Falar dos Jogos Olímpicos é falar de Carl Lewis, um dos grandes atletas de todos os tempos. Apelidado de “O filho do vento” por sua velocidade na prova dos 100 metros rasos, e por seu salto em distância, Lewis dominou suas disciplinas durante os anos 1980 e se manteve na elite nos anos 1990, até que se retirou das pistas após os Jogos de Atlanta, 1996.
Frederick Carlton “Carl” Lewis conquistou, no total, dez medalhas olímpicas (nove de ouro) durante sua carreira (1974-1996) e sete medalhas de ouro, uma de prata e duas de bronze nos Campeonatos Mundiais de Atletismo.
Nascido em 1º de julho de 1961, filho de um jogador de polo aquático e de mãe barreirista, Lewis, com 15 anos, começou a competir em salto em distância. Com sua alta velocidade de sprint, teve também bom desempenho em provas de velocidade. Em 1980, com apenas 19 anos, Carl foi selecionado para a equipe olímpica de atletismo. Porém, por conta do boicote dos Estados Unidos aos Jogos Olímpicos de Moscou, não participou da competição.
Nos anos seguintes, estabeleceu as melhores marcas da temporada nos 100 metros e no salto em distância e assombrava por alcançar marcas de relevo com certa facilidade. Emergiu como estrela mundial no Campeonato Mundial de Atletismo de Helsinque, em 1983, ao conquistar o ouro nos 100 metros, no salto em distância e no revezamento 4×100.
Quatro anos depois, em Los Angeles, ganhou quatro ouros nos 100 metros, nos 200 e no salto em distância, igualando a marca de Jesse Owens nos Jogos Olímpicos de Berlim, 1936. No revezamento 4×100, prova em que os EUA eram favoritos – haviam quebrado o recorde no Campeonato Mundial de Atletismo de Helsinque em 1983 -, a primeira perna, a mais longa, em curva e que parte do zero, coube a Sam Graddy com 10,29. Ron Brown apanhou o bastão na segunda perna e marcou 9,19. Calvin Smith, terceiro homem e detentor do recorde mundial, cobriu seu trecho em curva em 9,41. Quando Lewis colheu o bastão, estava cerca de 3 metros à frente do segundo colocado. Correu focado o quarto trecho, o mais curto, em 8,94 segundos. O tempo da equipe norte-americana foi de 37,83 segundos, o único recorde mundial de atletismo estabelecido em Los Angeles.
Seul, 1988
Nos Jogos Olímpicos de Seul, 1988, ganhou mais duas medalhas de ouro, virando o primeiro atleta a ganhar o salto em distância em dois Jogos consecutivos. Nos 100 metros, foi declarado vencedor após o canadense Ben Johnson ter sido desclassificado por doping. Nos 200, entretanto, foi superado pelo também norte-americano Joe Deloach.
Nos Jogos Olímpicos de Barcelona, 1992, já chegou com 31 anos, idade pouco avançada para a velocidade. Por isso, não pôde competir nos 100 metros ao não se classificar nas rigorosas provas de seleção de seu país, e menos ainda nos 200 metros. Conquistou seu terceiro título no salto em distância com 8,67 metros e participou do revezamento 4×100, quando a equipe bateu o recorde mundial com 37,40 segundos.
Após Barcelona, teve início o ocaso da lenda atlética. Contudo, pôde demonstrar ao mundo que era um atleta especial. Nos Jogos Olímpicos de Atlanta, 1996, com 35 anos e contra todos os prognósticos, ganhou pela quarta vez consecutiva o salto em distância. Era seu nono e último ouro olímpico. Por pouco não ficou de fora da final da única prova em que iria competir. Necessitando ficar entre os 12 primeiros, após a primeira série de saltos estava em 11º e, após a segunda série, caiu para 15º. Só lhe restava uma única tentativa. Com a imprensa já assinando seu obituário, realizou o melhor salto da noite e se qualificou para a final em primeiro lugar.
Na final, Mike Powell, o homem que havia posto abaixo o fantástico salto de Bob Beaman no Campeonato Mundial de Tóquio, saltando 8,95m – cinco centímetros a mais que o recorde estabelecido por nos Jogos do México de 1968 –, mas que havia ficado com a prata em Seul (1988) e Barcelona (1992), estava pronto para finalmente derrotar o já veterano oponente. Lewis correspondeu saltando 8,50 metros na terceira tentativa, assegurando o ouro. Para Powell, a noite foi lamentável. Contundiu-se no penúltimo salto e acabou ficando em 5º lugar marcando apenas 8,17 metros.
Lewis deixou uma marca indelével no olimpismo e no atletismo em geral por suas conquistas. Nos quatro Jogos que disputou, ganhou dez medalhas, das quais nove de ouro, o que o levou a ser um dos esportistas mais laureados na história dos Jogos. Nas pistas, somente o finlandês Paavo Nurmi conquistou mais medalhas.
Aposentadoria
Lewis “pendurou” os sapatos de prego após os Jogos de Atlanta e foi ser ator em Los Angeles, onde vive. Recusou desempenhar, numa série de TV, o papel de Jesse Owens, que em Berlim, em 1936, conquistou medalha de ouro precisamente nas 4 provas que Lewis competiu em Los Angeles, além de vários outros papeis. No fundo, não queria ser apenas uma estrela do atletismo, queria ser uma personalidade.
Em abril de 2003, a revista Sports Illustrated publicou documentos oficiais do Comitê Olímpico dos Estados Unidos demonstrando que, em 1988, Lewis e outros 11 atletas haviam dado positivo em provas antidoping. Apresentou recurso, obtendo êxito, alegando ter ingerido estimulantes proibidos (efedrina, pseudoefedrina e fenilpropanolamina) de forma não intencional. Embora a imprensa especializada tenha reagido duramente, tanto com Lewis, quanto com Comitê Olímpico dos EUA, por terem demonstrado atitudes “arrogantes, falsas e hipócritas” ante o caso, o escândalo foi de certa forma abafado devido à cobertura da invasão do Iraque, que havia começado poucas semanas antes.
Por ocasião de sua última competição na Europa em 1997, o jornal The Guardian descreveu-o como “uma das mais frias e insultantes figuras da comunidade esportiva”. Lewis tinha o hábito de olhar ao redor e de celebrar transmitindo displicência quando cruzava vitorioso a linha de chegada, e isto irritava os rivais. “Falei com muitos deles e as palavras que usavam em relação ao comportamento de Lewis não tinham nada de esportivo”, declarou o barreirista campeão Edwin Moses.
Ele foi ainda mais criticado durante os Jogos de Atlanta por sua recusa em ficar na Vila Olímpica junto a outros atletas. “Sou um atleta de grande notoriedade”, disse. “Meu objetivo é competir da melhor maneira possível e isto significa que preciso de privacidade.” “Nós não estamos competindo como indivíduos e sim como um time”, retrucou Tonie Campbell, corredor dos 110 metros com barreira. “Estamos aqui para um ajudar o outro.”
Mesmo sendo finalmente aceito como um grande atleta olímpico, com uma coleção de medalhas que nenhum outro atleta conseguiu superar até hoje, ainda assim exigiu um lugar no revezamento 4×100 e a chance de ganhar a 10ª medalha de ouro nos Jogos de Atlanta. “As pessoas querem me ver correr o revezamento e elas pensam que tenho o direito de correr”, insistiu.
Porém, Jon Drummond, um dos velocistas cujo lugar queria tomar, resumiu o humor dos titulares: “Ele é definitivamente uma lenda, uma lenda viva, mas isto não está em questão nesse momento”, exclamou. “O caso é que temos quatro pessoas que trabalharam duro durante quatro anos para vir até aqui e correr. Então, do que se trata? Dar ao Carl a 10ª medalha ou negar a alguém a realização de seu sonho?”
*A série Grandes Momentos Olímpicos foi concebida e escrita no ano de 2015 pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.