O presidente do Peru, Francisco Sagasti, pediu nesta sexta-feira (18/06) que o Ministério Público abra uma investigação para apurar um grupo de militares aposentados por “incitar anulação de eleições” após a emissão de uma carta falando em supostas fraudes no pleito presidencial.
A carta assinada por militares aposentados das Forças Armadas, e enviada ao órgão militar, diz que o Exército, a Marinha e a Aeronáutica do Peru não devem reconhecer Pedro Castillo, vencedor das eleições que ocorreram no dia 6 de junho, como presidente.
“É inaceitável que um grupo de aposentados das Forças Armadas tente incitar o alto comando do Exército, da Marinha e da Aeronáutica a quebrar o Estado de Direito. Na minha qualidade de presidente constitucional da República, rejeito este tipo de comunicação que não só é contrária aos valores e às instituições democráticas, mas também está em conflito com a Constituição e as leis”, disse o atual mandatário.
Com 100% das atas contabilizadas pelo Órgão Nacional de Processos Eleitorais (ONPE) e uma apuração que levou quase duas semanas, o candidato do Peru Livre obteve 50,125% dos votos válidos, contra 49,875% de Keiko Fujimori, do Força Popular, vencendo o segundo turno das eleições presidenciais do país.
Sagasti afirmou que pediu à ministra da Defesa, Nuria Esparch, para apurar possíveis crimes e, assim, coordenar o envio do documento ao Ministério Público a fim de dar seguimento às “investigações necessárias para apurar possíveis condutas lesivas da ordem constitucional”.
Em comunicado, o presidente ainda observou que “em uma democracia”, as Forças Armadas “não são deliberativas, mas absolutamente neutras e escrupulosamente respeitadoras da Constituição”.
As Forças Armadas e o Ministério da Defesa (Mindef) já anunciaram que não irão responder a esta carta por ser considerada de origem duvidosa, uma vez detectado que pelo menos cinco dos signatários já morreram.
Entre os vivos que assinaram a carta, estão quatro generais de divisões do Exército aposentados, 17 vice-almirantes aposentados e 27 tenentes-generais aposentados. Vários deles, segundo informou o jornal peruano La República, serviram durante o regime de Alberto Fujimori e estiveram envolvidos em casos notórios, como a Caixa de Pensão Militar da Polícia e a compra de equipamentos de guerra.
Francisco Sagasti
Presidente rejeitou documento que acusa eleição de irregular, chamando-o de inconstitucional
“Como Chefe Supremo das Forças Armadas e da Presidência da República, garanto a neutralidade e exijo que sejam respeitadas. Exorto o público a manter a calma e a serenidade nos tempos difíceis que vivemos poucos dias após as comemorações do bicentenário da nossa independência ”, finalizou o presidente.
As alegações de supostas irregularidades na campanha, encabeçadas por Keiko Fujimori, já foram desmentidas pelo Júri Eleitoral Nacional (JNE) do Peru e comissões de observadores internacionais que acompanharam o segundo turno no país.
A Missão de Observação da União Interamericana de Organizações Eleitorais (Uniore) indicou, por meio da JNE, que as eleições foram bem-sucedidas e reconheceu todo o processo eleitoral.
A filha do ex-ditador Alberto Fujimori chegou a dizer que a “esquerda internacional” estaria tentando modificar o resultado do pleito. Ela alega, sem apresentar provas, que houve fraude nas eleições e tenta anular pelo menos 200 mil votos – a maioria no sul, região onde Castillo foi vitorioso.
Chefes dos 3 poderes pedem respeito a resultados da eleição
O Conselho de Estado do Peru, organização composta pelos chefes dos três poderes do Estado e órgãos constitucionais autônomos, emitiu na noite de terça-feira (15/06) uma declaração rechaçando uma possível “ruptura constitucional” no país e pedindo que os resultados que dão vitória a Castillo sejam respeitados.
Em nota, o grupo afirmou que rejeita “qualquer tipo de campanha” que exerça “pressão e difamação contra as autoridades eleitorais”, pois, segundo os políticos, é “estranho a uma democracia promover rupturas constitucionais para conquistar o poder”.
“Mantemos a tranquilidade e respeitamos os resultados. […] As organizações políticas, conforme se comprometeram, e aos cidadãos em geral, devem esperar e respeitar os resultados finais da eleição”, diz o comunicado.
O documento dos líderes declara ainda que os discursos que “fomentam o ódio entre os peruanos” não contribuem para a “paz social nem para a consolidação dos valores democráticos” do país, afirmando que críticas aos órgãos eleitorais, quando baseadas em “informações verdadeiras e respeitosas”, “contribuem para a formação de uma opinião pública livre e tolerante”.