A organização não governamental Anistia Internacional apresentou nesta sexta-feira (17/02) um informe que denuncia o uso de violência excessiva por parte da Polícia Nacional do Peru (PNP) durante as manifestações contra o governo de Dina Boluarte. O documento afirma que as forças de segurança do país andino têm violado sistematicamente os direitos humanos dos manifestantes.
Segundo o texto de conclusão do informe, “há indícios de que a PNP vem cometendo abusos que vão desde detenções arbitrárias até execuções extrajudiciais. Este último caso se sustenta no uso de armas letais durante os protestos, o que configura um ato consciente de colocar em risco a vida das pessoas que protestam”.
O relatório também afirma que “as forças de segurança atiraram não só nas pessoas que usaram a violência, mas também nas que estavam fugindo da repressão policial ou até mesmo dos manifestantes violentos”.
A advogada mexicana e diretora da Anistia Internacional para as Américas, Erika Guevara, disse observar uma postura de conivência por parte das instituições, já que as autoridades estão cientes dos abusos cometidos pelos policiais durante as manifestações nos últimos dois meses.
Divulgação / Anistia Internacional
Érika Guevara, diretora da Anistia Internacional para as Américas, ao lado de familiares de vítimas da repressão policial no Peru
“As forças de segurança não têm tido capacidade de distinguir entre grupos geradores de violência e entre manifestações legítimas. Essa falta de distinção já produziu um saldo de 1,2 mil pessoas com ferimentos graves, além de dezenas de vítimas fatais”, acrescentou Guevara.
A Anistia Internacional reconhece que não há um consenso sobre o número total de mortos durante as manifestações, mas que considera que ao menos 46 deles podem ser atribuídos à ação abusiva da PNP. Outras entidades, como a Coordenadora Nacional de Direitos Humanos do Peru (CNDDHH) contabiliza 63 mortes.
Antes de apresentar o informe preliminar, Guevara se reuniu com a presidente Dina Boluarte, que não reconheceu as violações de direitos humanos denunciadas pela entidade internacional.
“A presidente quis esclarecer que não deu ordem para o uso de armas letais. No entanto, a realidade é diferente. Armas letais foram usadas. Vimos isso em Ayacucho. A narrativa do Estado está longe da realidade e das evidências videográficas”, comentou a diretora.