Armin Laschet é atualmente governador do mais populoso estado alemão, a Renânia do Norte-Vestfália – em princípio, o trampolim ideal para sua ambição de ser o próximo chanceler federal da Alemanha. E, de fato, quando, em janeiro de 2021, ele foi eleito presidente da União Democrata Cristã (CDU), da chefe de governo Angela Merkel, o partido liderava confortavelmente as pesquisas de intenção de voto.
Desde então, contudo, a legenda de centro-direita perdeu mais de dez pontos percentuais, e a popularidade de seu candidato principal está abaixo das dos concorrentes Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), e Annalena Baerbock, do Partido Verde.
Laschet se encontra sob enorme pressão: sua campanha se arrasta, com cada nova consulta confirmando o declínio da CDU e de sua irmã União Social Cristã (CSU), da Baviera na preferência do eleitorado.
Em resposta. ele partiu para a ofensiva nos debates ao vivo com seus adversários, apelou por apoio na convenção partidária da CSU e nomeou uma “equipe para o futuro”, um espécie de gabinete paralelo. É duvidoso se tudo isso terá valido a pena, uma vez que a votação postal para o pleito geral de 26 de setembro já começou.
Uma gafe atrás da outra
Com 60 anos de idade, relativamente baixo para padrões alemães (1,72 metro), Laschet é um político jovial e amigável, que fala com sotaque regional renano e se sente à vontade em evocar bipartidarismo e amabilidade a cada oportunidade. Sintetizando sua tentativa de unir as alas direita e esquerda da CDU, a frase “Só vamos vencer se permanecermos fortes no centro” é ouvida com frequência em seus discursos.
Durante a campanha eleitoral, contudo, ele transmitiu uma impressão de indefinição. O que, perguntaram-se muitos, o candidato democrata-cristão realmente defende?
Quando partes da Alemanha, em especial seu estado natal, foram atingidas por devastadoras enchente em julho, a mudança climática saltou para o topo da lista dos temas eleitorais. Porém Laschet não prestou o devido tributo a essa guinada.
“Só porque hoje é um dia desses, a gente não vai mudar a política”, foi seu comentário numa entrevista televisiva, num momento em que muitos já cogitavam formas de se adaptar às intempéries extremas e combater o aquecimento global. Poucos dias mais tarde, Laschet faria um giro de 180 graus, declarando: “Todos nós temos que fazer o possível para combater a mudança climática”.
Observadores acusam excesso de fragmentação e inconstância nos comprometimentos de política do candidato conservador. Numa entrevista a um entrevistador persistente, amplamente compartilhada nas redes sociais, ele não conseguiu citar mais de que digitalização e mudança climática, como as áreas que pretende focar, caso eleito chanceler federal.
Imagens infelizes prejudicaram ainda mais a campanha de Laschet. Durante uma visita conjunta às regiões inundadas, com o presidente Frank-Walter Steinmeier, as câmeras pegaram Laschet rindo e aparentemente partilhando uma piada com autoridades locais, justo quando o chefe de Estado alemão falava de choque e apreensão profunda pelos residentes, muitos dos quais haviam perdido tudo na catástrofe.
O democrata-cristão rapidamente expediu uma desculpa por seu comportamento indevido, e repetiu-a várias vezes nos dias seguintes. O que não impediu as imagens de viralizarem, sob o hashtag #Laschetlacht (Laschet ri).
Reprodução/Facebook Armin Laschet
De um início de campanha promissor, candidato dos partidos cristãos alemães CDU/CSU enfrenta taxas de popularidade em queda
Fiel a Merkel… mas não tanto
Ao ser foi eleito chefe de partido, para muitos Armin Laschet era o principal paladino do curso político de Merkel. O ex-advogado, com incursões no ensino e no jornalismo, um dos cinco chanceleres federais da CDU desde 2012, há muito era considerado uma mão direita confiável para a chanceler federal.
Quando Merkel encarou a oposição de partes de sua sigla por sua “política de boas vindas” para o ingresso de centenas de milhares de migrantes, a partir de 2015, Laschet manteve-se do lado dela.
Na esteira das panes e fiascos na luta contra a pandemia de covid-19, entretanto, Laschet pouco a pouco se distanciou de Merkel. Esta, por sua vez, passou a se empenhar em favor do candidato democrata-cristão quando a campanha deste começou a ir mal, apenas semanas antes das eleições. Desde então, Merkel saiu do seu papel discreto no pleito e passou a criticar publicamente o social-democrata Scholz, principal adversário de Laschet.
Laschet tem mais experiência política do que Merkel tinha ao assumir a chefia do governo alemão, já tendo ocupado cargos nos níveis municipal, estadual e federal, assim como no Parlamento Europeu. Além disso, é o que se pode denominar um “europeu de verdade”.
Ele cresceu na fronteira da Bélgica, onde também tem raízes familiares, e fala fluentemente francês. Desde 2019, é também o representante da Alemanha para as relações franco-alemãs, mantendo conexões estreitas com a liderança política em Paris.
Para se tornar o candidato conservador à Chancelaria Federal, Laschet teve que derrotar Markus Söder, líder da CSU e também favorito da ala mais conservadora da CDU. Este projeta uma imagem dinâmica, progressista, até mesmo carismática – o que seus críticos chamam de oportunismo. O fato é que nas pesquisas de opinião o político de 54 anos sempre esteve muito à frente do católico natural de Aachen.
Coalizão com liberais, verdes ou até social-democratas
Na Renânia do Norte-Vestfália, Laschet lidera uma coalizão com o Partido Liberal Democrático (FDP), e não faz segredo que a sigla pró-livre mercado também seria sua parceira predileta em Berlim.
Por outro lado, uma aliança com os verdes também seria perfeitamente cogitável. A história de Laschet com o Partido Verde data de 1994, pois, logo após ser eleito para o parlamento federal (Bundestag), ele rapidamente ajudou a estabelecer uma relação entre sua CDU e os ambientalistas.
Como é improvável que dois partidos obtenham a maioria no novo parlamento, provavelmente a opção preferencial de Laschet será uma aliança tríplice com o FDP e os verdes. Tampouco se descarta uma coligação com os social-democratas, parceiros minoritários de Merkel nos últimos oito anos.
Por outro lado, se a CDU/CSU não conseguir se manter como bloco mais forte no futuro Bundestag, Laschet não terá muito o que fazer no nível federal, nos próximos anos.