O governo do Catar anunciou que as negociações para conseguir um cessar-fogo entre Israel e o movimento fundamentalista islâmico Hamas na Faixa de Gaza continuam.
A informação foi divulgada pela imprensa israelense nesta terça-feira (12/03), citando o Ministério das Relações Exteriores do Catar.
O Catar, assim como o Egito e até os Estados Unidos, tentam intermediar um acordo entre Israel e Hamas para um cessar-fogo nos conflitos na Faixa de Gaza, incluindo a libertação de reféns, no momento em que a pressão cresceu depois da morte de dezenas de palestinos que estavam em busca de ajuda humanitária.
Neste domingo (10/03) o dirigente do Hamas, Ismail Haniyeh, culpou Israel por dificultar as negociações de cessar-fogo e rejeitar a exigência do Hamas de encerrar a guerra em Gaza, mas disse que o grupo palestino ainda busca uma solução diplomática. Haniyeh disse que Israel ainda não se comprometeu a pôr fim à sua ofensiva militar, retirar as suas forças e permitir que os palestinos deslocados regressem às suas casas na Faixa de Gaza.
“Não queremos um acordo que não acabe com a guerra em Gaza”, disse Haniyeh num discurso televisionado, um dia antes do início do mês sagrado muçulmano do Ramadã.
“O inimigo ainda se recusa a dar garantias e compromissos claros sobre a questão do cessar-fogo e de parar a guerra agressiva contra o nosso povo”, acrescentou.
Haniyeh disse que o seu grupo está determinado a defender o seu povo e, ao mesmo tempo, a procurar uma solução pacífica.
“Hoje, se recebermos uma posição clara dos mediadores, estamos prontos para prosseguir com a conclusão do acordo e mostrar flexibilidade na questão da troca de prisioneiros”, disse Haniyeh.
Haniyeh disse que seu grupo está aberto a formar um governo de unidade com o movimento rival Fatah do presidente palestino Mahmoud Abbas e outras forças políticas palestinas. Ele disse que os passos rumo a esse objetivo poderiam incluir a eleição de um Conselho Nacional Palestino e a formação de um governo interino de consenso nacional com “tarefas específicas” até à realização de eleições legislativas e presidenciais. Os esforços para reconciliar os dois grupos e acabar com as divisões que pioraram após a tomada de Gaza em 2007 pelo Hamas falharam. A autoridade de Abbas para governar foi desde então reduzida à Cisjordânia ocupada por Israel.
Contudo, o país mediador também frisa que “Israel e o movimento islâmico palestino Hamas não estão perto de chegar a um acordo sobre uma trégua na Faixa de Gaza e a libertação de reféns”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar.
“Não estamos perto de um acordo, o que significa que não vemos os dois lados convergindo numa linguagem que possa resolver o atual desacordo sobre a implementação de um acordo”, disse Majed al-Ansari durante uma coletiva de imprensa, acrescentando que as conversações entre as partes continuavam, pouco mais de cinco meses após o início da guerra entre Israel e o Hamas.
Apesar das novas discussões no início de março no Cairo, os três países mediadores – Estados Unidos, Catar e Egito – não conseguiram garantir um acordo de trégua acompanhado da libertação dos reféns mantidos em Gaza desde o início da guerra.
Todas as partes “continuam a trabalhar através de negociações para chegar a um acordo, esperançosamente, durante o Ramadã”, que começou esta semana, disse Ansari. No entanto, acrescentou que não foi capaz de “propor um calendário” para um acordo de trégua, sublinhando que o conflito continua “muito complicado”.
A guerra foi desencadeada em 07 de outubro por um ataque de escala sem precedentes levado a cabo por comandos do Hamas infiltrados de Gaza no sul de Israel, em retaliação, Israel prometeu aniquilar o movimento islâmico, no poder em Gaza desde 2007, que considera uma organização terrorista juntamente com os Estados Unidos e a União Europeia. O seu exército lançou uma ofensiva que até agora deixou 31.184 pessoas mortas na Faixa de Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde palestino.
Segundo Israel, 130 reféns ainda estão em Gaza, 31 dos quais se acredita terem morrido, das cerca de 250 pessoas raptadas em 07 de outubro.
No final de novembro passado, uma trégua negociada com a ajuda do emirado do Golfo permitiu a libertação de 105 pessoas em troca de 240 prisioneiros palestinos.
Em meio ao conflito, mais de 70 mil pessoas ficaram feridas. Quase 2 milhões de civis foram deslocados. Metade da população está morrendo de fome. Os médicos de Gaza têm alertado que a crescente fome em Gaza está “transformando as crianças em esqueletos”.
Durante quase cinco meses, e apesar dos apelos internacionais para permitir a entrada de ajuda em Gaza, Israel privou a Faixa sitiada de alimentos, água e medicamentos. Fechou a passagem de Rafah com o Egito, enquanto colonos e soldados israelenses continuam bloqueando caminhões de ajuda na passagem fronteiriça de Kerem Shalom, em Israel. Entretanto, multidões de colonos israelenses, que têm exigido autorização para reassentar Gaza, violaram a passagem de Erez, perto do muro fronteiriço com Gaza, numa tentativa de construir colonatos sobre as ruínas dos palestinos deslocados.