Os cidadãos norte-americanos têm liderado o aumento da violência dos colonos nos territórios ocupados, além de incentivar uma limpeza étnica de palestinos. No entanto, como titulares de passaportes do país, não podem ser impedidos de entrar nos Estados Unidos, o que aponta que a medida de Washington em proibir a entrada de colonos judeus extremistas no território é “esburacada”.
Muitos dos cerca de 60 mil norte-americanos que vivem na Cisjordânia, fora da Jerusalém Oriental ocupada, mudaram-se para colonatos por terem um estilo de vida distante de onde os palestinos residem. No entanto, os grupos, com motivações ideológicas, construíram colonatos religiosos em terras expropriadas dos palestinos, enquanto outros lideraram a venda de um “movimento de colonização”, descrito como o “terrorismo de colonos”.
Os Estados Unidos anunciaram restrições de viagem à medida que a violência dos colonos contra palestinos desarmados aumentava, além de uma crescente pressão internacional. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 500 palestinos foram mortos na Cisjordânia somente neste ano, incluindo dezenas de crianças. Embora Israel argumente que muitos dos mortos estavam associados a grupos palestinos armados, a entidade internacional rebate dizendo que o Exército trabalha frequentemente com esses colonos que atacam civis árabes.
De acordo com o jornal britânico The Guardian, o presidente da Americans for Peace Now (Americanos por Paz Agora), Hadar Susskind, explica que as milícias de colonos se inspiram em dois norte-americanos famosos pela campanha de violência contra os palestinos: o médico Baruch Goldstein, de Brooklyn, que assassinou 29 fiéis muçulmanos na cidade de Hebron, na Cisjordânia, em 1994; e o rabino Meir Kahane, fundador do partido religioso de extrema direita Kach, que acabou sendo banido em Israel e nos Estados Unidos sob leis anti-terrorismo.
Os norte-americanos representam 15% da população total de colonos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, mas o número não descarta o tamanho da sua influência.
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Norte-americanos assentados por Israel lideram casos de violência em territórios palestinos ocupados
Sara Hirschhorn, autora de um estudo sobre colonos judeus norte-americanos, disse ao The Guardian que eles se distinguem de muitos outros imigrantes judeus que fazem “aliyah”, termo que designa a imigração judaica para a terra de Israel.
“Alguns deles queriam o estilo de vida que viviam em Nova Jersey, que não era o estilo de vida de Israel há 20 ou 30 anos, então construíram ele nos colonatos”, explicou Hirschhorn, acrescentando que a maior parte chegou cerca de uma década depois da guerra de 1967 e o início da ocupação da Cisjordânia.
“Eles trouxeram um conjunto de valores e táticas progressistas que não consideravam abandonar quando vieram para Israel. Eles esperavam que esses assentamentos fossem realmente uma cidade sobre uma colina, como um farol brilhante para o resto do mundo. Esta é realmente a forma como os norte-americanos viam o seu projeto nos territórios ocupados”, disse Hirschhorn.
No entanto, essa ilusão foi eliminada pela eclosão da primeira intifada em 1987, a revolta palestina contra a ocupação e a expropriação das suas terras, quando os imigrantes já não podiam evitar o confronto com a realidade do projeto de colonato.
“Alguns optaram por abandonar o seu caminho progressista. Alguns optaram por tentar viver com uma sensação de dissonância cognitiva após a primeira intifada”, explicou a especialista.
Hirschhorn estima que outros 100 mil colonos norte-americanos vivem na Jerusalém Oriental ocupada e nos blocos de assentamentos ao redor da cidade, sendo estes responsáveis pela tomada de lares árabes com auxílio de organizações financiadas.
Embora alguns tenham respondido à intifada com a sua própria violência, os cidadãos de Washington também trabalharam na venda do movimento de colonização ao resto do mundo. Hirschhorn explica essa “operação norte-americana” como uma ferramenta de conexão com o público ocidental “através de vocabulário e valores”, para “transformar radicalmente as relações públicas do movimento de colonos israelenses para o mercado e justificar o projeto para o público ocidental”.
Para a especialista, essa característica teve um impacto importante na política “americanizada” de Tel Aviv, com influência de colonos norte-americanos trabalhando em funções importantes, incluindo no gabinete de primeiros-ministros e principais assessores de membros do parlamento israelense.