Milhares de irlandeses foram às ruas no sábado (18/11) para exigir o cessar fogo na Faixa de Gaza, dando uma clara demonstração de solidariedade ao povo palestino, que vem sendo bombardeado pelo Exército israelense desde o dia 7 de outubro, quando o Hamas atacou a região sul de Israel.
Uma multidão se espremeu nas estreitas avenidas das duas maiores cidades da ilha, a capital Dublin, que tem cerca de 1,5 milhão de habitantes, em todo o condado, e Belfast, que faz parte do Reino Unido e tem 290 mil moradores.
Na capital, a mobilização deste sábado começou com uma concentração num local bastante simbólico: o Jardim da Memória, homenagem às vítimas da Revolta de 1916, que culminou na independência da Irlanda, que era colonizada pela Inglaterra. Este foi o sexto sábado seguido de manifestações promovidas pela Ireland-Palestine Solidarity Campaign (Campanha de Solidariedade Irlanda-Palestina), com a participação de membros dos partidos People Before Profit (Pessoas antes do lucro), Labour Party (Partido Trabalhista), Social Democrats (Social Democratas), Sinn Féin, entre outras organizações.
Além de pedirem pelo cessar fogo imediato, as organizações denunciaram que o Aeroporto de Shannon, no Condado de Clare, no sul da Irlanda, estaria sendo usado como escala pelos militares dos Estados Unidos, para transportar armamento para o Exército israelense. Desde o dia 6 de novembro, ativistas ocupam parte do Departamento de Transporte de Dublin, exigindo o fim do uso de solo irlandês pelos militares norte-americanos.
Na quarta-feira (15/11) à noite, outro ato que reuniu milhares na porta do Parlamento pedia a expulsão da recém nomeada embaixadora de Israel, Dana Erlich. Eles pressionavam para que os parlamentares aprovassem moção dos sociais democratas. Por 85 votos a 55, a decisão foi pela permanência dela no país. Outra moção, essa do Sinn Féin, para que Israel seja submetido ao Tribunal Penal Internacional, também foi derrotada por 77 votos a 58.
Recentemente, o governo irlandes fez um apelo ao secretário-geral da ONU, António Guterres, pelo cessar-fogo para permitir que ajuda humanitária chegasse à população. Porém, disse que expulsar a embaixadora significaria cortar relações diplomáticas com o país, resultando no corte de um importante canal de comunicação.
Enquanto todos ainda se preparavam para ir ao ato deste sábado, 24 irlandeses que estavam em Gaza desembarcaram no Aeroporto de Dublin. Eles conseguiram deixar a região pela passagem de Rafah, na noite de sexta-feira (17/11). Alguns deles estavam presentes no ato.
O ator irlandês Liam Cunningham, de Game of Thrones, esteve no protesto e declarou à TV pública irlandesa RTE: “estamos aqui para acabar com a violência e pedir uma solução política”.
Deborah Moreira
Protesto em Belfast em solidariedade ao povo palestino
Muitos brasileiros também integraram o protesto, como a estudante Priscila Rosa dos Santos Tesch, 36 anos, que há cinco anos mora na cidade. “Foi a maior mobilização de todas até agora. Alguns estimam que reunimos quase 100 mil. Como as ruas daqui são estreitas é mais difícil ter uma visão de todo o conjunto de pessoas. Mas estamos muito satisfeitos com a adesão de hoje”, disse a ativista que é ligada ao People Before Profit.
Organizadores e a polícia local não divulgaram informações oficiais sobre a quantidade de pessoas. Contudo, dezenas de perfis de pessoas estão repostando vídeos e fotos do protesto em Dublin, bem como o de Belfast, cujas imagens estão viralizando. Uma das organizações responsáveis, Mother's Against Genocide (Mães Contra o Genocídio), levou para as ruas varais com roupas de bebês e crianças penduradas, simbolizando suas mortes.
As mães carregavam cartazes com os nomes das crianças mortas entre 7 de outubro a 6 de novembro. Contudo, foi uma ação para chamar a atenção de todas as 4.630 crianças mortas – dados do Ministério da Saúde de Gaza.
“Pela memória de todas as pessoas assassinadas desde o dia 7 de outubro em Gaza, hoje estendemos essas roupas. Para lembrar que crianças estão sendo brutalmente assassinadas. Quando uma mãe perde um filho, o único conforto é a preservação de sua memória. Mas algumas dessas mães palestinas nunca superarão isso”, disse Nuala Ní Scolláin, integrante da organização. “Não importe quem você é ou de que lugar você é. Se você consegue assistir ao que está acontecendo e permanecer calado, então você não tem alma”, concluiu.
Pelo continente
Escoceses, franceses e ingleses também marcharam pela Palestina. Nem mesmo uma chuva forte espantou os manifestantes em Paris. Diversas lideranças sindicais discursaram ao longo de toda a passeata. Cidades menores também registraram marchas, como Marselha, onde centenas fizeram um minuto de silêncio pelas vítimas.
Agências internacionais noticiaram que em Toulouse mais de 1.200 pessoas participaram de uma marcha.
Protestos menores foram vistos no Reino Unido, em comparação com o sábado passado (11/11), quando cerca de 300 mil pessoas se reuniram em prol da causa palestina, em Londres.
Em Glasgow, a maior cidade da Escócia, os manifestantes se reuniram no extremo leste da cidade. Diversos atos têm ocorrido em cidades menores, em todos os fins de semana desde quando iniciaram a nova ofensiva israelense. A pressão popular está surtindo efeito. O governo escocês declarou que fará um debate sobre o tema, após os deputados em Westminster terem votado contra um cessar-fogo.