A imprensa colombiana deu pouca repercussão ao assassinato de Cristian Salinas, ex-combatente das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), ocorrida no último sábado (07/01), na região do Vale do Cauca.
No entanto, uma reportagem do jornal espanhol El País, da jornalista Sally Palomino, cobriu o velório, conversou com alguns de seus ex-companheiros de Salinas e constatou o clima de incerteza que muitos sobreviventes da organização sentem diante da série de assassinatos de membros das FARC que assinaram os Acordos de Paz de 2016.
O de Salinas foi apenas mais um caso de uma lista que já supera os três dígitos: segundo um informe da Organização das Nações Unidas (ONU), já foram assassinadas 355 pessoas que assinaram os Acordos de Paz em Havana, no ano de 2016.
A reportagem do El País entrevistou Carlos Marín, companheiro de Salinas nas FARC, quem afirmou que “os que assinaram a paz estão em risco de sofrer um extermínio, como ocorreu com a União Patriótica nos Anos 80 e 90”.
A União Patriótica é um partido de esquerda colombiano que sofreu uma série de atentados contra seus dirigentes após o resultado das eleições regionais de 1988, quando elegeu dezenas de prefeitos e milhares de vereadores, se transformando na terceira força política do país – atrás do Partido Liberal e do Partido Conservador, ambos de direita.
Twitter / La Voz del Pueblo
Bandeira do partido Comunes, que representa as antigas FARC, estendida durante o velório de Cristian Salinas
Ainda segundo Marín, a banalização dos casos de assassinatos de ex-combatentes pode colocar em risco os Acordos de Paz, devido ao temor que esta situação provoca entre os ex-membros das FARC. “A morte de um ex-combatente era notícia há cinco anos. Agora já não é mais”, lamenta.
O último informe sobre os assassinatos de membros das FARC realizado na Colômbia foi produzido em 2020 pela Juizado Especial para a Paz (JEP), organismo criado pelos Acordos de Paz. O documento indica que a maioria dos ex-combatentes assassinados é composta por homens de entre 25 e 44 anos, que cumpriam papel subalterno dentro da organização.
O informe também detalha que os assassinatos ocorreram quase todos em zonas rurais da Colômbia, e utilizaram armas de fogo – as vítimas, geralmente, faleceram após serem atingidas por tiros na cabeça ou no tórax.
Ademais, se especificou que houve 11 assassinatos de mulheres ex-combatentes. Entre as vítimas também há 48 afrocolombianos e 33 de etnias indígenas.
A Colômbia assinou os Acordos de Paz com as FARC em 2016, durante o governo do ex-presidente Juan Manuel Santos, e atualmente, tenta chegar a um novo acordo, com o Exército de Libertação Nacional (ELN), em negociação promovida pelo atual presidente, Gustavo Petro.