Atualizado com resposta da Funai
O presidente da Funai, Marcelo Xavier, foi expulso a gritos de um evento em Madri, na Espanha, que debatia a questão indígena. Xavier estava sentado em um auditório e, após um palestrante encerrar a fala, um homem foi até a frente do palco e demandou que ele deixasse o local.
“Marcelo Xavier é inimigo de vocês [indígenas]”, gritou o homem, apontando para Xavier. “Esse homem é um miliciano. É amigo de um governo golpista que está ameaçando a democracia no Brasil. Esse homem não pertence aqui”, prosseguiu.
O episódio aconteceu na 15ª Assembleia Geral da FILAC, o Fundo para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e Caribe. Xavier foi chamada ainda de “bandido” e “assassino”.
URGENTE! Marcelo Xavier, presidente miliciano da FUNAI, é expulso de um evento da ONU em Madri! Compartilhem! pic.twitter.com/zf537y5Ohh
— RICARDO RAO (@RICARDORAO7) July 21, 2022
“Esse homem é responsável pela morte de Bruno Pereira. Esse homem é responsável pela morte de Phillips”, continuou o homem. Constrangido, Xavier se retirou do auditório sem rebater as acusações, escoltado por seguranças.
O homem que expulsou o presidente da Funai é Ricardo Rao, ex-funcionário da Funai. Ele foi colega do indigenista Bruno Pereira, assassinado no Vale do Javari.
Wikicommons
Episódio aconteceu na 15ª Assembleia Geral da FILAC, o Fundo para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e Caribe
Ao site Amazônia Real, Rao afirmou que deixou o Brasil em 2019 após colecionar ameaças de morte por fazer o trabalho de fiscalização semelhante ao de Pereira.
“Desde o Bruno, eu não durmo direito. É uma culpa muito grande. Um cara gente fina, um rondoniano clássico, um exemplo pra nós”, afirmou o indigenista ao Amazônia Real.
Após o episódio, a Funai declarou:
A Fundação Nacional do Índio (Funai) vem a público manifestar repúdio aos ataques verbais proferidos contra o presidente da fundação, Marcelo Xavier, nesta quinta-feira (21), em Madri, na Espanha, durante a XVI Assembleia Geral Extraordinária do Fundo para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e do Caribe (Filac).
A Funai lamenta o ocorrido e destaca que tais atitudes são irresponsáveis, violentas e antidemocráticas, inviabilizando, assim, qualquer tipo de diálogo sadio e producente, que deve ser sempre pautado no respeito entre as partes. A fundação entende que não se constroem políticas públicas na base de ofensas e argumentos destituídos de fundamento e provas. Tais atitudes não são compatíveis com o Estado Democrático de Direito.
A fundação informa ainda que, sobre o caso, foram tomadas providências junto à Polícia Judiciária da Espanha. É importante ressaltar que, por motivos de segurança, o presidente da Funai optou por sair voluntariamente do local do evento, dada a atitude hostil e agressiva do manifestante. Inclusive, os lamentáveis ataques serão objeto de ação judicial por crime contra a honra e ação de indenização por danos morais.
O manifestante que proferiu de forma agressiva os ataques verbais foi funcionário da Funai até o ano de 2020, tendo sido exonerado na ocasião por não ter cumprido as condições de estágio probatório. Por fim, a fundação reforça que, enquanto instituição pública, calcada na supremacia do interesse público, não coaduna com nenhum tipo de conduta ofensiva, repudia qualquer forma de desrespeito e segue aberta ao diálogo com os diferentes setores da sociedade.