Em dia internacional de solidariedade ao povo palestino, a cidade de São Paulo realizou neste sábado (04/11) sua maior manifestação pelo cessar fogo imediato na guerra declarada por Israel e pelo fim do genocídio de palestinos na Faixa de Gaza. Com cerca de 10 mil manifestantes percorrendo a Avenida Paulista e a rua da Consolação, o ato reuniu dezenas de movimentos sociais, centrais sindicais e organizações estudantis, mas poucos parlamentares e bandeiras de partidos políticos.
Uma diversidade de movimentos sociais e expressões individuais se misturou pelas ruas, somando Movimento Sem Terra (MST), Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), Frente Brasil Popular, Frente Povo sem Medo, Movimento Negro Unificado, Marcha Mundial das Mulheres, Ação Antifascista, Movimento de Moradia do Centro, Movimento de Atingidos por Barragens, integrantes do Colégio Brasileiro Islâmico, uma grande variedade de manifestantes em trajes islâmicos, muçulmanos e árabes, o coletivo Vozes Judaicas por Libertação, torcidas antifascistas de times de futebol, freis franciscanos e assim por diante.
Raro exemplo de políticos a discursar foi a deputada federal Juliana Cardoso, do Partido dos Trabalhadores (PT), que denunciou as tentativas de intimidação de parlamentares por parte da extrema direita no Congresso Nacional e reivindicou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rompa relações com o Estado de Israel.
“Ô, Lula, eu quero ver o rompimento com Israel acontecer”, respondeu a multidão.
Codeputada estadual pelo movimento coletivo Pretas, Ana Laura, do Psol, denunciou a tentativa de cassação do mandato na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) devido à defesa da Palestina e criticou a ausência de políticos com mandato na manifestação: “só não está todo mundo aqui hoje porque está existindo uma lavagem cerebral, que faz que muitos políticos não estejam aqui hoje, não se posicionem pela defesa radical da vida. Se você é político e não se sensibiliza com esse tipo de dor, você está morto por dentro”.
Entre homens, apenas um ex-político participou do ato (mas não discursou), o petista José Genoino.
O jornalista Breno Altman, fundador de Opera Mundi, também discursou, afirmando que a manifestação deste sábado significa um passo adiante para que a mobilização brasileira se junte ao clamor mundial contra o genocídio em curso.
“O sionismo é uma das correntes racistas mais perversas da história. Essa corrente tem que ser derrotada. Nós não podemos ter qualquer dúvida, especialmente entre as forças de esquerda do nosso país. A nossa solidariedade à resistência palestina é incondicional e irrestrita, total e absoluta, até que seja derrotado o Estado colonial e racista de Israel”, disse ele, que sofreu ameaças de sionistas por conta de sua posição contra os ataques de Israel a Gaza.
Apenas partidos de esquerda agitaram bandeiras, casos de Psol, PCB, PCO, PSTU e poucos e tímidos representantes do PT e do PCdoB. A maior parte das bandeiras eram da Palestina, inclusive algumas do Hamas. Outras palavras de ordem clamavam “Estado de Israel/Estado assassino. Viva a luta/ do povo palestino” e “chega de chacina/ PM na favela/ Israel na Palestina”, mesmo na presença repressiva de grande contingente de policiais militares.
Pedro Alexandre Saches
Manifestantes pediram cessar fogo de Israel contra a Faixa de Gaza
“A Palestina é invencível”, discursou Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal). Ele lembrou que o morticínio conta até agora com cerca de 5.000 crianças e 3.000 mulheres palestinas assassinadas ou desaparecidas debaixo dos escombros. “Isso quer dizer que há um programa claro de genocídio. Há a tentativa de esterilização em massa da sociedade palestina, além do seu colapsamento econômico, social, político, democrático por matança”, afirmou.
“Quem mata ventres e quem nasceu anteontem dos ventres evidentemente quer promover o extermínio em médio e longo prazo”, declarou Rabah.
Para Rabah, o sionismo preconizou o nazismo com outro nome muito antes do advento de Adolf Hitler, mas tal modelo não triunfou no nazismo, no apartheid sul-africano, nas bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos e no colonialismo europeu. “Eles querem agora que o modelo de assentamento colonial e substituição de população originária baseado no genocídio prospere na Palestina. Se esse modelo triunfar, onde ele vai ser aplicado?”, indagou.
“Nossa tarefa civilizatória não é apenas libertar a Palestina, é libertar o mundo do sionismo, do colonialismo, do regime de apartheid. O povo palestino vai honrar vocês que estão aqui, porque o povo palestino é invencível, e vocês são invencíveis”, disse.
Falando pelo Movimento Negro Unificado, Regina Santos traçou paralelo entre o genocídio palestino e a situação afrodescendentes do Brasil: “a falta de condição de vida do povo palestino é o mesma do povo negro no Brasil. É mais que necessário que o povo brasileiro vá à luta e diga não ao genocídio higienista colonialista do Estado terrorista de Israel e à violência do Estado brasileiro”.
Maria Fernanda Marcelino, integrante da executiva da Marcha Mundial das Mulheres, pediu o fim da guerra: “toda guerra é patriarcal. Toda guerra é contra a humanidade e a favor do dinheiro e do poder sobre os territórios dos povos. Hoje é na Palestina. Aqui no Brasil é nas periferias. As armas que são usadas na Palestina são usadas aqui para matar a juventude deste país”.
Ela completou: “nós, do movimento feminista, somos totalmente contra as guerras, mas pelo direito de autodefesa dos povos, pelo direito de existir de toda a população. Estamos na defesa da Palestina, das mulheres, das crianças e também da juventude pobre, que é usada de bucha de canhão em todas as guerras. Também estamos aqui na defesa do povo negro, indígena, contra qualquer tipo de massacre que a população pobre sofre”.
O padre Júlio Lancellotti protestou contra o Estado de Israel: “chega de tanta covardia. Israel, além de ser um Estado assassino, é um Estado covarde, que diz que exerce o direito de defesa. Direito de defesa não é matar, não é ser covarde como estão sendo. Graças a Deus nem todos os judeus e israelitas comungam com esse governo assassino”.
Sua crítica se estendeu à realidade brasileira: “eu me sinto aqui palestino e desafio os covardes que defendem as armas, os parlamentares e brasileiros sionistas e covardes. Nos atinjam, nós estamos aqui prontos para lutar, para viver e para morrer”.