Atualização às 18h05 de 22/01
Um grupo de figuras públicas brasileiras, muitas delas ligadas a grupos sionistas, organizou um abaixo-assinado no qual critica a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de apoiar o processo apresentado pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça (CIJ), no qual se acusa o Estado de Israel de cometer um genocídio contra os palestinos na Faixa de Gaza.
O documento divulgado nesta sexta-feira (19/01) é endereçado ao próprio mandatário e alega que “não é a percepção geral dos brasileiros de que Israel esteja cometendo genocídio” em Gaza.
Em outro trecho, o texto diz que “reconhece o sofrimento da população local”. Não há menção às estatísticas apresentadas pelas autoridades locais e organismos de direitos humanos, que já contabilizam mais de 25 mil civis falecidos, equivalentes a mais de 1% da população local – estimada em 2,3 milhões de pessoas –, entre os quais mais de 10 mil são crianças.
O segundo parágrafo, em que o abaixo-assinado critica a acusação sul-africana, utiliza o argumento de que “genocídio, por definição, implica a intenção de exterminar pessoas com base em nacionalidade, raça, religião ou etnia”. O próprio texto, em seu conjunto, não menciona uma vez sequer a palavra “palestinos” ou faz qualquer reconhecimento à existência desse povo – usa-se somente o termo “população local”.
O documento faz fortes criticas ao Hamas, apontado como principal responsável pela crise humanitária em Gaza, ao alegar, entre outras coisas, que “o conflito teve início com um ataque terrorista do Hamas, que declaradamente busca a eliminação de Israel e de seu povo”.
Entre os signatários do abaixo-assinado, estão nomes como Luiza Trajano, presidente do conselho de administração da Magazine Luiza; Natalia Pasternak, microbiologista; Artur Grynbaum, vice-presidente do conselho do Grupo Boticário; Ellen Gracie, ex-ministra do Supremo Tribunal Federal; Fabio Coelho, presidente do Google Brasil; e Claudio Lottenberg, presidente do conselho da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein e da Confederação Israelita do Brasil (Conib).
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Histórico do caso
No final de dezembro passado, o governo da África do Sul apresentou a petição à CIJ acusando Israel de descumprir a Convenção de Prevenção e Punição do Genocídio de 1951, ao considerar que a atual ofensiva militar contra os palestinos residentes na Faixa de Gaza, que já matou mais de 1% da população local, configura um crime de genocídio.
No dia 10 de janeiro, o presidente Lula, por meio de uma nota do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, manifestou seu apoio à iniciativa do governo sul-africano.
Desde então, o governo brasileiro é acusado de antissemitismo por grupos sionistas, apoiadores da ofensiva de Israel em Gaza.
A postura de Lula, por sua vez, também reúne apoiadores: nesta quarta-feira (17/01), um grupo de ex-ministros, intelectuais, parlamentares e ativistas dos direitos humanos enviaram uma carta aberta ao presidente e ao chanceler Mauro Vieira defendendo o governo brasileiro.
Este outro manifesto conta com o apoio de nomes como Paulo Sérgio Pinheiro, ex-ministro da Secretaria de Estado de Direitos Humanos; a filósofa Marilena Chaui; e o jornalista Breno Altman.
Ricardo Stuckert / Presidência da República
Lula manifestou seu apoio à denúncia da África do Sul na corte de Haia, acusando Israel de genocídio contra palestinos
Leia a íntegra do abaixo-assinado:
Prezado Presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
Nós, cidadãos preocupados, expressamos nosso descontentamento com a decisão do governo brasileiro de apoiar a ação da África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça. Compreendemos a complexidade da situação em Gaza e o sofrimento da população local. No entanto, é imperativo avaliar todos os aspectos antes de endossar tal iniciativa, principalmente quando se trata da séria acusação de genocídio.
Genocídio, por definição, implica a intenção de exterminar pessoas com base em nacionalidade, raça, religião ou etnia. Não acreditamos que seja sua visão ou a percepção geral dos brasileiros que Israel tenha tal objetivo. Pelo contrário, reconhecemos que o conflito teve início com um ataque terrorista do Hamas, que declaradamente busca a eliminação de Israel e de seu povo.
O Hamas utiliza civis como escudos humanos e mantém reféns inocentes, o que contribui significativamente para a complexidade e gravidade da situação em Gaza. Ao apoiar o pedido da África do Sul, o Brasil pode inadvertidamente reforçar uma visão distorcida dos eventos, simplificando uma realidade complexa.
Instamos, portanto, uma reconsideração desse apoio e a adoção de uma abordagem justa e equilibrada. Enquanto buscamos aliviar o sofrimento em Gaza, é crucial pressionar não apenas Israel, mas especialmente o Hamas, para que cesse o uso de escudos humanos e liberte os reféns. A responsabilidade pela situação deve ser atribuída a todas as partes envolvidas, sem acusações infundadas, como a de genocídio praticado por Israel.
Apelamos por uma atitude que promova a verdade, a justiça e um ambiente propício para negociações de paz duradouras.
Assinam:
Charles Laganá Putz
Betânia Tanure
Bruna Lombardi (a atriz, após a circulação do manifesto, negou apoiar o texto)
Claudia Sender Ramirez
Ellen Gracie
Emilia Buarque
Luiza Helena Trajano
Natalia Pasternak
Patricia Rieper Leandrini Villela Marino
Sonia Hess
Marco Antonio Suplicy
Cecilia Dale
Marcello Brito
Malvina Muszkat
Bernardo Parnes
Maria Elena Cardoso Figueira
Christian Lohbauer
Susana Muszkat
Leonardo Viegas
Tania Casado
Ingrid Frare
Artur Grynbaum
Monica Rosenberg
Carlos Alberto Júlio
Fabio Coelho
Rubens Panelli Junior
André Magalhães Pinto
Marco Antônio Tofanelli
José Jacobson Neto
Claudio Raupp
Mario Anseloni
Cassiano Scarambone
Oscar Vaz Clarke
Milton Longobardi
Roberto Oliveira Lima
Rômulo de Mello Dias
Sergio de Nadai
Paulo Fagundes de Lima
João Olyntho
Roger Ingold
Pedro Pace
Marcos Gouvêa de Souza
Roberto Giannetti da Fonseca
Paulo Kakinoff
Armando Henriques
Humberto Pandolpho
Antonio Rios
Carlos Foz
Handerson Castro
Milton Isidro
Sidney Klajner
Cesar Alberto Ferreira
Helio Ribeiro Duarte
Abramo Douek
Manoel Conde
Leon Tondowski
Georges Schnyder
Fernando Terni
Wilson Roberto Levorato
Gil Morgensztern
Walter Schalka
Paulo Meirelles
Piero Minarde
Rodrigo Abreu
Patrice Etlin
Alex Szapiro
Juarez José Zortéa
Sergio Cipovicci
João Rodarte
Israel Aron Zylberman
Valmir Pedro Rossi
João Pedro Paro Neto
Marcos Knobel
Alexandre Senra
Jorge Cavalcanti de Petribú
Guilherme de Noronha Dale
Claudio Lottenberg
Norberto Birman
Angelo Augusto de Campos Neto
Alexandre Foschine
Avi Gelberg
Raul Doria
Roberto Klabin
Sergio Degese
Rui Aquino
Ricardo Bloj
Thomas Brull
Renato Velloso
Francisco Carlos Mazon
Claudio Carvalho
Helio Rotenberg
Wilson Ferreira Jr
Sergio Zimerman
Dirley Pingnatti Ricci
Antonio Rubens Silvino
Milton Steagall
Armando Aguinaga Lowndes de Souza Pinto
Robert Wong
João Alceu Amoroso Lima
Welder Motta Peçanha
Fernando Biancardi Cirne
Refuah Shlêma
Kol Hakavod
Jean Grinfeld
Thais Blucher
Luiz Paulo Grinberg
Luiz Paulo de Azevedo Barbosa
Angelo Tadeu Derenze
Filinto Moraes
Marcelo Fernandes
Fatima Zorzato
Daniel Méndez
General Francisco Carlos Modesto
Moises Cohen
Gilson Finkel
Renato Veloso
Dorival Dourado
Marcelo Araujo
Fábio Colletti Barbosa