A polêmica surgida após a declaração do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva comparando a política israelense contra os palestinos residentes na Faixa de Gaza ao extermínio de judeus na Alemanha nazista e a reação de repúdio das autoridades de Tel Aviv tem sido comentada pelos jornais do mundo inteiro.
“As mais altas autoridades do Estado [de Israel] reagiram com raiva ao que veem como um ataque direto a Israel, aos judeus em geral e ao direito de se defender. Tudo isto, no mesmo dia em que o número de palestinos mortos no enclave mediterrânico ultrapassou os 29 mil, segundo as autoridades de saúde locais”, escreveu o jornal espanhol El País, acrescentando que as operações militares israelenses em Gaza continuam “acendendo faíscas na esfera internacional”.
A reportagem também explicou que o crime de genocídio surgiu do extermínio de seis milhões de pessoas durante a Segunda Guerra Mundial, e que o Museu do Holocausto foi construído nesse âmbito.
“À sombra das mais de 29 mil vidas palestinas ceifadas pelas tropas israelenses em Gaza, a comunidade internacional voltou a colocar o termo genocídio na mesa. A Corte Internacional de Justiça, com sede em Haia, considerou no final de janeiro ‘plausível’ que Israel esteja cometendo ações que constituem tal crime internacional”, ressaltou o meio.
O jornal argentino Página/12 qualificou as declarações do petista como “as mais contundentes proferidas até agora sobre o conflito por Lula, um importante representante dos países do sul global e que ocupa a presidência rotativa do G20”. O veículo do país platino ainda destacou que o Hamas “parabenizou” as falas de Lula, que são “uma descrição exata do que seu povo sofre” em Gaza e revelam “a magnitude do crime” cometido por Israel “com o apoio aberto da gestão Biden”.
Já o jornal The New York Times, um dos mais renomados nos Estados Unidos, publicou uma matéria intitulada ‘Presidente do Brasil irrita Israel após comparar guerra em Gaza ao Holocausto’. A reportagem escreve que Lula “atraiu a ira das autoridades israelenses” no dia anterior por comparar as ações de Israel na guerra “contra o Hamas” ao Holocausto, detalhando que o nazismo resultou na morte de seis milhões de judeus na Europa durante a Segunda Guerra Mundial.
O veículo norte-americano reservou três parágrafos para apresentar o posicionamento das autoridades israelenses, citando o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o presidente do memorial do Holocausto em Israel Dani Dayan, e apenas três linhas para relatar a reação solidária do Hamas sobre a declaração de Lula que “indignou” Tel Aviv.
Reprodução/Palácio do Planalto
Declarações de Lula sobre o conflito são as 'mais contundentes', diz jornal argentino Página/12
Por outro lado, o canal de televisão russo RT se referiu à postura do chanceler israelense como sendo um “ataque” contra o presidente brasileiro. O veículo ainda mencionou a contraofensiva de Celso Amorim, o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República brasileira, que classificou a postura israelense de “absurda”:
“Só aumenta o isolamento de Israel. Lula é procurado no mundo inteiro e no momento quem é [persona] non grata é Israel”, escreveu o RT, citando as palavras de Amorim.
Em relato breve, a emissora catari Al Jazeera noticiou que Israel “acusou” Lula pelas declarações, e reproduziu o recado dado por Katz ao embaixador do Brasil por meio de um comunicado emitido pelo seu próprio gabinete:
“Não esqueceremos nem perdoaremos. É um ataque antissemita grave. Em meu nome e em nome dos cidadãos de Israel – diga ao presidente Lula que ele é persona non grata em Israel até que o retire”, afirmou o chanceler israelense, em nota.
Por que Lula foi declarado ‘persona non grata’?
No domingo (18/02), durante entrevista em Adis Abeba, na Etiópia, onde participou nos últimos dias da 37ª Cúpula da União Africana e de reuniões bilaterais com líderes do continente, Lula associou “o que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino” ao movimento nazista de quando “o Hitler resolveu matar os judeus”. O presidente brasileiro também negou que a situação no território palestino se configure como guerra somente, mas sim como “genocídio”:
“Não é uma guerra de soldados contra soldados. É uma guerra entre um exército altamente preparado e mulheres e crianças”, declarou o mandatário.
A reação do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu foi imediata, ao descrever as palavras do petista como “vergonhosas e alarmantes” e considerá-las “uma banalização do Holocausto”.
Em seguida, o ministro das Relações Exteriores Israel Katz decidiu “convocar imediatamente” o embaixador do Brasil em Tel Aviv, Frederico Meyer, para expressar sua “repreensão” às declarações de Lula.