Paris realiza uma conferência internacional nesta quinta-feira (09/11) para tentar desbloquear a ajuda humanitária a Gaza, quase impossível em meio aos incessantes bombardeios de Israel desde o ataque do Hamas de 7 de outubro. Tel Aviv não estará representada no evento, promovido pelo presidente Emmanuel Macron, e a maioria dos países árabes não enviará representantes de alto escalão.
O chefe de Estado francês conversou na terça-feira (07/11) com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e voltará a falar com ele em breve, segundo informou a presidência francesa. Também na terça, Macron conversou por telefone com o presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sissi, e com o emir do Catar, o xeque Tamim bin Hamad Al-Thani, cujos países desempenham um papel fundamental na entrega de ajuda na Faixa de Gaza, onde 2,4 milhões de palestinos estão isolados.
Na conferência, a Autoridade Palestina será representada pelo seu primeiro-ministro e o Egito, que fiscaliza o único ponto de passagem para Gaza não controlado por Israel, em Rafah, enviará uma delegação ministerial.
O evento pretende, por um lado, chegar a um diagnóstico comum da situação e “mobilizar todos os parceiros e doadores para responder a estas necessidades”, segundo um conselheiro do presidente francês. Conforme o Ministério das Relações Exteriores francês, as discussões incluirão uma sessão sobre ajuda em termos de alimentos, equipamento médico e energia, “uma questão complicada porque Israel não quer que a gasolina entre na Faixa de Gaza”.
“É muito claro para o presidente que Israel tem o direito de se defender”, afirmou à AFP uma fonte próxima de Emmanuel Macron, mas “hoje, há vítimas demais em Gaza”.
Uma segunda parte do encontro terá como foco as doações e um diálogo sobre o acesso humanitário ao território, que permanece extremamente complicado. “A França contribuirá” com “um aumento das suas contribuições”, afirmou o assessor de Macron.
ONGs pressionam
Outro objetivo, ainda vago, é “operacional”, insiste Paris. O presidente, que abrirá a conferência com um discurso, “espera resultados tangíveis” para “tornar eficazes” as iniciativas bloqueadas pelo cerco israelense e os combates constantes.
Tuca (Arthur)/Twitter
Conferência internacional nesta quinta-feira (09/11) tenta desbloquear a ajuda humanitária a Gaza
Estarão presentes os primeiros-ministros da Grécia, da Irlanda e do Luxemburgo, os presidentes do Conselho Europeu e da Comissão, Charles Michel e Ursula von der Leyen, e a subsecretária de Estado de Segurança Civil americana, Uzra Zeya.
A reunião será acompanhada de perto pelas organizações humanitárias, que denunciam a falta de acesso e a impossibilidade de prestar ajuda enquanto continuam os bombardeios em Gaza. Treze ONGs pediram na quarta-feira um “cessar-fogo imediato”, exigindo “garantia da entrada de ajuda em Gaza e o respeito pelo direito humanitário internacional”.
“O pesadelo em Gaza é mais do que uma crise humanitária, é uma crise da humanidade”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Estimativas da ONU apontam que as necessidades de ajuda para a população de Gaza e da Cisjordânia chegam a 1,2 mil milhões de dólares até ao final de 2023.
Sem declaração conjunta
O pequeno território palestino está sob bloqueio israelense desde o ataque sem precedentes lançado em 7 de outubro pelo Hamas, o movimento extremista islâmico que o controla. O exército israelense vem realizando bombardeios incessantes à região há um mês e, mais recentemente, realizou operações militares terrestres.
Os apelos por “pausas”, “tréguas” ou “cessar-fogo” aumentaram nas últimas semanas, para facilitar o acesso à ajuda e a libertação de mais de 240 reféns capturados pelo Hamas em solo israelense. Mas Benjamin Netanyahu descartou novamente, na quarta-feira, qualquer cessar-fogo sem a libertação dos reféns.
A cúpula do governo francês avalia que “o Hamas provavelmente vai permanecer com os reféns enquanto a operação continuar nas condições atuais. Portanto, a pausa humanitária, parece-nos, também é importante para obter a libertação dos reféns”. No final da conferência, não haverá uma declaração conjunta para não “cairmos” num debate interminável “sobre uma palavra ou outra”, indica a mesma fonte.
“Paris insiste num carácter estritamente pragmático, operacional e humanitário. Não queremos que esta conferência do Eliseu se transforme numa plataforma de condenação de Israel”, aponta uma fonte diplomática europeia.