O governo de Israel declarou que não aprovará mais nenhum comboio de assistência humanitária administrado pela Agência das Nações Unidas para Refugiados Palestinos (UNRWA) e destinado ao norte da Faixa de Gaza, informou o comissário-geral do órgão, Phelippe Lazzarini, neste domingo (24/03), em rede social.
“É ultrajante [e] torna intencional obstruir a assistência para salvar vidas em meio a uma fome provocada pelo homem. Estas restrições devem ser suspensas”, repudiou o representante.
📍# Gaza: as of today, @UNRWA, the main lifeline for #Palestine Refugees, is denied from providing lifesaving assistance to northern Gaza.
Despite the tragedy unfolding under our watch, the Israeli Authorities informed the UN that they will no longer approve any @UNRWA food… pic.twitter.com/lfp9xRQuh1
— Philippe Lazzarini (@UNLazzarini) March 24, 2024
Segundo o comissário-geral da agência, a medida israelense poderá causar ainda mais mortes por fome e desidratação.
Na semana anterior, a Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês), um órgão que avalia a gravidade da insegurança alimentar em nível global, estimou que a fome, especialmente no norte do enclave, poderá se prolongar até o mês de julho.
Ainda de acordo com o IPC, 70% do total de 1.1 milhão de palestinos abrigados naquela região já estão sofrendo o estágio mais grave de escassez de alimentos. Trata-se de uma taxa superior do que o triplo do limite de 20% para ser considerado como situação de fome.
Suspensão de financiamento dos EUA
Lazzarini também criticou a decisão norte-americana de cortar os repasses para a agência da ONU. Na sexta-feira (22/03), a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou um projeto de lei de financiamento no valor de US$ 1.2 trilhão que proíbe o repasse à UNRWA até março de 2025.
O comissário-geral do órgão expressou que tal medida terá sérias implicações para os palestinos em Gaza.
“Em Gaza, a comunidade humanitária está correndo contra o relógio para evitar a fome. Como espinha dorsal da resposta humanitária, qualquer lacuna no financiamento à UNRWA comprometerá o acesso a alimentos, abrigo, cuidados de saúde primários e educação em um momento de trauma profundo”, escreveu Lazzarini na plataforma X.
The US foreign aid spending bill for 2024 limits funding to @UNRWA until March 2025.⁰This decision will have implications for Palestine Refugees in #Gaza & the region.⁰⁰I appreciate our committed supporters in the US Congress who advocated on behalf of UNRWA during this…
— Philippe Lazzarini (@UNLazzarini) March 24, 2024
“Os refugiados da Palestina estão contando com a comunidade internacional para que intensifiquem o apoio e atendam às suas necessidades básicas”, acrescentou o representante.
Acusação israelense contra funcionários da UNRWA
Os Estados Unidos são os principais doadores da agência destinada aos palestinos refugiados em Gaza. No entanto, o país decidiu cortar seu auxílio após Israel ter alegado, na última semana de janeiro, suposto envolvimento de funcionários da agência com os ataques do Hamas em 7 de outubro.
Na ocasião, a reação da UNRWA diante da acusação, junto com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, foi imediata. As autoridades da ONU se mobilizaram e abriram investigações dentro da agência. Dos 12 funcionários acusados por Israel, nove acabaram sendo demitidos.
Por outro lado, a denúncia israelense também mobilizou diversos países ocidentais, além dos Estados Unidos, que decidiram bloquear repasses à UNRWA, gerando uma preocupação ainda maior por parte da agência, que já vinha relatando escassez de recursos e apelando por mais auxílio internacional.