A Terceira Corte de Assis do Tribunal de Roma decidiu manter no dia 9 de novembro a audiência do processo contra o torturador uruguaio Jorge Nestor Troccoli, acusado de crimes ocorridos nos anos 70/80, sob a batuta da Operação Condor.
A Justiça italiana chegou a adiar a audiência para fevereiro de 2024, em decisão anunciada na segunda-feira (23/10), porque a Argentina não havia ainda dado uma resposta à carta rogatória enviada pela justiça italiana em setembro passado na qual solicitava o depoimento por videoconferência de testemunhas do caso.
Em um comunicado enviado nesta terça-feira (24/10) aos advogados do caso, a juíza presidente da corte, Antonella Capri, informou que a resposta havia chegado e que manteria então a audiência de novembro.
Jorge Nestor Troccoli tem 81 anos e é um ex-oficial do serviço secreto da marinha uruguaia (Fusna). Ele fugiu de seu país para não ser processado, mas caiu nas garras da justiça italiana e foi condenado junto com outros torturadores de ditaduras do Cone Sul, a prisão perpétua em julho de 2021.
Troccoli está preso na penitenciária Gian Battista Novelli, em Carinola, na província de Caserta. Ele agora responde pelo assassinato e desaparecimento do casal ítalo-argentino Rafaela Filipazzi e José Agustín Potenza e pelo desaparecimento da professora uruguaia Elena Quinteros, militante do Partido da Vitória do Povo (PVP).
Tortura era uma condição de rigor
Quando ainda vivia no Uruguai, Troccoli escreveu e publicou A ira de leviatã, onde, além de reivindicar seus crimes e pretender ser reconhecido como um homem a serviço do Estado, ele tenta justificar a repressão e a tortura.
Sitios de Memoria Uruguay
Militar uruguaio fugiu da América Latina para para não ser processado em seu próprio país e reside atualmente em solo italiano
Para o uruguaio, “a tortura era uma condição de rigor e era um procedimento normal na Fusna. Consistia em manter por várias horas os prisioneiros em pé, encapuzados, sem beber e sem comer. Mas torturar sadicamente e perversamente, não”, declarou em depoimento anos atrás.
As vítimas
Elena Quinteros foi sequestrada em Montevidéu em 24 de junho de 1976 e levada para um centro de detenção clandestino. Em 28 de junho, ela fingiu que entregaria um companheiro numa zona próxima à embaixada da Venezuela. Quinteros conseguiu escapar e entrar nos jardins da sede diplomática, onde pediu asilo, mas oficiais uruguaios entraram na embaixada e a prenderam.
O fato gerou uma ruptura das relações diplomáticas entre os dois países. Quinteros era militante do Partido Vitória do Povo (PVP) e foi levada para o centro de tortura chamado “300 Carlos – o Inferno Grande”. Depois disso, nunca mais foi encontrada. Em uma ficha dos arquivos do Fusna ela aparece como morta entre os dias 2 e 3 de novembro de 1976.
O casal Filipazzi e Potenza foram seqüestrados em Montevidéu em 27 de maio de 1977 no Hotel Hermitage e entregues à unidade S2 dos Fuzileiros Navais (Fusna). Tempos depois, foram transportados de avião para Assunção e recebidos por agentes da ditadura de Alfredo Stroessner.
Segundo as investigações, eles foram assassinados no Paraguai, onde seus restos mortais foram encontrados, em março de 2013.
Opera Mundi é o único veículo da imprensa brasileira, que desde 2015, acompanha os julgamentos na Itália dos crimes cometidos por torturadores do Cone sul no âmbito da Operação Condor.