No programa 20 MINUTOS desta sexta-feira (17/02), Breno Altman entrevistou o jornalista e historiador indiano Vijay Prashad, diretor-executivo do Instituto Tricontinental, considerado um dos maiores intelectuais marxistas da atualidade, em uma conversa sobre o atual cenário geopolítico, marcado pela crescente polarização entre China e Estados Unidos, e sobre as consequências da guerra entre a Rússia [aliada de Pequim] e a Ucrânia [apoiada pela OTAN, e portanto por Washington].
Segundo Prashad, um dos elementos para entender o atual cenário global é o enfraquecimento dos Estados Unidos como máxima potência econômica e militar. Apesar de ainda que considerar o país norte-americano superior aos seus principais adversários geopolíticos, “é visível esse profundo debilitamento do poder político, econômico e militar nos últimos cinco anos, ou na última década”.
“A Guerra da Ucrânia está mostrando que esse enfraquecimento é real, não é apenas uma teoria. Está absolutamente claro que os Estados Unidos estão sofrendo com o fim dessa unipolaridade, em sua dificuldade de lidar com uma China que está emergindo como ator relevante no cenário global, com seu chanceler viajando para oferecer negócios aos países da África por exemplo, enquanto as visitas dos representantes dos Estados Unidos não levam oportunidades, apenas um alerta de ‘não negocie com a China’. Isso nos dá a noção de como essa ordem unipolar está desaparecendo”, analisou o historiador
O convidado também lembrou que a Guerra entre Rússia e Ucrânia poderia ter sido contornada em março de 2022, quando delegações de ambos os países chegaram a iniciar diálogos buscando um acordo de cessar-fogo, que não aconteceu devido a pressões dos países do Ocidente e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
The Walter Rodney Foundation
Jornalista e historiador Vijay Prashad disse esperar que Lula seja capaz de liderar a comunidade de países do Sul global
“Quando havia a perspectiva de um acordo, o então primeiro-ministro britânico Boris Johnson viajou às pressas a Kiev e se reuniu com Zelenski. Dias depois foi a vez do secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin. E ambos foram até a Ucrânia para pressionar o governo local a não selar um acordo com a Rússia que levasse ao fim da guerra”, recordou.
Sobre suas expectativas a respeito do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil, Prashad disse que “espero ver em seu novo governo a expressão de um novo tipo de liderança progressista e representativa do Sul global, uma liderança mais sensível socialmente”.
“Estamos vendo diferentes países manifestando intenções de adotar uma política não alinhada automaticamente com os Estados Unidos, mas acredito que muitos desses países não possuem uma liderança com credibilidade, capaz de abrir o caminho [de uma aliança entre eles]. Então, eu espero que, no cenário internacional, o Lula ajude a reviver um Brics de centro-esquerda, a reviver uma comunidade de países não alinhados [com os Estados Unidos]”, explicou o jornalista e historiados indiano.