Uma reunião entre o chefe da Mossad, David Barnea, Mohammed bin Abdelrahman Al-Thani e representantes egípcios “deverá se realizar hoje” na capital do Catar”, disse uma fonte à AFP sob condição de anonimato, devido à natureza sensível das discussões.
Os países mediadores – Qatar, Estados Unidos e Egito – não conseguiram até agora chegar a um acordo sobre a troca de reféns detidos em Gaza por prisioneiros palestinos e a um cessar-fogo no território devastado por mais de cinco meses de guerra entre Israel e Hamas.
“Aceitamos que haverá uma retirada parcial da Faixa de Gaza antes de qualquer troca, e após a primeira fase, uma retirada total”, disse um dos líderes do Hamas, Osama Hamdan, nesta segunda-feira. “Durante a primeira fase, haverá uma cessação total das operações militares (…) e 14 dias depois uma retirada (israelense) para o leste da frente salaheddina”, permitindo o regresso dos deslocados a este setor, disse ele em uma entrevista com al-Manar, o canal do movimento islâmico Hezbollah no Líbano.
As discussões, acrescentou, podem levar “alguns dias”.
Após a pressão exercida pelos mediadores, o Hamas havia apresentado a seguinte contraproposta:
O grupo palestino exige a libertação de 950 prisioneiros. Em troca, o Hamas estaria disposto a libertar 40 reféns israelenses: mulheres, idosos e doentes.
No caso específico das cinco soldadas de Israel sequestradas em Gaza, a exigência é que para cada uma delas, Israel liberte 50 prisioneiros palestinos.
Além disso, o Hamas quer escolher os nomes dos prisioneiros a serem soltos. As demais demandas se mantêm: retorno de todos os palestinos deslocados para o sul da Faixa de Gaza e, após as seis semanas de trégua, o estabelecimento de um cessar-fogo permanente.
Um membro do alto escalão de Israel envolvido nas negociações disse que “este é um acordo muito ruim e, por isso, ele não vai ser concretizado”.
Houve um aumento significativo dos números exigidos pelo Hamas: no mês passado, nas reuniões realizadas em Paris, os chefes dos serviços de Inteligência de Israel, EUA, Egito e o primeiro-ministro do Catar chegaram a linhas gerais que estabeleciam que Israel deveria libertar 400 prisioneiros palestinos, quinze dos quais condenados à prisão perpétua pelo assassinato de israelenses.
Reação de Israel
As autoridades envolvidas consideram que as diferenças entre as exigências do Hamas e o que Israel pode aceitar ainda são consideráveis. No entanto, a visão em Israel é que a contraproposta do grupo palestino abre espaço para alguma forma de negociação. E essa mudança de postura se deve às pressões internacionais por parte de Egito e do Catar.
No caso específico do Catar, há uma visão pragmática: o país busca se consolidar como um ator responsável e tem se esforçado para encontrar soluções capazes de interromper a guerra. O líder do Hamas no exterior, Ismail Haniyeh, vive em Doha desde 2017, assim como outros membros do grupo. O Catar chegou a ameaçar expulsá-los caso não se mostrassem disponíveis a negociar.
Em Israel há duas visões diferentes entre aqueles envolvidos no processo: de um lado, os que acreditam na ideia de flexibilizar posições de forma a aproximar o Hamas de um acordo; de outro, há quem pense exatamente o oposto por considerar que o Hamas não tem interesse real em chegar a um acordo envolvendo a libertação de reféns. Essas duas posições têm estado em permanente disputa nas conversas internas do gabinete de segurança israelense.
Crise entre Israel e EUA
A pressão norte-americana desde que Israel iniciou a resposta aos ataques de 07 de outubro é sobre o chamado “dia seguinte”. Ou seja, o que Israel pretende fazer na Faixa de Gaza, quem deverá administrar o território e como espera solucionar o conflito com os palestinos de forma mais ampla.
Até agora, depois de mais de cinco meses de guerra, o governo de Benjamin Netanyahu não conseguiu responder a nenhuma dessas questões. A visão da administração de Joe Biden é a mesma de muitos israelenses: de que Netanyahu não toma qualquer decisão porque teme que isso leve alguns dos nomes mais radicais de sua coalizão a deixar o governo – o que possivelmente levaria a um cenário de novas eleições.
Assim, depois de críticas de Washington mais diplomáticas, foi a vez do líder da maioria no Senado dos Estados Unidos, o Democrata Chuck Schumer, fazer um discurso forte. Ele disse que Netanyahu é um “obstáculo para a paz” e pediu para o presidente de Israel, Isaac Herzog, convocar novas eleições.
Chuck Schumer é o judeu norte-americano que ocupa o cargo mais alto no cenário político dos Estados Unidos. Perguntado sobre o pronunciamento do senador, o presidente Joe Biden considerou que ele “fez um bom discurso” e expressou preocupações sérias partilhadas não só por ele, Biden, mas por muitos norte-americanos.
Netanyahu respondeu no domingo (17/03), primeiro dia da semana de trabalho em Israel, na abertura da reunião com os ministros.
“Aos nossos amigos na comunidade internacional eu digo: sua memória é curta? Vocês se esqueceram tão rapidamente do dia 07 de outubro, o massacre mais terrível cometido contra judeus desde o Holocausto? Vocês estão prontos para negar a Israel o direito de se defender contra os monstros do Hamas? Vocês perderam sua consciência moral tão rapidamente?”, questionou o primeiro-ministro em mais um capítulo da crise entre os países aliados.
(Com AFP)