Desde o ataque do Hamas em Israel, em 7 de outubro, os confrontos na fronteira entre o país e o Líbano aumentaram de maneira significativa. A ameaça levou as autoridades israelenses a anunciarem uma medida rara nesta sexta-feira (20/10): a retirada dos habitantes da cidade de Kiryat Shmona. As Forças Armadas de Israel se preparam para uma segunda frente de batalha, dessa vez contra o Hezbollah libanês pró-iraniano e aliado do Hamas.
Kiryat Shmona é uma cidade limítrofe à fronteira libanesa que tem aproximadamente 25.000 habitantes. “Esperamos ter mais informações para saber para onde ir”, disse à AFP por telefone, nesta sexta-feira, a moradora Lianne Abutbul, de 16 anos.
“Aqui, a última casa fica a 150 metros da fronteira, então tivemos o plano de evacuação e as pessoas preocupadas foram embora”, explica Yossef Luchy, diretor do conselho local de Shlomi, outra cidade limítrofe, e ex-comandante chefe do Distrito Norte de Israel. Ele afirma que 7.000 dos 9.000 moradores do município foram deslocados nos últimos 10 dias.
Além dos tiros entre o Hezbollah e o Exército israelense, ataques vindos do Líbano foram reivindicados pelo Hamas.
O Ministério da Defesa pediu, na segunda-feira (16/10), que os residentes de 28 cidades e kiboutz situados a menos de dois quilômetros da linha azul que separa Israel do Líbano fossem retirados. Mas moradores de cidades mais distantes também decidiram deixar o local, de acordo com jornalistas da AFP.
O Instituto Israel Democracy acredita que pelo menos 300.000 pessoas foram retiradas de seu domicílio em Israel, desde o começo da guerra.
“Aqui, os que permanecem, são na maioria ex-militares e nos preparamos constantemente, estamos sempre vigiando os abrigos, nos ajudamos”, disse Luchy.
Entre os 360.000 reservistas convocados por Israel, muitos foram posicionados ao longo dos 120 quilômetros da fronteira.
Ataque a posições israelenses
Dois soldados morreram terça-feira (17/00) em um ataque de posições militares israelenses perto do Líbano, segundo o Exército. Nesta sexta-feira, eles foram novamente alvo de tiros perto da cidade agrícola de Margaliot, também na fronteira, de acordo com a mesma fonte. O Exército diz ter revidado e busca suspeitos no setor.
Wikicommons
Cidade de Kiryat Shmona, no norte de Israel, faz fronteira com sul do Líbano, onde tem ocorrido embates da guerra
As Forças Armadas israelenses também atiraram em três homens que seriam membros do Hezbollah, enquanto atiradores de elite visaram homens armados “operando na área da fronteira”, segundo um outro comunicado militar.
Do outro lado da fronteira, no sul do Líbano, ao menos 22 pessoas foram mortas em violências desde 7 de outubro, a maioria combatentes, mas também pelo menos quatro civis, entre eles um jornalista da agência Reuters, Issam Abadallah.
No norte de Israel, os reservistas recrutados mostram determinação. Questionado pela AFP na estrada, um deles, que pediu anonimato, disse estar “pronto para lutar” porque “os judeus não têm outro país”.
Contradição
Os poucos habitantes de Kiryat Shmona que permaneceram na cidade mostram sentimentos contraditórios. A maioria diz que fica com medo quando ouve sirenes de alerta de foguetes.
Lianne Abutbul diz que quando o Iron Dome – o sistema antimíssil de Israel – interceptou foguetes na quarta-feira (18/10), “detritos caíram a dois quarteirões da minha casa, no pátio de uma escola”, diz. “Poderiam ter matado crianças, é realmente assustador”, acrescenta ela antes de especificar que Israel tem um exército “poderoso”. Seus dois irmãos estão destacados em operações israelenses.
Na região, as guerras com o Líbano, em 2006 e 1982, ainda estão presentes na mente dos moradores e memoriais em homenagem aos mortos nos conflitos pontuam a paisagem.
Aos 72 anos, Yaacov Kozikaro, que vive perto da fronteira desde 1961, afirma saber imitar perfeitamente o som dos foguetes do tipo Katyusha disparados pelo Hezbollah.
Kozikaro diz que está tentando “levar as coisas com calma”, apesar dos “maus vizinhos” de Israel. “Esta não é a primeira nem a última guerra”, diz ele rindo, antes de acrescentar que não tem planos de partir.
Quinta-feira à noite, projéteis disparados do Líbano atingiram uma casa, ferindo levemente dois homens e uma menina de 5 anos, segundo o Exército.
Mais de 1.400 pessoas foram mortas em Israel por combatentes do Hamas desde 7 de outubro, a maioria civis, segundo as autoridades israelenses. Na Faixa de Gaza, mais de 4.100 palestinos, a maioria civis, morreram na retaliação do exército israelense, segundo o Hamas.