A Justiça Federal da Argentina iniciou um processo nesta quinta-feira (17/08) contra um ex-oficial da Polícia de Buenos Aires, acusado de ter se apropriado do filho de Cristina Navajas de Santucho, presa política que deu à luz enquanto era presa política da última ditadura do país – que durou de março de 1976 até dezembro de 1983.
Cristina foi raptada pelos agentes da repressão em 13 de julho de 1976, quando estava grávida do terceiro filho junto com seu marido, Julio Santucho – ambos eram militantes do Partido Revolucionário dos Trabalhadores da Argentina, considerado “terrorista” pelo regime ditatorial.
Segundo a denúncia apresentada pela Procuradoria Federal argentina e aceita pelo juiz federal Ernesto Kreplak, o bebê de Cristina teria nascido em alguma data entre janeiro e fevereiro de 1977. A militante opositora jamais foi vista novamente, por isso é considerada uma desaparecida política.
A verdadeira identidade do filho de Cristina foi revelada em julho passado pela organização Avós da Praça de Maio, dedicada a investigar o paradeiro de cerca de 500 crianças desaparecidas durante a ditadura. Ele não teve seu verdadeiro nome divulgado, mas ficou conhecido como “neto 133”, por ter sido a 133ª pessoa cuja identidade foi recuperada pelas Avós.
Avós da Praça de Maio
Camilo e Julio Santucho, irmão e pai biológicos do neto 133, durante evento que anunciou a descoberta de sua identidade
A Justiça argentina não revelou o nome do agente da repressão que se apropriou do bebê de Cristina Navajas. O comunicado apresentado à imprensa afirma que se trata de um homem que foi oficial da Polícia de Buenos Aires entre os anos de 1959 e 1980 e que recebeu várias medalhas e distinções, especialmente nos últimos cinco anos de sua carreira – que coincidem com os primeiros anos da ditadura.
O jornal Página/12 confirma que o oficial acusado pelo sequestrou foi levado a interrogatório a pedido do juiz Kreplak, mas optou por se manter em silêncio, por determinação dos seus advogados.
O neto 133 será uma das testemunhas, mas tanto a Procuradoria quanto os representantes jurídicos das Avós da Praça de Maio – que auxiliam no caso – solicitaram um adiamento do seu depoimento, para que ele possa colaborar com as investigações quando estiver preparado.
“O mais importante é respeitar os tempos do neto 133, que só recentemente soube que era filho de Cristina e Julio, e que está em processo de aproximação com a família que ele acaba de descobrir que é a sua verdadeira família”, explicou a procuradora adjunta Ana Oberlin, uma das responsáveis pelo caso.
Com informações do Página/12.