foram despertados por esses ataques, que foram realizados em retaliação a dezenas de investidas com drones e mísseis contra soldados norte-americanos desde que Israel iniciou a sua guerra em Gaza.
Al-Sudani disse à Reuters que é importante reorganizar a relação entre Bagdá e a coalizão internacional para garantir que não seja usada como alvo por qualquer parte interna ou externa para minar a estabilidade do Iraque e da região.
Ali Abdul Hassan
Soldados e jornalistas dos EUA perto de uma cratera causada pelo bombardeio iraniano na base aérea de Ain Al-Asad, no oeste do Iraque
O premiê iraquiano destacou a importância de um prazo curto para a retirada da coligação, para evitar que as forças permaneçam por muito tempo e os ataques continuem. Al-Sudani também compreende que a possibilidade de escalada regional só poderia ser eliminada com o fim da guerra de Israel em Gaza.
O Pentágono afirmou na segunda-feira (08/01) que, atualmente, não pretende retirar os seus 2.500 norte-americanos do país. “No momento, não tenho conhecimento de nenhum plano. Continuamos muito focados na derrota da missão do ISIS”, disse o secretário de imprensa do Pentágono, major-general Pat Ryder.
“As forças dos EUA estão no Iraque a convite do seu governo”, acrescentou Ryder.
Segundo o Pentágono, os militares norte-americanos realizaram um ataque aéreo na semana passada em retaliação as recentes agressões às tropas dos Estados Unidos com bases no Iraque e na Síria.
Desde a eclosão da guerra entre Israel e o Hamas em outubro passado, as forças dos Estados Unidos e internacionais no Iraque e na Síria foram atacadas mais de 100 vezes.
Irã apoia Iraque para expulsar os EUA
O Irã demonstrou apoio aos apelos do Iraque para expulsar a coalizão liderada pelos Estados Unidos de seu território após a morte de um comandante pró-Irã em Bagdá.
“Em relação ao Iraque e às ações que o governo norte-americano tomou recentemente, o governo iraquiano anunciou claramente a sua posição”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Nasser Kanani, numa conferência de imprensa nesta segunda-feira.
O Irã está confiante de que o seu vizinho tem “capacidade, força e autoridade necessárias para manter a segurança” apenas no seu território.
O ataque que matou um comandante militar e outro membro do Harakat al-Nujaba, uma facção de Hashed al-Shaabi, foi qualificado pelos EUA como um ato de autodefesa, mas o governo do primeiro-ministro Sudani condenou-o como um ato de “agressão flagrante” por parte dos norte-americanos.
Outros parceiros da coligação no Iraque incluem França, Espanha e Grã-Bretanha.
(*) Com Ansa.