Centenas de pessoas se reuniram nesta segunda-feira (26/12), em Paris, para uma marcha pacífica em homenagem aos três curdos assassinados a tiros, na sexta-feira (23/12), nas proximidades de um centro cultural curdo. Um aposentado francês de 69 anos reconheceu o crime e explicou ter agido por “ódio aos estrangeiros”.
Pequenos altares com fotos das vítimas, velas e flores foram erguidos na calçada no local onde as vítimas foram assassinadas.
O cortejo começou por volta das 12h30, em Paris (8h30 em Brasília), e subiu à rua d’Enghien, onde aconteceu o ataque, em direção à rua Lafaiyette, no 10º distrito de Paris, onde três outros militantes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão, o PKK, foram assassinados em 9 de janeiro de 2013, um caso até hoje não elucidado.
Os manifestantes diziam em curdo: “nossos mártires não morrem” e em francês “mulheres, vida, liberdade” e pediam “verdade e justiça”.
Logo depois do ataque, os curdos da França denunciaram um ato “terrorista” e acusaram a Turquia.
“Nós decidimos vir assim que ouvimos falar deste ataque terrorista sexta-feira (…) Nós temos medo da comunidade turca e dos serviços secretos”, declarou em inglês à agência AFP uma jovem curda que viajou de Roterdã, na Holanda, para se manifestar em Paris e que preferiu permanecer anônima, por medo de represálias.
Frequentemente descritos como o maior povo do mundo sem Estado, os curdos são um grupo étnico muçulmano repartido entre a Síria, a Turquia, o Iraque e o Irã.
O autor confesso do ataque já era conhecido da polícia por ter realizado outros atos de violência com armas anteriormente. A prisão preventiva do aposentado foi relaxada na manhã desta segunda-feira (26/12) e ele foi apresentado a um juiz de instrução para ser indiciado.
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Curdos marcham pelo centro de Paris em protesto contra atentado racista contra membros da sua comunidade
Fato político grave
Jean-Luc Mélenchon, líder do partido A França Insubmissa publicou em seu blog, nesta mesma segunda-feira, que não acreditava em “acaso” e pediu que a promotoria antiterrorista cuidasse do caso.
“Não acreditamos que o assassino foi por acaso ao lugar e na hora de uma reunião de mulheres curdas para preparar a comemoração do assassinato, há dez anos, de três dirigentes curdos”, escreveu Mélenchon, lembrando que os assassinatos ainda não foram elucidados e estão, segundo ele, classificados como “ultra-secretos”.
O Ministério Público de Paris abriu uma investigação por assassinato, tentativa de assassinato, violência voluntária com arma e infração à legislação sobre armas, que foi atribuída à polícia judiciária. Mas o Ministério Público nacional antiterrorista não foi acionado.
“Claro que não podemos pensar em nada sem considerar a Turquia”, continuou Mélenchon. Para ele, o “assassinato de curdos em 23 de dezembro não é um ataque banal”, mas sim “um fato político grave de segurança interior e exterior”, concluiu.