A relutância do primeiro-ministro israelense em assumir sua responsabilidade após os ataques realizados pelo Hamas no dia 7 de outubro segue repercutindo em Israel. Após Netanyahu ter postado em suas redes sociais, na madrugada do último domingo (29), que os culpados pelas falhas de segurança são os chefes dos órgãos de defesa e inteligência, o jornal israelense Haaretz clamou em editorial nesta segunda-feira (30) pela deposição do primeiro-ministro através de sua coalizão.
Netanyahu deletou suas postagens logo que a repercussão negativa se tornou patente, e se desculpou – mas o desgaste foi inevitável. Para o Haaretz, “a mensagem que Benjamin Netanyahu publicou em suas contas de mídia social após a meia-noite de sábado, na qual – em meio a uma guerra – ele culpou os chefes da instituição de defesa pelo fracasso de 7 de outubro, exige sua imediata remoção do cargo de primeiro-ministro […] Todos os israelenses, o presidente do Estado, os membros do legislativo, os membros do gabinete e os chefes das instituições de Defesa devem perceber, de uma vez por todas: deixar Netanyahu continuar como primeiro-ministro neste momento decisivo é apostar com o futuro de Israel”.
O editorial chega a dizer: “Todos os crimes políticos de Netanyahu, que são numerosos demais para serem mencionados, são ofuscados por esta ação arbitrária contra os chefes da instituição de defesa em tempo de guerra.” E prossegue: “O seu pedido de desculpas não tem relevância. Não foi feito nem por arrependimento nem em resposta à repreensão de Benny Gantz [ex-ministro da Defesa que se juntou ao gabinete de guerra do governo israelense], que está sempre disposto a sacrificar a sua vida política para tentar salvar Israel do dirigente mais irresponsável da história do Estado.”
Alegando que Netanyahu é incapaz de fazer a coisa certa e renunciar por conta própria, “um conceito que está além da sua compreensão”, o jornal pede para que seu próprio partido e sua coalizão tomem a iniciativa.
O artigo encerra categoricamente: “Netanyahu deve ser afastado do poder imediatamente, num voto construtivo de desconfiança. Yoav Gallant, Yoav Kisch, Gila Gamliel, Yuli Edelstein, Danny Danon, Nir Barkat, Miki Zohar, Avi Dichter, Arye Dery, Moshe Arbel, o futuro do país está em vossas mãos: demonstrem responsabilidade neste momento decisivo e façam o que é correto.”
Hudson Institute / Wikicommons
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, durante evento do Hudson Institute, em setembro de 2016