“Meu pai era muito violento e estou aqui por uma causa nobre. Estou aqui pela minha mãe e por todas as mulheres que morrem todos os dias”, foi a frase repetida diversas vezes por Aloha de la Queiroz, uma multiartista que chamou a atenção de quem estava na Avenida Paulista, neste 8 de março de 2024, por suas vestimentas propriamente customizadas que manifestavam a legalização do aborto.
Apesar do fim da tarde chuvoso, o Dia Internacional das Mulheres, celebrado em âmbito global e nacional, reuniu mais de três mil pessoas no vão do Museu de Arte de São Paulo (Masp), em São Paulo. A mobilização decorada de uma variedade de bandeiras e faixas representou diversas pautas que envolvem diretamente a vida das mulheres, como a luta pela democracia, pelos direitos humanos e trabalhistas, pela legalização do aborto seguro e contra a violência vivenciada no cotidiano.
A Opera Mundi, a secretária Estadual de Mulheres do PT de São Paulo, Fernanda Curti reconheceu que o governo do presidente Lula retomou políticas importantes ao mencionar, entre elas, a reativação do Ministério da Mulher. No entanto, ela salientou que ainda é preciso mais ações.
“No Estado de São Paulo, nós temos 645 municípios. Mais da metade não tem uma mulher eleita na Câmara Municipal. É uma grave distorção da democracia considerando que nós, mulheres, somos maioria nesse país. Nós só somos minoria política, mas maioria social e maioria econômica”, explicou Curti, acrescentando que a organização política cria “inúmeras barreiras para dificultar a participação” das mulheres.
“A misoginia desse país odeia mulheres a todo momento, eu tenho uma mulher sendo violentada, agredida e assassinada a todo momento”, afirmou a secretária.
Um dos diferenciais do evento, que é anual, foi a ênfase dada à guerra em Gaza, uma vez que as ações de Israel contra o povo palestino estão “muito mais expostas”, como contou a Opera Mundi a advogada Janaína dos Reis, da direção executiva do movimento Mulheres em Luta, da CSP-Conlutas:
“O Estado de Israel escolheu um público para matar e está matando mulheres, crianças e idosos. Estão matando as crianças sobretudo. As mulheres palestinas hoje passam pelo pior que poderiam passar. Estão vendo seus filhos sendo assassinados”, disse Janaína. “Estamos falando de uma população que se defende com um estilingue de um Estado que está atirando mísseis”.
Luka Franca, que é secretária de organização Estadual do Movimento Negro Unificado, associou a luta das mulheres negras com a das palestinas:
“O Brasil tem inúmeras mortes de pessoas negras que se compara a países em guerras civis e isso precisa ser tratado. E nós do movimento negro apoiamos a Palestina porque temos uma irmandade contra países que sofrem colonização”, afirmou Franca, acrescentando a existência do caráter misógino em qualquer “projeto de dizimação” como o que ocorre em Gaza.
“Como em qualquer processo de massacre, as primeiras que sofrem são as mulheres e as crianças”, ressaltou.