Enquanto Israel segue matando palestinos e recebendo novas denúncias de violações de direitos humanos e liberdade de expressão, o Egito vai sediar nesta sexta-feira (29/12) uma nova tentativa de conversa de paz, ao receber uma delegação do Hamas.
O que estará em pauta é um plano apresentado na semana passada pelo Egito a autoridades do Hamas e da Jihad Islâmica, outro grupo que também está combatendo as forças israelenses na Palestina.
Fontes próximas ao Hamas afirmam que o plano egípcio é composto por três etapas e prevê: períodos de cessar-fogo renováveis; libertação escalonada de reféns mantidos pelo Hamas em troca de prisioneiros palestinos em Israel; e um cessar-fogo para encerrar a guerra definitivamente, segundo a AFP.
Uma vez encerrados os conflitos, o objetivo desse plano é implementar um governo palestino de tecnocratas, após negociações envolvendo “todas as facções palestinas”, que seriam responsáveis por governar e reconstruir a Faixa de Gaza.
Um oficial do Hamas, falando sob condição de anonimato, disse à AFP que a delegação que chega ao Cairo nesta sexta vai apresentar uma resposta ao plano, contendo “várias observações”. E vai buscar “garantias para uma retirada militar israelense completa” de Gaza.
Diaa Rashwan, chefe dos Serviços de Informação do Egito, afirmou que o plano tem o “objetivo de reunir as opiniões de todas as partes envolvidas, com o objetivo de encerrar o derramamento de sangue palestino”.
Novos ataques em área hospitalar
Disparos israelenses perto do hospital al-Amal, em Khan Yunis, no sul de Gaza, mataram 41 pessoas nos últimos dois dias, disse o Crescente Vermelho Palestino na quinta-feira (28), em comunicado. Entre as vítimas, há várias pessoas que haviam se deslocado em busca de abrigo.
O escritório para assuntos humanitários da ONU disse que cerca de 100 mil deslocados adicionais chegaram à já superlotada cidade fronteiriça do sul, Rafah, nos últimos dias, após a intensificação dos combates em torno de Deir al-Balah e Khan Yunis.
Segundo o Ministério da Saúde em Gaza, bombardeios israelenses mataram 20 pessoas, a maioria mulheres e crianças, no campo de refugiados Shaboura, em Rafah, na quinta-feira.
Desde o início do bombardeio aéreo e da invasão terrestre de Israel em Gaza, já foram mortas pelo menos 21.320 pessoas, na maioria mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde. O exército israelense afirma que perdeu 168 de seus soldados.
Twitter/State of Palestine
Delegação do Hamas chega ao Egito para negociar paz, enquanto derramamento de sangue prossegue
Jornalista ameaçado
Um jornalista palestino independente falou pela primeira vez sobre uma ameaça que diz ter recebido na primeira semana da guerra de Israel em Gaza. Enquanto documentava bombardeios em casas e massacres em Beit Hanoun, uma cidade no norte do território palestino, Hossam Shabat (no post abaixo) recebeu um telefonema de um oficial da inteligência israelense, pedindo que apagasse postagens em sua conta no Facebook, que pediam que os cidadãos palestinos resistissem.
This is Palestinian journalist Hossam Shabat, he captured the haunting images of decomposed bodies and skeletons in Beith Hanoun.
He was called by Israeli officers early in the genocidal campaign and told he would be killed for his journalism.
He is still publishing. pic.twitter.com/45Pt2ijnZD
— Lowkey (@Lowkey0nline) December 28, 2023
Por meio de uma postagem na rede social X na última quarta-feira (27/12), o jornalista disse ter sido informado de que ele e os que estavam com ele precisavam sair de sua casa, que caso contrário seria bombardeada. Mas ele se recusou. “No entanto, após o bombardeio completo da casa e uma tentativa de nos cercar no hospital, saí sob fogo”.
“A morte nos persegue em todos os lugares”, acrescentou Shabat, dizendo que uma aeronave abriu fogo contra ele na terça-feira logo depois de entrar em Beit Hanoun. Ele continua fazendo sua cobertura do massacre israelense.
Segundo o CPJ (Comitê para Proteção de Jornalistas), 68 profissionais da imprensa foram mortos durante a ofensiva israelense em Gaza, sendo 61 palestinos, quatro israelenses e três libaneses, uma média que faz do atual conflito o evento mais mortífero para jornalistas na história moderna.
Violência sexual e outras humilhações
Um relatório da ONU divulgado nesta quinta (28/12) denuncia a violência perpetrada pelo governo de Israel na Cisjordânia ocupada, incluindo Jerusalém Oriental, região que virou alvo de ataques por parte de Israel mesmo não sendo controlada pelo Hamas.
Segundo o documento, 300 palestinos foram mortos na região de 7 de outubro a 27 de dezembro, a imensa maioria por soldados de Israel, mas alguns também por colonos israelenses, que mantêm colônias ilegais no território palestino.
As Forças de Segurança de Israel também prenderam mais de 4.700 palestinos, incluindo cerca de 40 jornalistas, na Cisjordânia, diz o informe. “Alguns foram despidos, vendados e mantidos presos por longas horas com algemas e com as pernas amarradas, enquanto os soldados israelenses pisavam em suas cabeças e costas. Eram cuspidos, jogados contra paredes, ameaçados, insultados, humilhados e, em alguns casos, submetidos à violência sexual e de gênero”.
Segundo o relatório, um detento foi espancado nos órgãos genitais e houve insultos sexuais contra mulheres, inclusive duas grávidas, ameaçadas de estupro enquanto estavam na prisão. Sem falar em outros atos de violência, como chutes, tapas, socos e golpes com rifles.
A ONU pede que “as mortes ilegais e a violência dos colonos contra a população palestina” sejam interrompidas. “O relatório pede o fim imediato do uso de armas e meios militares durante as operações de aplicação da lei, o fim da detenção arbitrária e dos maus-tratos aos palestinos e o fim das restrições discriminatórias de movimento”, disse a entidade.