Durante a premiação do Oscar na noite deste domingo (10/03), o diretor do filme vencedor na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, Jonathan Glazer, mencionou a ofensiva de Israel contra os palestinos e condenou a “desumanização das vítimas dos ataques em Gaza”.
A fala de Glazer não é relevante apenas por ter sido levada aos palcos da maior premiação de Hollywood sobre produções audiovisuais, mas também pelo diretor ser de origem judaica e vencedor da estatueta pelo filme Zona de Interesse (2023; Reino Unido), que aborda o Holocausto.
O diretor agradeceu seus colaboradores antes de voltar-se à situação em Gaza: “Nossas escolhas foram feitas para refletir e nos confrontar no presente — não para dizer, ‘Veja o que fizemos’, mas sim ‘Veja o que fazemos agora’. Nosso filme mostra para onde leva à desumanização em sua pior faceta. Moldou todo nosso passado e nosso presente”.
Glazer afirmou “estar ali representando homens que rejeitam que sua identidade judaica e o Holocausto sejam sequestrados pela ocupação [israelense], que levou conflito a tantas vidas inocentes”.
“Sejam israelenses em 7 de outubro ou as vítimas dos ataques ainda em curso a Gaza são todas vítimas da desumanização”, concluiu o cineasta britânico.
“Refutamos nosso judaísmo e o holocausto sendo sequestrados por uma ocupação [israelense] que leva conflito a tantos inocentes. Nosso filme mostra onde a desumanização leva em seu pior”
Jonathan Glazer ao vencer o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro com “Zona de Interesse”. pic.twitter.com/TevKAwJebh
— FEPAL – Federação Árabe Palestina do Brasil (@FepalB) March 11, 2024
O longa-metragem britânico que levou o prêmio retrata a vida doméstica do comandante nazista Rudolf Höss, cuja família residia logo à margem campo de concentração de Auschwitz, convivendo com as cinzas, odores e ruídos do extermínio em massa de judeus em meio à Segunda Guerra Mundial.
Na obra, as personagens buscam maneiras de ignorar os acontecimentos na instalação vizinha, ao aludir a um conceito de banalização do mal ou naturalização do horror.
Zona de Interesse, estrelado por Sandra Hüller e Christian Friedel, foi nomeado a cinco Oscars, incluindo Melhor Filme, e venceu duas categorias: Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Som.
Em 18 de fevereiro, durante a cerimônia do Bafta, considerado o Oscar britânico, James Wilson, um dos produtores de Zona de Interesse, também posicionou-se sobre a guerra em Gaza.
Wilson aludiu a esforços de dissociação e os muros construídos em Auschwitz ou nos territórios palestinos ocupados: “Muros não são novidade, antes ou depois do Holocausto. Neste instante, parece que não nos importamos com os inocentes mortos em Gaza ou no Iêmen, ao menos da mesma forma com que pensamos nos mortos em Israel ou Mariupol”.
Solidariedade à Palestina no Oscar
A cerimônia foi marcada por sugestões de solidariedade aos palestinos, em particular, após uma série de demissões de profissionais como Susan Sarandon e Melissa Barrera, devido a seu posicionamento pró-Palestina.
Figuras como Billie Eilish e seu irmão, Finneas O’Conneal — vencedores do Oscar por Melhor Canção Original por Barbie —, Mark Rufallo — indicado a Melhor Ator Coadjuvante por Pobres Criaturas (Poor Things) — e outros, como os apresentadores Mahershala Ali e Remy Youssef, subiram ao palco com um broche da campanha Artistas por Cessar-fogo.
A petição, com apoio das organizações não-governamentais Oxfam e Action Aid, reúne nomes como Jennifer Lopez, Joaquin Phoenix, Rooney Mara, Richard Gere, Dua Lipa, Brian Cox, Sandra Oh, Jeremy Allen White,e Selena Gomez.
Sentado ao lado de Sandra Hüller, o ator francês Swann Arlaud vestiu sobre a lapela um broche com a bandeira palestina, assim como o colega de cena de ambos — no filme Anatomia de uma Queda (Anatomie d’une chute) — Milo Machado-Graner, de apenas 15 anos.
Ainda no tapete vermelho, Remy Youssef falou abertamente da crise: “Queremos o cessar-fogo imediato e permanente em Gaza. Queremos paz e justiça pelas pessoas na Palestina. Esta é uma mensagem universal: parem de matar crianças”.
(*) Com Monitor do Oriente Médio