O governo de Israel prepara um projeto pelo qual pretende promover uma política de repovoamento da Faixa de Gaza, após o fim da ofensiva militar, supondo o controle do território por parte de Tel Aviv a partir de então.
A proposta foi apresentada neste domingo (31/12) pelo ministro das Finanças do país, Bezalel Smotrich, e difundida pelo jornal local Haaretz.
Segundo Smotrich, o objetivo do projeto é aproveitar um eventual controle israelense em Gaza após a guerra contra o Hamas para diminuir enormemente a proporção de árabes vivendo na região.
“Se houver 100 mil ou 200 mil árabes (em Gaza), em vez de dois milhões, tudo seria diferente (na relação entre Israel e o território palestino)”, justificou o ministro, que completou o raciocínio dizendo que “para controlar militarmente o território ao longo do tempo, também é necessário ter uma presença civil”.
Até a escalada da guerra, em outubro de 2023, viviam em Gaza cerca de 2,1 milhões de pessoas. Para levar a cabo uma proposta como essa, o governo de Israel deverá realizar um deslocamento massivo da população de Gaza, já que cerca de 90% dos residentes no território são árabes, segundo estimativas das autoridades palestinas locais.
Em outro momento da entrevista, o ministro Smotrich tentou definir o objetivo do projeto com um termo que causou polêmica, por utilizar uma expressão que pode ser interpretada como racista.
“A maior parte da sociedade israelense dirá: ‘por que não? É um lugar lindo, vamos fazer o deserto florescer’”, disse o ministro israelense. Em seguida, acrescentou que a iniciativa inclui uma campanha para “encorajar a imigração” de israelenses para o território.
Middle East Monitor
Smotrich quer que governo de Netanyahu promova retirada da população palestina do local
Smotrich é membro do Partido Religioso Sionista, setor fundamentalista religioso (até no nome) da coalizão de extrema direita que sustenta o governo de Netanyahu.
Ele não é o primeiro integrante do governo de Netanyahu a defender a retirada dos palestinos de Gaza. Em novembro passado, a chefe do Ministério da Inteligência, Gila Gamliel, disse que era preciso realizar um processo de “reassentamento voluntário” da região.
Reação palestina
Tanto os líderes do Hamas (que governa a Faixa de Gaza) quanto figuras ligadas à Autoridade Nacional Palestina (ANP, que controla a Cisjordânia) repudiaram as declarações do ministro das Finanças de Netanyahu.
Em comunicado, o Hamas qualificou as declarações de Smotrich como “um crime de guerra acompanhado de agressão criminosa”.
Por sua vez, o presidente da ANP, Mahmoud Abbas, afirmou que a medida revela a intenção do governo de Netanyahu de obrigar os palestinos a abandonarem as suas casas.
“Não permitiremos deslocamentos, nem da Faixa de Gaza nem da Cisjordânia”, ressaltou Abbas, que prometeu apelar à comunidade internacional para denunciar o projeto israelense.
Com informações do Haaretz.