Os Estados Unidos afirmaram à Corte Internacional de Justiça (CIJ), sediada em Haia, que ela não deveria ordenar a retirada imediata das tropas de Israel do território palestino sem garantias de segurança. A declaração foi dada nesta quarta-feira (21/02), em mais uma semana de audiências que tem como objetivo examinar a legalidade da ocupação israelense, incluindo a avaliação de 52 países que deverão se posicionar sobre a guerra, até a próxima segunda-feira (26/02).
“Qualquer conduta direcionada à retirada de Israel da Cisjordânia e de Gaza requer consideração devido às necessidades de segurança muito reais”, disse Richard Visek, consultor jurídico interino do Departamento de Estado norte-americano, ao mais alto tribunal da ONU.
O representante de Washington ainda recordou a primeira ofensiva do Hamas, em 7 de outubro, para sustentar seu argumento.
“O tribunal não deve considerar que Israel é legalmente obrigado a se retirar imediata e incondicionalmente do território ocupado”, defendeu Visek, apontando a criação de dois Estados como possível uma solução para a guerra em curso, que já deixou quase 30 mil palestinos mortos.
“A crise atual ilustra a necessidade vital de alcançar essa paz final com um Estado palestino vivendo com segurança ao lado de um Israel seguro, totalmente integrado na região”, concluiu.
Rússia: 'Israel deve pôr fim às violações'
Por outro lado, a Rússia defendeu “o tribunal estaria certo ao concluir que Israel tem o dever de pôr fim às suas atuais violações do direito internacional e fornecer reparações”, acrescentando a necessidade de interromper as atividades de assentamento em terras palestinas.
O discurso de Vladimir Tarabrin embaixador da Rússia na Holanda, centralizou-se nas críticas contra a política de expansão dos colonatos de Israel, ao afirmar que tais ações desafiam as resoluções do Conselho da ONU e violam o direito à propriedade, à liberdade de circulação e a uma vida adequada.
“A ocupação precisa cessar. Outro problema fundamental são as atividades dos colonatos israelenses. Esta política levou ao encolhimento progressivo das terras palestinas”, afirmou o representante russo.
Tarabrin resumiu o sofrimento do povo palestino condenando a ofensiva do Hamas a Tel Aviv, mas também definindo a retaliação israelense como uma “punição coletiva injustificável”.
“Não podemos aceitar a lógica daqueles responsáveis em Israel e em alguns países ocidentais que tentam defender a violência indiscriminada contra civis referindo-se ao dever de Israel de proteger os seus cidadãos. A violência só pode levar a mais violência. O ódio traz ódio. Este círculo vicioso deve ser quebrado”, posicionou-se o embaixador.
Twitter/ Arab News
EUA defendem presença de Israel em terras palestinas, enquanto Rússia condena política colonialista
Egito: 'Estado palestino viável nas linhas anteriores de 1967'
A representante legal Jamine Moussa do Egito, país que tem desempenhado um papel fundamental nas negociações entre Israel e os palestinos, classificou as operações israelenses como “uma violação contínua do direito internacional” provindas de uma “política mais ampla destinada a desapropriar os palestinos de suas terras”.
Moussa entende que Israel busca “alterar permanentemente a composição demográfica do território palestino ocupado e estender a soberania israelense sobre ele”.
“Isso está associado à transferência forçada em massa de Israel e ao deslocamento forçado dos palestinos em Gaza por meio de suas ordens ilegais de evacuação e uso indiscriminado da força”, disse a representante egípcia.
Egito, mais uma vez, renovou seu apelo para o “estabelecimento de um Estado palestino viável nas linhas anteriores a 1967, com Jerusalém Oriental como sua capital”.
Semana de audiências em Haia
As audiências começaram nesta segunda-feira (19/02), com três horas de depoimentos de autoridades palestinas que acusaram Israel de administrar um sistema de “colonialismo e apartheid”.
Na ocasião, o ministro das Relações Exteriores palestino, Riyad al-Maliki, pediu aos juízes que peçam o fim da ocupação “imediatamente, total e incondicionalmente”.
Ao tribunal, o embaixador da África do Sul na Holanda considerou as políticas de Tel Aviv “mais extremas” do que o apartheid que os sul-africanos negros sofriam antes de 1994.