O candidato de esquerda Pedro Castillo foi confirmado oficialmente, nesta segunda-feira (19/07), vencedor do segundo turno das eleições presidenciais do Peru, se tornando o novo presidente do país. O sindicalista e professor derrotou a ultradireitista Keiko Fujimori. Ele assume o cargo no dia 28 de julho.
A vitória do candidato do Peru Livre marca uma histórica guinada à esquerda no país andino e desbanca pela quarta vez em uma eleição presidencial a filha do ex-ditador peruano Alberto Fujimori. Keiko, por sua vez, insiste em não admitir o resultado e diz, sem provas, que houve fraude.
Inexpressivo nas pesquisas eleitorais durante o primeiro turno, o sindicalista e professor rural surpreendeu o país ao sair vencedor da primeira volta com 18,9% dos votos.
Quem é Pedro Castillo
Nascido em Puna, uma cidade da região de Cajamarca, ficou conhecido nacionalmente ao liderar uma greve de professores por melhores salários em 2017, paralisação que durou 75 dias e se espalhou por quase todo o Peru.
Castillo se apresentou ao país vestido com os trajes típicos de Cajamarca, com chapéu de aba larga – a identificação dos líderes campesinos conhecidos como ‘ronderos’ – , poncho e os sapatos feitos de pneus reciclados, em cima de um cavalo, que é o principal meio de transporte da sua região de origem. O símbolo de sua campanha eleitoral e de seu partido político é o lápis, já que ele trabalhava, desde os 24 anos, como professor em uma escola rural.
No primeiro turno, o maior apoio que o candidato recebeu veio de regiões mais pobres, do sul do país, como Apurímac, Ayacucho e Huancavelica, onde ele teve cerca de 40% dos votos. Em Lima, ele ficou em quinto lugar, com cerca de 7% dos votos.
Durante a campanha, Castillo defendeu a revogação da Constituição de 1993, documento com inclinação neoliberal que foi promulgado durante o governo ditatorial de Alberto Fujimori, e prometeu a nacionalização de riquezas naturais como as áreas de mineração e hidrocarbonetos.
No campo dos costumes, o candidato recebeu críticas por se opor à educação sexual nas escolas, ao aborto legal e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Ao longo da campanha, desde que o sindicalista venceu o primeiro turno, setores da extrema direita tentaram ligar Castillo ao grupo armado peruano Sendero Luminoso, acusando o candidato de “terrorista”, e o comparando com líderes de esquerda sul-americanos como Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa.
Reprodução/Perú Libre
Castillo foi eleito o novo presidente do Peru e toma posse em julho
Em entrevista para uma emissora local, o candidato do Peru Livre disse que se sente “estigmatizado” ao ser relacionado ao Sendero Luminoso, afirmando que “os verdadeiros terroristas são a fome, a miséria, o abandono, a desigualdade, a injustiça”.
Perú Libre: o partido que elegeu Castillo
Fundado em 2007 como Movimento Político Regional Peru Livre, a sigla que lançou Castillo se formalizou oficialmente como organização nacional em 2012. Durante alguns anos, a agremiação carregou outros nomes até, em 2019, mudar para o nome atual.
Eleito duas vezes governador de Junín, Vladimir Cerrón é o fundador do partido e, hoje, lidera o Peru Livre como secretário-geral nacional. Segundo a organização, o partido tem “princípios claros”: é “democrático, descentralista, internacionalista, inclusivo, soberano, humanista e anti-imperialista”.
Além dos princípios, o Perú Libre é uma sigla que se define como “marxista-leninista-mariateguista”, defende reformas “totais” em relação à política fiscal e tributária peruana e propõe a “nacionalização dos recursos estratégicos” da nação.
“É o partido que, com sua prática, pode convencer que nem tudo é utopia, que também existem realidades. Conquistando objetivos que a educação oficial, religião e mídia nos transmitiram que eram aspirações impossíveis e que apenas uma sociedade dividida em classes era garantia de competitividade e avanço social”, diz o partido.
O partido propõe a destituição do Tribunal Constitucional do país, por considerar que o órgão é uma força aliada às elites, e uma nova Constituição que seja “solidária, humanista, salvadora e nacionalizadora”.
No plano econômico, o Perú Libre defende uma agenda que classifica como “economia popular com mercados”, no qual pretende estabelecer que essa gire “em torno dos interesses do povo”.
A entidade ainda “condena” ingerências “imperialistas e neocoloniais”, censurando “abertamente” o Grupo de Lima, organização fundada em 2017 por iniciativa do governo peruano sob a justificativa de “denunciar a ruptura da ordem democrática na Venezuela”. O Grupo de Lima é formado por 13 países.