Após um protesto contra os cortes de energia elétrica e a distribuição de alimentos em Cuba, o presidente do país, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, afirmou neste domingo (17/03) que a escassez gerada “pelo bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos” é “aproveitada pelos inimigos da Revolução para fins desestabilizadores”.
O mandatário cubano ressaltou que “em meio a um bloqueio que pretende nos sufocar, continuaremos trabalhando em paz para sair desta situação”.
En las últimas horas hemos visto cómo terroristas radicados en EEUU, que hemos denunciado en reiteradas ocasiones, incentivan acciones contra el orden interior del país.
— Miguel Díaz-Canel Bermúdez (@DiazCanelB) March 18, 2024
“A disposição das autoridades do Partido, do Estado e do Governo é atender às reivindicações do nosso povo, ouvir, dialogar, explicar os numerosos esforços que estão a ser feitos para melhorar a situação, sempre num clima de tranquilidade”, declarou Díaz-Canel.
Sobre a manifestação, realizada na cidade de Santiago de Cuba, o presidente cubano denunciou a participação de “terroristas baseados nos EUA” que “incentivam ações contra a ordem interna de Cuba”.
Segundo o relato do jornalista PJ Velázquez, que reporta de Santiago de Cuba, houve mensagens em redes sociais de cidadãos norte-americanos, em Miami, sobre o incentivo aos protestos, o que “pode indicar que houve um movimento incitando as pessoas à manifestação, mas não necessariamente de Cuba”.
No ato, que foi pacífico, estiveram presentes vários funcionários do governo para estabelecer o diálogo, incluindo a primeira secretária do Partido Comunista de Cuba na província, Beatriz Johnson Urrutia.
Durante a conversa, o governo cubano explicou que a cesta básica está sendo parcialmente distribuída aos cidadãos. A caixa de alimentos inclui vários insumos que são distribuídos a preços altamente subsidiados no país em meio ao bloqueio norte-americano.
Segundo explicação do governo, o país não pode produzir tais insumos devido a obstáculos internos ou importá-los por causa do déficit das conversões de moedas e outras limitações impostas pelas sanções dos EUA.
Crise na energia elétrica
A pauta elétrica foi maximizada após o ministro de Energia e Minas de Cuba, Vicente de la O Levy, falar ao Cuban News Channel no último sábado (16/03) sobre os efeitos significativos no serviço elétrico em todo o país devido ao déficit de diesel e óleo combustível nas últimas semanas.
Segundo seu relato, a escassez teve um impacto negativo em vários setores da economia, alertando que a situação pode permanecer a mesma apesar do recebimento de uma quantidade de gás nos próximos dias, alegando que o combustível não será suficiente.
Chegarão ao país cerca de 40 mil toneladas de gasóleo, o que permitirá a cobertura por mais alguns dias. A sua utilização estará concentrada nos principais horários de descanso da população, segundo o ministro.
Entre as medidas que estão sendo tomadas pelo governo de Cuba para minimizar a situação, foi a sincronização da termelétrica Antonio Guiteras, a mais eficiente do país, com o sistema eletroenergético nacional. De acordo com O Levy, após a manutenção a usina poderá atingir mais potência. Além disso, lembrou que a unidade gera eletricidade a partir do petróleo cubano, o que na situação atual se torna uma vantagem.
O ministro também afirmou que apesar da “complexa situação financeira cubana”, não desistirá de prestar manutenção às centrais termoeléctricas, que funcionam com petróleo bruto nacional e fornecem a maior percentagem da electricidade consumida no país.
O Levy ainda declarou que Cuba continuará negociando com diversos fornecedores para conseguir novos fornecimentos de combustível, mesmo com as dificuldades impostas pelos EUA, que pressionam empresas a não prestar serviços ao país caribenho.
O sistema de energia elétrica de Cuba é um dos setores que mais sofreu com a crise que o país vive desde 2020, provocada pelos efeitos persistentes da pandemia de covid-19, mas também pelo contexto internacional, que aumentou os preços das matérias-primas, e o endurecimento das sanções econômicas dos Estados Unidos.
Nos dois primeiros meses de 2024, as importações de combustível pelo país caribenho ficaram abaixo de 50% dos níveis planejados, deixando todo o sistema energético de Cuba em uma situação vulnerável, o que foi refletido no aumento da escassez de energia, cujo déficit ultrapassou 1.000 mW, ou quase 30% do consumo diário.
(*) Com Sputnik e TeleSUR