A partir desta segunda-feira (11/03), centenas de milhões de muçulmanos em todo o mundo praticam o Ramadã, o mês mais sagrado do calendário islâmico, celebrado sem consumir alimentos ou água do nascer ao pôr do sol todos os dias até cerca de 09 de abril, quando o Ramadã termina e o festival Eid al-Fitr é celebrado.
O momento exato é baseado nas fases da lua.
Durante mais de um milênio, os muçulmanos usam o jejum como um lembrete biológico da necessidade de solidariedade humana durante o feriado. Quase um quarto da população mundial é muçulmana e muitos, ano após ano, ainda levantam esta bandeira em cada Ramadã.
Mas para os palestinos que vivem sob a ocupação israelense a celebração deste feriado mais importante só pode ser feita através de imensas dificuldades. Os moradores de Gaza dizem que falta quase tudo, sobretudo a trégua que muitos esperavam para o mês sagrado.
O clima não é o habitual para o Ramadã: nos últimos anos, os preparativos já estavam a todo vapor uma semana antes, com casas iluminadas com lâmpadas coloridas e lojas abertas a noite toda. Em 2024 não é assim. Em Rafah, fronteira com o Egito, as pessoas vivem em abrigos ou acampamentos em condições precárias, longe de casa e sem eletricidade, gás, combustível e cozinha.
Pesa também a dor pelos familiares mortos. Não há enfeites, os produtos nas lojas custam 10 vezes o preço normal, e não se encontra doces porque não há açúcar no mercado.
As pessoas em Gaza estão enfrentando a fome, e os habitantes do sul da região têm parentes no norte, onde a situação é ainda pior e os moradores lutam por pacotes de alimentos atirados do céu.
Mas há também outra questão que preocupa as pessoas em relação ao Ramadã: se Israel e o Hamas fizerem uma trégua, as pessoas deslocadas poderão regressar às suas casas e viver, de alguma forma, o mês sagrado do Islã em condições normais?
Cercada por imponentes muros de arame farpado, a população de Gaza vive todos os dias sitiada no que muitos chamam de “a maior prisão ao ar livre do mundo”. Desde o bloqueio ilegal israelense em junho de 2010, que impede os habitantes de Gaza de deixarem a cidade e impede qualquer apoio internacional chegar, a crise humanitária em Gaza tornou-se grave.
Metade dos 1,8 milhões de habitantes de Gaza são crianças, todas sujeitas à prisão de Israel; 38% dos palestinos vivem na pobreza, 54% sofrem de insegurança alimentar e 35% das terras agrícolas de Gaza estão total ou parcialmente inacessíveis devido à ocupação.
O Exército israelense destruiu 192 mesquitas na sitiada Faixa de Gaza desde 07 de outubro, informaram os meios de comunicação de Israel.
Em novembro passado, aviões de guerra lançaram ataques à histórica Mesquita Omari, em Gaza, destruindo grande parte dela. Fundada há mais de 1.400 anos, a mesquita é considerada uma das maiores e mais antigas de Gaza e a terceira maior da Palestina Ocupada, depois da Mesquita Al-Aqsa e de Ahmed Pasha Al-Jazzar, em Akka.

Histórico da intolerância religiosa no Ramadã
Durante o Ramadã de 2014, a ocupação israelense lançou 280 bombas sobre a população de Gaza, principalmente em zonas residenciais, matando mais de 500 crianças. Numa época em que o Adhan, o chamado muçulmano à oração, e as risadas das crianças deveriam ter enchido as ruas à noite, eles foram desfilados pelos sons da morte.
Em 2021 não foi diferente, soldados israelenses invadiram Aqsa, expulsando fiéis, lançando gás lacrimogêneo e cometendo atos de violência; estes acontecimentos levaram a uma guerra violenta em Gaza. Israel sabe que um afluxo de muçulmanos de toda a Palestina visita locais de culto, por isso atacam os visitantes fora da mesquita ou simplesmente impedem as pessoas de entrar pela Porta de Damasco.
Esta violência continuou em 2022. Uma menina surda de 11 anos foi hospitalizada depois de ser ferida por uma granada de efeito moral enquanto se preparava para o Ramadã.
Os ataques noturnos israelenses também se tornaram cada vez mais comuns durante o Ramadã. As Forças de Ocupação de Israel têm realizado em cidades palestinas desde 1967, com intenção de desorientar as famílias enquanto tentam demolir as suas casas, ou para desmantelar os seus movimentos em direção à libertação.
Para além da brutalidade física da ocupação, Israel controla a grande maioria da água palestina e os colonos israelenses queimam terras agrícolas e oliveiras com o apoio dos militares. As tâmaras Medjool, de fazendas de palestinos em Jericó, são frequentemente roubadas pela ocupação, reembaladas e comercializadas como “tâmaras israelenses autênticas”. Enquanto jejuam e aguardam o pôr do sol, os palestinos não têm acesso a alimentos, água ou produtos da terra.
No ano passado, Israel aumentou a vigilância, exigindo que os soldados “etiquetassem” os palestinos para os localizar e monitorar. Esta política intensificou a utilização de postos de controle militares, colocando mais soldados e impedindo acesso à Mesquita de Al-Aqsa durante o Ramadã.
30.000 mortos na Faixa de Gaza em feriado sagrado
A guerra iniciada pelo ataque do Hamas a Israel, em 07 de outubro, matou 31.045 palestinos, a maioria mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, onde vastas áreas foram reduzidas a um deserto bombardeado.
Semanas de conversações envolvendo mediadores dos Estados Unidos, Catar e Egito visam uma trégua de seis semanas e a libertação de muitos dos reféns feitos em 07 de outubro e que os militantes ainda mantêm. Em troca, Israel libertaria os prisioneiros palestinos detidos nas prisões israelenses.
O objetivo era interromper os combates no início do Ramadã.
(*) Com informações Ansa.