“O sionismo é parente do nazifascismo”, declarou o jornalista Breno Altman durante o lançamento do livro Contra o Sionismo: retrato de uma doutrina colonial e racista, no Beijódromo (Memorial Darcy Ribeiro) da Universidade de Brasília (UnB), nesta quarta-feira (21/02).
Com mais de 400 pessoas reunidas para o evento, o lançamento do livro contou com o debate “Em defesa do povo palestino”, com a presença da deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL/RS), pela secretária de Juventude da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) Maynara Nafe, pela cientista política Ana Prestes e pela professora do Departamento de Sociologia da UnB Berenice Bento.
Altman, que tem origem judaica e é conhecido por sua postura pró-Palestina, disse que o regime sionista do Estado de Israel não representa apenas a opressão do povo palestino. “O regime sionista não é apenas responsável por tantas décadas de brutalidade, limpeza étnica e extermínio do povo palestino. O regime sionista é também uma maldição pro judaísmo”.
Repercutindo a fala do presidente Lula do último domingo (18/02), quando comparou o massacre Faixa de Gaza com o Holocausto promovido pelo Terceiro Reich na Alemanha nazista, os palestrantes da mesa concordaram que se trata de uma “declaração histórica”. “O que está acontecendo na Faixa de Gaza não existe em nenhum outro momento histórico, aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse o presidente brasileiro em coletiva de imprensa em Adis Abeba, na Etiópia, onde esteve presente para uma reunião da cúpula da União Africana.
Para Altman, Lula tocou no nervo exposto do regime sionista e foi “o primeiro líder político neste momento dramático a fazê-lo abertamente”.
“O nervo exposto do regime sionista, sua 'fonte de legitimidade', é o Holocausto, o morticínio de 6 milhões de judeus. Como pode um regime que tem no Holocausto sua fonte de legitimidade cometer contra um outro povo as mesmas práticas genocidas às quais os judeus foram vítimas?”, acrescentou o fundador de Opera Mundi.
Em entrevista ao Brasil de Fato, a professora Berenice Bento argumentou que a declaração de Lula foi um “turning point” para o contexto do massacre em Gaza: “a imprensa decide que não há mais genocídio e aí a declaração de Lula muda isso”.
Ela explica ainda que as estratégias usadas por Israel em relação ao povo palestino e a estratégia do Estado alemão, do Terceiro Reich, em relação ao povo judeu e aos outros povos, os “indesejados”, são “muito próximas”. “É um desejo de eliminação”, diz.
“E não sou eu quem está falando, são as autoridades israelenses que dizem que palestinos são animais, e que vão matar a todos”, acrescenta a professora, em referência a uma declaração do ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant.
Em 9 de outubro, dois dias após o início do massacre que já dura mais de quatro meses, Gallant disse: “Estamos impondo um cerco total à Gaza. Sem eletricidade, sem comida, sem água, sem gás, tudo bloqueado. Estamos lutando contra animais e agimos em conformidade”.
Flávia Quirino/BDF DF
Jornalista e fundador de Opera Mundi, Breno Altman tem origem judaica e é conhecido por suas posições pró-Palestina
Os números do conflito revelam as consequências da postura adotada por Israel. De acordo com o Ministério da Saúde palestino, pelo menos 29 mil pessoas foram mortas em Gaza até o momento, incluindo 12.300 crianças e 8.400 mulheres. Mais de 7 mil pessoas estão desaparecidas. Na Cisjordânia ocupada, mais de 395 palestinos, entre eles 105 crianças, foram mortos. Mais de 4.450 feridos.
Em Israel, de acordo com as Forças de Defesa israelenses, 1.139 pessoas foram mortas e 8.730 ficaram feridas.
Ainda durante o lançamento, a deputada Fernanda Melchionna defendeu que é preciso respaldar a fala “correta e necessária” de Lula na “denúncia do genocídio”, com contínua pressão e mobilização, para enfrentar a extrema direita em âmbito nacional e internacional. “A extrema direita escolheu a perseguição aos palestinos e o massacre na Faixa de Gaza como a sua cruzada militar, ideológica e política”, disse a parlamentar.
Segundo ela, Lula deveria ir além da declaração, rompendo relações diplomáticas com Israel e revogando acordos comerciais assinados no governo Bolsonaro e aprovados na Câmara dos Deputados dez dias após o início do massacre, em 7 de outubro.
Maynara Nafe, da Fepal, também defendeu a mobilização para sustentar a posição firmada por Lula. “É necessário que estejamos nas ruas, com entendimento sobre o tema. Sem apoio não dá pra fazer movimentações arriscadas”, disse ela.
Reação de Israel
Após a declaração de Lula, na Etiópia, onde ainda instou países ricos a fornecerem mais ajuda a Gaza, expressando preocupação com a crise humanitária na região, o presidente foi considerado “persona non grata” pelo governo de Israel.
Em resposta, o governo brasileiro convocou de volta ao país o embaixador em Tel Aviv “para consultas”, medida que já havia sido tomada pelos governos do Chile e da Colômbia ainda em outubro passado.
Sobre o tema, Altman declarou que Lula deixou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu “nu em praça pública”, ao expor o genocídio, e que por isso, ele e seus “sicários” estão reagindo como “cães raivosos”.
“A ferida exposta está sangrando e por isso reagem de forma brutal”, disse.
O próprio jornalista vem sendo alvo de perseguição judicial por fazer críticas a Israel. Ele chegou a declarar ser vítima de censura e perseguição depois que a Polícia Federal abriu inquérito em dezembro para investigá-lo após uma requisição do Ministério Público Federal (MPF) baseada em uma denúncia da Confederação Israelista do Brasil (Conib).
Berenice Bento, por sua vez, tornou-se alvo de ataques depois que uma página no Instagram acusou-a de antissemitismo e alegou que ela estaria promovendo “discursos de ódio, notícias falsas e distorções de fatos” por defender a Palestina.
Ela também foi alvo de difamação ao ser incluída em uma lista do deputado bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO) de “pessoas identificadas como supostas terroristas” por apoiar o povo palestino.